Fala, galera, beleza? Em tempo de eleições não escolhemos apenas um candidato, mas escolhemos um “país ideal”, projetos e sonhos que desejamos para nossa amada nação. Tudo bem que a mobilidade elétrica não foi o foco em nenhuma das campanhas, porém podemos traçar uma ideia de planos que cada um poderia encabeçar.
De um lado temos uma proposta de fortalecimento do Estado e do outro lado temos a proposta de Estado mínimo e desenvolvimento pelo mercado. Quero trazer ambos os projetos sem julgamento de valor e deixar que cada um entenda qual é a melhor opção.
Estado:
Os principais fatores favoráveis na participação do Estado influenciar são o poder de lei e o alcance territorial. Uma vez decidido, precisa ser realizado e na cobertura determinada. Mas até que seja avaliado, aprovado e executado, já se passou muito tempo.
Nada é tão simples ou rápido quando se fala em Estado, exceto em situação de catástrofe. Enquanto o ente privado, tudo é permitido, exceto o que se proíbe. Para os entes públicos, tudo é proibido, exceto o que a lei preveja.
Para o desenvolvimento de uma infraestrutura de carregamento, precisaríamos de representantes no poder legislativo e executivo que desejem adotar a mobilidade elétrica como causa. Depois seria necessário convencer as demais pessoas para o projeto ganhar corpo, abrir estudos, consultas públicas e inúmeras revisões.
Com projeto em mãos, ainda teríamos a necessidade de debate nas casas legislativas, passando por comissões e plenários. Mesmo com aprovação da maioria, ainda corre o risco de judicialização.
Digamos que tudo corra bem no legislativo, aí teremos os impasses que o executivo precisa passar como regulamentação, abertura de chamamento público, licitação ou mesmo concessão e, por último, a implantação da rede de carregamento. Mas não sem passar por mais alguns processos abertos por empresas que não ganharam a licitação, isso se alguma empresa cumprir os requisitos mínimos ou mesmo demonstrar interesse. E ainda sobra a operação e manutenção.
Claro que temos experiências de grande sucesso. Países como Noruega e China estabeleceram metas bem ousadas que já geram resultados. O principal ponto em comum entre os dois países é que ambos adotaram como política de Estado, não como promessa de governo.
É possível observar que, tanto a Noruega quanto a China, pode-se dizer que viraram a chave, com destaque para Noruega que hoje vende mais carros elétricos do que carros à combustão. Isso se deve ao incentivo na compra de veículos elétricos, penalidades aos veículos à combustão e a certeza de que haverá um carregador em qualquer lugar que for necessário.
Mercado:
Em relação ao mercado, em teoria, tudo é mais simples, basta haver o interesse pelos players envolvidos e (lógico) não ser proibido. Todavia, nenhuma empresa faz caridade, o mercado precisa entender que o projeto é financeiramente e estrategicamente interessante. Não basta ser uma ideia bacana, tem que dar lucro. O investimento só acontecerá também nas regiões que forem alvo de campanhas das empresas, deixando para escanteio grandes áreas que não despertem desejos.
Parece meio simplório, mas resumindo é isso. Se não for proibido, a empresa precisa fazer um belo exemplo de futurologia para avaliar se o investimento trará retorno.
Nem sempre a justificativa de valor virá pelo serviço diretamente, vide o exemplo da Volvo no Brasil que, muito antes de ter a opção de carros elétricos em seu portfólio, começou a instalar carregadores para justificar a venda dos veículos híbridos plug-in. O efeito foi repetido e adequado um pouco antes dos modelos 100% elétricos chegarem.
É evidente que diversas outras montadoras seguiram estratégias semelhantes a Volvo, como BYD, Renault, Stellantis, Audi, Porsche, VW, entre tantas outras. O importante é permitir que o potencial que o mercado tem para desenvolvimento seja explorado quando o retorno é garantido.
Isso para falar apenas das montadoras de veículos, mas também temos outros entes no mercado da mobilidade como distribuidoras de energia, redes de estacionamentos, hotéis e as recém-convertidas empresas petrolíferas em empresas de energia. Não posso deixar de citar a parceria entre Raízen/Shell Recharge e a Tupinambá como exemplo que promove a mobilidade para as frotas do futuro.
Agora trazendo a minha opinião:
Não existe um modelo ideal. Acredito que o Estado e o Mercado se complementam. É fato que o Estado precisa demonstrar o interesse pela “brincadeira” com regulamentação e normatização sem engessar demais para que permita o Mercado dar asas à imaginação.
Quanto à cobertura de área, as concessões devem ser bem exploradas. Se uma das finalidades é garantir que os usuários possam transitar com segurança, como garantir a chegada com segurança sem ponto carregamento? Os pontos de serviço ao longo das rodovias são os locais mais adequados para um ponto de carregamento, pois já possuem infraestrutura necessária para os usuários descansarem em segurança durante o período que aguarda.
Semelhantemente às concessões de operadoras de comunicação, outra forma é exigir que as empresas de energia garantam a cobertura por estações de carregamento através de parcerias ou por gestão própria, o importante é garantir a cobertura. As regiões podem ser loteadas em grupos de grande interesse em conjunto com áreas de menor interesse. Mas e competitividade? Antes de termos competitividade, é necessário garantir a cobertura por pelo menos uma empresa.
Ah, mas aí as empresas vão repassar o custo das implantações para todos, mesmo quem não tenha carro elétrico. Bem, isso deve ser pensado para que o retorno seja através do uso e da exploração dos espaços. Sigo como exemplo as operadoras de comunicação que, querendo ou não, são obrigadas a garantir área de cobertura mesmo em áreas com baixa densidade de usuários.
Outro ponto que o Estado deve assumir pioneirismo é na substituição das frotas públicas (transporte e operacional). Se alguém deseja demonstrar confiança, nada melhor que dar o exemplo. Já temos muitos exemplos em âmbito municipal como já apresentado em textos anteriores. Fico feliz por observar que cada vez mais municípios têm levado a sério a substituição das frotas de transporte público para veículos 100% elétricos.
Ônibus elétricos podem trazer benefícios às cidades do Brasil?
Então, meu caro leitor, resumo minha opinião quanto ao modelo ideal para desenvolvimento da mobilidade elétrica do Brasil. O Estado tem que estar presente apenas como agente regulador e promotor com o mercado agindo na implantação, gestão e manutenção.
E quanto ao subsídio e incentivos para compra de veículos elétricos de forma acessível? Prometo que trarei o assunto em breve.
Até mais…