Há anos a Mazda ensaia um retorno ao Brasil, mas cancelou os planos com a alta do dólar e a cobrança de novos impostos
Divulgação/Mazda
Há anos a Mazda ensaia um retorno ao Brasil, mas cancelou os planos com a alta do dólar e a cobrança de novos impostos

Os carros importados já foram sonho de consumo, já provocaram mudanças radicais em nosso mercado, já causaram polêmica por supostas ameaças à indústria nacional... Mas por onde andam nos dias de hoje? Praticamente desaparecidos desde setembro de 2011, quando o então ministro da Fazenda Guido Mantega decretou um acréscimo de 30 pontos porcentuais sobre o IPI dos modelos estrangeiros, exceto os que vêm do Mercosul ou do México. Explicando de maneira clara: um carro com motor a gasolina acima de 2.0, que recolhia 25% de IPI, passou a recolher 55% só desse imposto.

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A medida só não matou totalmente os importadores porque foi criada uma cota anual de 4.800 carros importados para cada empresa sem a cobrança desse “super IPI”. Além dessa sobretaxa, os carros estrangeiros recolhem 35% de imposto de importação, sem contar a conversão para o real, o frete e outras tarifas.

A boa nova é que esse protecionismo excessivo tem prazo para terminar: 31 de dezembro deste ano. E isso vem animando os importadores que sobreviveram. Vários deles já projetam encomendas de lotes mais generosos em outubro, para que os navios cheguem e abasteçam as lojas a partir de janeiro de 2018.

O que você, consumidor que nem pensa em comprar um de fora, tem a ver com isso? Mais do que imagina. A notícia não é boa apenas para os que pensam em comprar um carro importado, seja um chinês compacto ou um alemão topo de linha. Quem compra veículos nacionais também poderá ganhar com a volta dessa saudável concorrência. Os importados têm um papel de regulação no mercado, pressionando para baixo os preços dos nacionais (ou pelo menos evitando aumentos exagerados). E também trazendo tecnologias inéditas, que obrigam os fabricantes locais a modernizar seus produtos.

A SsangYong foi uma das coreanas que não deram certo no Brasil, barrada pelo aumento na tributação dos importados
Divulgação/SsangYong
A SsangYong foi uma das coreanas que não deram certo no Brasil, barrada pelo aumento na tributação dos importados

Após a alta no IPI, o dólar e outras moedas estrangeiras começaram a subir rapidamente em 2012, aos primeiros sinais da crise econômica que dura até hoje no Brasil. As empresas sem fábricas viram suas vendas definhar, em especial a coreana Kia, que vivia seu melhor momento – fechou 2011 com mais de 77 mil emplacamentos. Muitas foram embora, como a coreana SsangYong e as chinesas Geely, Effa Motors e CN Auto. Nesta semana foi a vez da inglesa Aston Martin deixar o país.

As que sobreviveram continuam filiadas à Abeifa, associação que também manteve algumas neo-fabricantes. As principais são Kia, JAC, Chery, BMW/Mini, Jaguar/Land Rover, Porsche, Volvo e Lifan. Juntas, elas venderam apenas 36 mil carros em 2016 – o campeão Chevrolet Onix sozinho vendeu mais de 150 mil.

Promessas de novidades em 2018

A nova geração do Kia Picanto é uma das apostas da marca para o momento em que o Super IPI acabar
Divulgação/Kia
A nova geração do Kia Picanto é uma das apostas da marca para o momento em que o Super IPI acabar

Todas essas marcas esfregam as mãos e fazem planos para um 2018 redentor. A Kia já homologa aqui a nova geração do compacto Picanto, modelo cuja conta hoje não fecha, mas que sem o “super IPI” pode chegar disputando com as versões mais equipadas de Onix e Hyundai HB20, só para citar os líderes de mercado.

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Uma nova onda de chineses poderá pressionar para baixo até os preços dos nacionais com motor 1.0. Alguns jipões importados poderão aparecer com preços mais razoáveis, dificultando a constante escalada de preços de SUVs compactos como Honda HR-V (o líder de vendas) e companhia, ou do Jeep Compass num segmento logo acima.

Se por um lado as montadoras sofrerão uma concorrência mais forte dos estrangeiros, por outro poderão redefinir suas estratégias para complementar a gama com produtos de fora a preços mais competitivos e sem tantas amarras de cotas.

Com isso, híbridos como Toyota Prius poderão vir em volumes maiores e com preços mais acessíveis; a Jeep não dependerá somente da dupla nacional Renagade/Compass; as marcas alemãs, francesas e japonesas poderão trazer mais carros de suas matrizes. Tecnologias de segurança e conectividade surgirão com mais facilidade nesses forasteiros, forçando o avanço dos produtos nacionais.

Agora que a PSA é dona da Opel, a queda do IPI pode animar o grupo francês a importar o novo Astra
Divulgação/Opel
Agora que a PSA é dona da Opel, a queda do IPI pode animar o grupo francês a importar o novo Astra

Isso sem falar na volta de marcas como SsangYong, Geely, Mazda e outras, cuja movimentação nos bastidores já foi apurada por AutoBuzz. Quem sabe até a Opel, agora controlada pela francesa PSA Peugeot-Citroën, não volte a vender seus carros no país, agora sem a gravatinha da Chevrolet? Novas gerações de Corsa, Astra, Meriva e Zafira continuam em produção na Alemanha. Modelos que, vale destacar, ainda têm muitos fãs por aqui.

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Importados: 26 anos de benefícios e polêmicas

A reabertura das importações no fim de 1990, após quase duas décadas de isolamento comercial, foi uma das poucas coisas boas feitas pelo governo Collor. De lá para cá, a presença dos carros importados só trouxe benefícios ao mercado brasileiro.

Graças a essa abertura, quase todos os grandes fabricantes globais foram atraídos para o nosso mercado. Fábricas foram instaladas, assim como novas lojas, oficinas, fornecedores... Empregos foram criados em escala inédita. E os produtos evoluíram absurdamente, a ponto de hoje termos lançamentos de carros globais em sintonia com países mais tradicionais.

A Geely chegou em 2014, quando o governo já havia aumentado o IPI dos carros importados. Deixou o Brasil em 2016
Divulgação/Geely
A Geely chegou em 2014, quando o governo já havia aumentado o IPI dos carros importados. Deixou o Brasil em 2016

Mas se os importados fazem tão bem ao mercado, por que eles foram praticamente banidos com o decreto Inovar-Auto de 2011? O pretexto foi uma pretensa “invasão chinesa” (dois em cada 100 carros vendidos naquele ano). As razões verdadeiras misturam oportunismo, lobby e falta de visão de longo prazo.

Na época, a chinesa JAC tinha inaugurado sua rede de 70 lojas e feito bastante barulho na mídia, com o lançamento do J3, acessível e bem equipado. Havia outras chinesas no pedaço, mas o volume total de todas elas não chegava perto das vendas de nenhuma das grandes marcas tradicionais.

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De fato, a JAC fez muito alarde, abocanhando 1% do mercado logo de largada, e fechando 2011 com 25 mil unidades vendidas em 9 meses. O real valorizado favorecia as importações. As montadoras aproveitaram para pedir alguma atenção ao governo federal. Só que o golpe dos 30 pontos porcentuais foi duro demais, quase uma proibição. Tanto que hoje, a soma de chineses (importados ou feitos aqui) não chega a 1% das vendas de carros de passeio.

Após seis anos de ostracismo, 2018 se aproxima com a promessa de um novo capítulo na novela dos carros importados; ao que tudo indica com um recomeço mais feliz para empresas e consumidores em geral. Isso se o governo de plantão não alterar o planejamento do Inovar-Auto.

Escreva para a coluna: autobuzz@igcorp.com.br

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