É comum fabricantes usarem cores de carros marcantes apenas durante o lançamento. Será o caso da picape Mercedes Classe X, que em breve chega ao Brasil?​
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É comum fabricantes usarem cores de carros marcantes apenas durante o lançamento. Será o caso da picape Mercedes Classe X, que em breve chega ao Brasil?​

Vou contar uma coisa que me surpreendeu quando trabalhei na indústria automobilística: sabia que a pintura metálica é quase sempre mais barata para o fabricante do que a pintura sólida? Sim, mas o consumidor acha a metálica mais “chique” e topa pagar cerca de R$ 1.500 adicionais por esse modismo que surgiu por aqui no fim dos anos 80. Culpa da ganância das montadoras? Não, culpa dos consumidores. O que mais conta na formação do preço é a demanda e percepção de valor por parte do cliente. Esse é só um exemplo de como o consumidor brasileiro é conservador na hora de escolher as cores de carros.

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Não sei quanto a você, mas gosto de carros mais coloridos. Muitas vezes fui à concessionária disposto a levar para casa um carro azul ou verde, as minhas preferidas. Mas o vendedor
sempre conseguiu me empurrar cores de carros mais tradicionais (no máximo um vermelho), sob o argumento da pronta entrega ou até aquele papo de que essas cores mais discretas ajudam na hora da revenda. Será que ajudam mesmo? Há alguns anos fiz uma reportagem-
teste para uma revista. Anunciei dois carros idênticos, Fiat Uno, um prateado e outro amarelo marca-texto (lembra-se dele?). Ambos pelo mesmo preço. O Uno prata teve um pouco mais de
procura, é verdade. Mas a conclusão é que eu teria vendido os dois pelo mesmo valor. O prata, um pouco mais rápido.

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Divulgação/Honda

A Honda é uma das marcas mais conservadoras em termos de oferta de cores no Brasil, mas acaba de mostrar lá fora o Fit reestilizado com este marcante laranja.

A pergunta que faço, portanto, é se vale a pena abrir mão de passar anos com o carro da cor de sua preferência, só por causa de uma maior liquidez na hora da revenda. Não é nem o valor de revenda, é só a agilidade na venda. E mesmo que o carro perdesse, digamos, R$ 500 no valor de revenda, compensaria o fato de comprar uma cor que não lhe agrada tanto? Minha tese aqui é que o comprador deveria exigir cores mais divertidas para seu carro, a não ser que prefira tons mais escuros, ou os manjados branco, prata e vinho. Quem, como eu, viveu a infância nos anos 70, se lembra da infinidade de carros coloridos, inspirados na onda psicodélica. Azul claro, verde limão, laranja, bronze (na VW Brasília era um clássico), amarelo
(saudade do Opala amarelo com duas faixas pretas no capô, o carro mais legal que meu pai teve).

Aposto que muita gente da minha geração adoraria hoje comprar o Ford Fiesta azulão, o Jeep Renegade verde musgo, o Nissan Kicks com teto laranja, o Citroën Aircross marrom, o Fiat
Mobi roxo... Alguns, tenho certeza, não compram por não encontrar para pronta entrega. Outros, por medo de não revender com tanta facilidade. Fiquem tranquilos, há gosto para todas as cores, salvo excentricidades como aqueles carros rosados de uma marca de cosméticos.

Cores chamativas cansam?

Consegue ver um carro colorido nesta foto? Sim, este é um típico cenário monocromático de estacionamento na capital paulista
Glauco Lucena/AutoBuzz
Consegue ver um carro colorido nesta foto? Sim, este é um típico cenário monocromático de estacionamento na capital paulista

Outro argumento usado pelos detratores dos carros coloridos é que essas cores mais chamativas acabam cansando. Será mesmo? Pois eu estou cansado é de olhar em volta, no trânsito pesado, no inverno da cinzenta São Paulo, e só ver carros pretos, grafites, pratas... Mesmo o branco já caiu no lugar comum depois de vencer a boba resistência de que era carro de taxista (viu como os mitos caem por terra?). A culpa, afinal, é do cliente que não procura ou da montadora que não ousa em sua gama de cores? Acho que é um pouco de cada. Muitas montadoras oferecem cores mais exóticas apenas quando o carro é novidade, para chamar a atenção na mídia e nas ruas. Deveriam insistir mais nessas cores, a meu ver, sobretudo em carros e SUVs compactos, que não combinam com cores sóbrias.

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Mercedes-AMG GT R

Mercedes-AMG GT R, recém-lançado no Brasil, chama atenção pela cor Green Hell, em referência ao apelido do autódromo alemão de Nürburgring (inferno verde)

Invejo muito os donos de carros da Mini. Está aí uma marca que ousa na sua palheta de cores, com muito bom gosto. Assim como fico com inveja dos europeus. Lá circulam carros de todos os matizes, pouquíssimos escuros. A Europa passa muitos meses do ano com dias curtos, de tempo frio e nublado. Os carros coloridos ajudam a alegrar um pouco o ambiente sombrio.
A mais recente pesquisa sobre o tema no Brasil é desanimadora, feita no fim do ano passado pela fabricante de tintas PPG. O branco lidera em participação entre os carros 0 km, com 37%,
seguido por prata (29%), preto (12%), cinza (10%) e vermelho (8%). Sobram apenas 4% para outras cores. Há viés de alta para o azul e alguns tons de marrom, mas de forma bem tímida. E até de algumas derivações do branco, de tom um pouco mais escuro, quase creme.

Marca inglesa Mini é que mais tem apostado em pinturas bicolores ou cores que fogem ao padrão, como este azul do novo Countryman
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Marca inglesa Mini é que mais tem apostado em pinturas bicolores ou cores que fogem ao padrão, como este azul do novo Countryman

Pense nos carros de sonho: Ferrari tem de ser vermelha, Alfa Romeo idem, Lamborghini amarela, Bugatti e BMW azuis, Jaguar verde, Porsche qualquer cor (até branco e preto), Mercedes prata (vá lá). Jipes de verdade têm de ser verde-militar. E por que nossos carros comuns não podem ter cores bacanas também? Nada contra quem compra cores neutras por preferência ou por precaução. Mas fica aqui meu manifesto por mais variedade nas cores de carros em nosso mercado. A paisagem urbana e o humor agradecem!

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