Fala, galera. Beleza? Gostaria de trazer para a mesa de discussão algo que é tão comum nas filas dos carregadores que encontro pela vida. Principalmente na cidade de São Paulo, é fácil encontrar motoristas de aplicativos que usam Nissan Leaf, Renault Kwid e-tech e JAC E-JS1, cada carro com um padrão de conector.
Caso você não seja uma pessoa familiarizada com a mobilidade elétrica, vamos começar do básico: cada região do mundo desenvolveu um conector para o carregamento dos veículos. Não quero entrar no mérito de qual é o melhor, apenas dizer que não existe um conector “universal”.
Para falarmos de conectores, precisamos também dizer que existem duas formas de carregar os veículos elétricos: em corrente contínua (DC) ou corrente alternada (AC). A partir deste ponto, vamos dissertar um pouco sobre os padrões de conectores.
Os veículos desenvolvidos no Japão usam os conectores Tipo 1 (J-1772) para corrente alternada e CHAdeMO para corrente contínua. O principal modelo que utiliza esse padrão (e único no Brasil) é o Nissan Leaf.
A China (maior produtor e maior mercado consumidor) desenvolveu o padrão GB/T AC e GB/T DC. Apesar de usar o mesmo nome para o carregamento de corrente alternada e corrente contínua, são dois conectores diferentes, um ao lado do outro.
Entrando na Europa, mais precisamente na União Europeia, podemos ver para o conector de corrente alternada o padrão Tipo 2 (Menneske) e, para a corrente contínua, o padrão Combo 2 (CCS 2).
Finalmente, atravessando o Atlântico, nos Estados Unidos, os veículos geralmente usam também o Tipo 1 (igual ao Japão) para carregamento em corrente alternada e o Combo 1 (CCS 1) para corrente contínua. Digo geralmente porque os Estados Unidos é o lar da Tesla, que decidiu inovar com seu padrão próprio de conector.
E o Brasil? Como fica se não se produz carro elétrico? Por aqui, estamos no momento de mercado livre, sem muitas regras, para ser bem sincero. Não existe um padrão brasileiro ou mesmo algum tipo de obrigatoriedade para trazer veículos com apenas uma opção de conector.
Para falar a verdade, conheço apenas a União Europeia que exige a adoção de um padrão (Tipo 2/CCS 2). Lembrando que falo apenas da União Europeia, porque outros países europeus não impõem a mesma exigência.
Agora quero trazer minha opinião. Não sou a favor da imposição de um protocolo no Brasil. Isso poderia reduzir ou dificultar a importação e entrada de novos modelos de veículos. Prefiro que o próprio mercado regule esta questão.
Ah, mas aí pode virar uma bagunça, imagine vocês ter quatro padrões de conectores, seria mais difícil encontrar um carregador para seu carro. Concordo que poderia acontecer isso, como ocorre no Paraguai e na Colômbia, que possuem praticamente todos os padrões. Mas acho difícil acontecer no Brasil por um simples motivo: a maioria das marcas que vendem aqui já se decidiram por adotar o padrão europeu (Tipo 2/CCS 2) sem imposição legal.
Para sermos diretos, apenas a Nissan e a JAC Motors adotam padrões diferentes que o padrão europeu no Brasil. A Nissan, como disse antes, adota o Tipo 1/CHAdeMO nos modelos até 2022 e mudaram para o Tipo2/CHAdeMO no modelo 2023. A JAC Motors adota o GB/T para os veículos de passeio e carga leve, mas usam o padrão europeu para os caminhões de 8 toneladas para cima.
O mais interessante entre essas duas marcas é que, apesar de haver carregadores Tipo 1 e CHAdeMO no Brasil, os veículos da Nissan acabam tendo menos opção de pontos de carregamento que os veículos com GB/T da JAC Motors. Isso porque, apesar de não haver até o momento uma rede de carregadores GB/T no Brasil, a JAC Motors oferece aos seus clientes adaptadores para uso dos equipamentos com o padrão europeu, tanto em corrente alternada quanto em corrente contínua. Até os Teslas usam adaptadores no Brasil.
A tendência é que haja cada vez menos carregadores com o padrão CHAdeMO, pois os primeiros carregadores instalados estão atingindo o fim da sua vida útil e há grandes chances de serem substituídos por carregadores que possuam apenas o CCS 2.
Se fosse realmente exigir algo das montadoras e importadoras de veículos elétricos para evitar uma bagunça, me limitaria da seguinte forma: os veículos precisam garantir que seus conectores são seguros contra acidentes e haja uma rede de carregamento em volume minimamente suficiente para o uso do mesmo.
Acredito que o primeiro ponto não seria problema algum para os protocolos atuais, visto que todos já são adotados de forma ampla em várias regiões do mundo sem grandes problemas. Mas o segundo ponto é a chave do sucesso da mobilidade elétrica. Eu consideraria como atendido se as marcas oferecessem adaptadores para uso com outros padrões presentes, desde que esses adaptadores também atendessem o ponto em relação a segurança.
Não seria mais fácil simplesmente adotar como padrão aquele que é mais difundido atualmente, já que apenas duas marcas não utilizam? Seria, entretanto, quando fazemos isso, limitamos algo tão imprescindível: a inovação.
O melhor exemplo é a Tesla, que apesar de ter adotado por força de regulação o padrão europeu na União Europeia e o GB/T por relação de mercado na China, continuou teimando em usar o padrão próprio nos demais mercados. O mais interessante da Tesla é que, seu padrão de conector é tão inovador que, em vez de ela se render à maioria, outras montadoras decidiram adotar o conector da Tesla, como a Ford e GM. Devido a essa abertura para as demais montadoras, a Tesla passou a chamar seu conector de NACS (North American Charging Standard).
E por que essas montadoras decidiram adotar esses conectores? Isso é fácil de responder: além do NACS permitir carregamentos de até 1 MW (bem superior ao CCS 2, CHAdeMO e GB/T), o NACS é o padrão mais comum nos EUA, com quase 1.500 pontos de recarga. E tem mais: pontos de recarga não significa necessariamente um carregador, mas vários carregadores em um mesmo lugar.
De acordo com uma matéria publicada no The New York Times em 8 de junho, a adoção do NACS poderia quase dobrar a quantidade de pontos de carregamento para os clientes da GM e Ford. De uma forma lógica, seria mais fácil impor a apenas uma marca que se adequasse às demais que vice-versa. Mas o mercado se adequa conforme a situação
Nada impede autarquias e empresas públicas adotarem como exigência em suas licitações para aquisição de frotas e serviços de carregamento um padrão específico. Todavia, mantenho minha opinião que deixe o mercado seguir livre para se adequar conforme surgem as necessidades e oportunidades.
No futuro, até podemos ter apenas um padrão de carregamento no Brasil. Sou a favor que ele não venha por mera vontade dos governantes, mas que seja pelo objetivo de melhor atender ao principal ente na relação do mercado: o cliente.
Até mais.