Pandemia faz crescer intenção de compra de carro no Brasil

Estudo inédito da Globo Insights foi apresentado durante evento online sobre mobilidade organizado pela Anfavea

Quatro em cada dez brasileiros sem carro pretende comprar um automóvel próprio, aponta pesquisa da Globo Insights
Foto: Divulgação
Quatro em cada dez brasileiros sem carro pretende comprar um automóvel próprio, aponta pesquisa da Globo Insights


A pandemia da Covid-19 mexeu com os hábitos de locomoção e de compra de veículos no Brasil. Uma pesquisa inédita da Globo Insights apontou que quatro em cada dez entrevistados sem carro pretende comprar um automóvel próprio. O levantamento foi divulgado durante um debate virtual sobre mobilidade organizado nesta quarta-feira (18) pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).


A pesquisa da Globo ouviu 400 pessoas em todas as regiões do Brasil. Apontado por 55% dos entrevistados, o medo de contaminação pelo novo coronavírus no transporte público foi indicado como o principal fator para a intenção de compra de um automóvel, seguido pela utilização dos carros  como fontes de renda, no transporte de cargas ou passageiros, citado por 14% das pessoas.

Por outro lado, o cenário econômico acaba favorecendo bem mais o mercado de usados que o de carros novos. Seis em cada dez compradores em potencial pretendem gastar até R$ 50 mil na aquisição. Faixa de preços que atualmente fica abaixo dos modelos compactos tradicionais e que traz, entre os veículos novos, apenas Fiat Mobi e Renault Kwid como opções.

Mas não é só o preço dos veículos novos — que segundo a Anfavea tem sido muito influenciado por fatores como a desvalorização do real frente ao dólar e o aumento nos preços das matérias-primas — que está afetando o mercado.

O levantamento apurou ainda quais motivos fariam o entrevistado que não pretende comprar um carro a mudar de ideia. Foram 16% que citaram a existência de condições mais atraentes de financiamento. "Essa pesquisa confirma que existe gente interessada em comprar carros, mas que tem dificuldades econômicas. Cabe à indústria tentar buscar esse cliente", destacou no bate-papo Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea.

"Um dos objetivos da Anfavea, como indústria, é brigar para viabilizar e incentivar [os financiamentos]. Nos Estados Unidos, pouco menos de 100% dos veículos são financiados. No Brasil, só 50% é financiado. O governo precisa entender que, se ele criar condições, pode trazer mais consumidores. E isso gera mais impostos. O ganho para a economia é muito maior", completou.


Transporte público

Foto: Divulgaçao/PMG
Segundo estudo, a porcentagem dos usuários do aplicativo da Moovit que utilizam transporte público caiu de 85% para 68%



Durante o encontro, foi apresentado ainda um estudo da startup israelense Moovit, que é responsável por um aplicativo de rotas de transporte público de mesmo nome, sobre o impacto da pandemia no transporte público. Realizado em agosto, o estudo ouviu 9,5 mil usuários do app em seis capitais brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre e Fortaleza).

Na capital paulista, o percentual de usuários do aplicativo que utilizavam o transporte público regularmente caiu de 85%, antes da pandemia, para atuais 68%. Ao mesmo tempo, o número de usuários do Moovit que utilizam aplicativos de transporte passou de 3% para 10% no mesmo período.

Para Pedro Palhares, gerente geral da Moovit no Brasil, esses dados poderão servir de base para que as cidades e empresas planejem alternativas para a queda na intenção de uso do transporte público. "As cidades precisam ter dados para melhor planejar a oferta de transporte. A infraestrutura você não tem como aumentar. As empresas devem estimular a organização de caronas solidárias. A integração multimodal. Temos cidades muito focadas nos carros e não nas pessoas", comentou.