Como anda a eletrificação no Brasil comparado ao resto da América Latina

País não tem plano para abandonar gasolina, etanol e diesel; veja os detalhes

Chile tem o plano de eletrificação mais avançado do continente, com data para banir venda de carros a combustão
Foto: Divulgação
Chile tem o plano de eletrificação mais avançado do continente, com data para banir venda de carros a combustão

Em 2017, o Governo do Chile, à época liderado por Michelle Bachelet, oficializou sua Estratégia Nacional de Eletromobilidade, com o objetivo de atender aos objetivos climáticos da Organização das Nações Unidas (ONU). O país entrou de cabeça na eletrificação , apostando na redução de emissão de poluentes para um cotidiano mais sustentável.

A meta traçada por Bachelet e seus ministérios sugere que 40% dos carros particulares e 100% dos veículos de transporte público sejam movidos a eletricidade até 2050. O plano é bem menos ousado que o do Reino Unido – que pretende proibir a venda de veículos a combustão a partir de 2030 – mas continua sendo avançado na comparação com outros países da América Latina, incluindo o Brasil.

Foto: Divulgação
Porsche Cayenne e-Hybrid é um dos modelos eletrificados de maior sucesso do Brasil; modelo parte de R$ 435 mil

A Argentina não tem um plano nacional de eletrificação. Em 2017, o governo zerou o imposto para carros elétricos que forem montados no país, mas nenhuma fabricante se interessou.

Da mesma forma, ainda não há um mega-plano brasileiro de eletrificação. O mais próximo disso é o regime Rota 2030, sancionado por Michel Temer em 2018, em que a indústria automotiva se compromete a reduzir as emissões de gases tóxicos por veículos a combustão

O Rota 2030 também garante redução de impostos para a venda de carros híbridos e elétricos , mas não há qualquer data ou planejamento para que o Brasil, que tem a Petrobras como uma de suas maiores estatais, deixe de usar combustível fóssil, ou de cana-de-açúcar.

Coisa de rico

Foto: Divulgação
JAC iEV20 é um crossover 100% elétrico com preço de Audi A3 Sedan; modelo parte de R$ 149.990

Apesar da falta de incentivos e da pandemia causada pelo novo coronavírus , as vendas de carros elétricos e híbridos bateram novo recorde no Brasil em 2020. Na comparação com o ano anterior, o segmento cresceu 66,5%. 

O segmento está longe de ser acessível. O modelo elétrico mais barato do país, o JAC iEV20 , parte de R$ 149.990, ficando muito acima do que o público está disposto a pagar em um crossover subcompacto. Por este motivo, as vendas de híbridos e elétricos no Brasil são impulsionadas por veículos premium.

Foto: Divulgação
Volvo XC40 Plug-in Hybrid se destaca entre os SUVs médios premium; modelo parte de R$ 239.950

Segundo o empresário Áureo Brandão, sócio da AvantGarde Motors, uma das maiores lojas de veículos premium do país, o segmento dos eletrificados deverá corresponder a cerca de 70% das vendas de carros de luxo no Brasil até 2030 . Para modelos que não são do segmento premium , o executivo não acredita em uma evolução nos próximos anos.

“Sentimos certa resistência na compra de carros elétricos fora do segmento de luxo. O Renault Zoe , por exemplo, é muito comum para ter um valor tão elevado”, diz Brandão, referindo-se ao modelo 100% elétrico da marca francesa que parte de R$ 203.678.

Foto: Caue Lira/iG
Renault Zoe é aposta da marca francesa na categoria dos carros elétricos; modelo parte de R$ 203.678

“O crescimento dos modelos eletrificados no mercado de luxo é uma tendência. Para que modelos mais simples sejam acessíveis, eles precisam ser subsidiados para ter valor abaixo do que é praticado nos dias de hoje”, afirma o executivo, que comemora crescimento de 630% nas vendas de carros híbridos e elétricos da AvantGarde em 2020, na comparação com o ano de 2019. 

Você viu?

Comparando os preços

Foto: Divulgação
O grandalhão Mercedes-Benz EQC é aposta da Daimler no mercado de SUVs grandes 100% elétricos; modelo custa R$ 629.900

Há um motivo para o mercado de carros eletrificados de luxo estar impulsionado no Brasil, mesmo na crise. Enquanto a diferença de preço do Renault Sandero – que parte de R$ 59.990 – para um Zoe chega a ser absurda, o mesmo não acontece no segmento premium.

O Jaguar I-Pace 100% elétrico, por exemplo, parte de R$ 508.950 nas concessionárias brasileiras –  valor que não fica tão distante do F-Pace S , de R$ 500.950, que bebe apenas gasolina. A decisão acaba não pesando no bolso do cliente, que terá que fazer uma escolha entre dois veículos do mesmo porte, com pacote de equipamentos similar.

O mesmo acontece com o Audi e-tron Sportback , que parte de R$ 551.990 no Brasil e cabe perfeitamente no bolso de quem pagou R$ 547.990 por um A7 Sportback a gasolina; ou o Mercedes-Benz EQC elétrico, que custa R$ 629.900 e pode parar na garagem de alguém disposto a desembolsar R$ 675.900 pelo GLE Coupé

Utopia

Foto: Newspress
Toyota Corolla Altis é o primeiro modelo híbrido nacional; versão que parte de R$ 146.390 corresponde a 25% do mix do sedã

Não há um horizonte próximo para viabilizar a venda de carros elétricos acessíveis no Brasil. Enquanto um Tesla Model 3 custa US$ 37.499 e não pesa muito no bolso de um americano da classe média, veículos térmicos devem continuar fazendo parte do ecossistema dos brasileiros pelos próximos vinte anos.

A indústria brasileira entra na onda da eletrificação com bastante cautela. A Toyota produz o Corolla híbrido em Indaiatuba (SP), mas seu motor continua sendo importado do Japão. Com o sucesso absoluto nas vendas –  com a versão híbrida correspondendo a 25% do mix do sedã –  o próximo passo será a nacionalização de seu conjunto mecânico.

Com isso, a Toyota poderá sonhar em lançar uma versão híbrida do Yaris , iniciativa que, conforme apurado pela reportagem do iG Carros, está nos planos da marca

A Nissan também tem interesse em produzir uma versão híbrida do Kicks no Brasil, mas os planos foram adiados por conta da pandemia e da alta do dólar . O SUV será reestilizado no segundo semestre de 2021, mantendo o motor 1.6 aspirado movido a gasolina e etanol.

Outra marca que promete ter modelos eletrificados no Brasil é a FCA , que confirmou que vai trazer o Fiat 500 elétrico , provavelmente no segundo semestre. Além disso, também disse que terá SUVs híbridos. As apostas ficam por conta do Renegade e Compass importados.

E a Volkswagen, com o fim da produção do Golf VII GTE, está sem nenhum modelo eletrificado no Brasil. Porém, já anunciou que terá 5 modelos eletrificados no país até 2023 . Três deles podem ser o novo  Golf GTE ,o  Tiguan Hybrid renovado e o SUV ID.4