A década de 1970 era uma época de ouro para os fãs do muscle car brasileiro e para a Ford também. Uma era em que se podia abastecer seu tanque com capacidade para até 100 litros com a gasolina azul ou tipo B, de 82 octanas (poder de explosão).
Dinheiro? Não era problema para quem estivesse ciente de que o modelo fazia um consumo rodoviário de 6 km/l. O assunto em questão é o Ford Maverick , um dos ícones de esportividade que a Ford produziu nos anos 70.
O esportivo surgiu nos Estados Unidos, em 1969, e teve como missão se enquadrar numa faixa de “carros econômicos” daquele país. Para os padrões estadunidenses, o Maverick era considerado uma boa pedida, já que o Falcon (lançado em 1960) estava ultrapassado e não era tão compacto assim.
A ideia era fazer um esportivo com a mesma receita do sucesso do bem-sucedido Mustang , de 1964. O Maverick custou na época US$ 1.995 e vinha com 15 cores disponíveis e duas opções de motores, a de 2,8 e 3,3 litros, ambos de seis cilindros. O sucesso foi imediato e logo no primeiro ano foram vendidas 579.000 unidades, uma marca melhor do que a do Mustang, que contava com 302.319.
Logo depois vieram outras versões como a Sprint (luxuosa) e Grabber (esportiva), recebeu novas opções de motores e poucas modificações até o final de sua produção, em 1977.
No Brasil
A trajetória do Ford Maverick no mercado brasileiro um pouco mais curta, mas nem isso deixou de ser considerado um clássico. Chegou por aqui com a missão de substituir a arcaica linha de veículos da Willys, já que Ford havia adquirido a Willys-Overland do Brasil,em 1968, e nesta época precisava de um novo produto que se encaixasse na categoria do Chevrolet Opala .
A esta altura, a Ford se apressa em detectar a deficiência do mercado, com uma pesquisa nas mãos de um público selecionado para saber qual carro que se encaixava nas exigências desse consumidor.
Para a pesquisa foram selecionados quatro carros de fabricação estrangeira: Opala , Corcel , Maverick americano e Ford Taunus europeu, todos na mesma cor. O destaque ficou para o Taunus, devido às dimensões e economia dos carros europeus.
No entanto, a Ford resolveu desenvolver o Maverick, pela simbologia que o carro designava nos Estados Unidos na época, sendo um carro mais potente que o Taunus . Depois de dois anos de duros testes de durabilidade dos componentes mecânicos e resistência ao nosso clima, o esportivo da Ford finalmente deixa de ser apenas um projeto e começava a ganhar cidadania brasileira.
Produzido entre 1973 e 1979, o muscle car brasileiro foi comercializado inicialmente nas versões Super, Super Luxo e a esportiva GT. Com motor de seis cilindros reaproveitado do Aero Willys , o Maverick passou por várias dificuldades, principalmente quanto ao aquecimento e refrigeração, exigindo uma adequação ao clima tropical do país.
Foi o mais vendido de toda a linha, porém o grande astro da Ford em 70 foi o modelo que possuía o motor V8 , que inicialmente apresentou problemas nos freios, mas era muito pequeno perto da incomparável sensação de andar em um potente V8, com marchas acessíveis ao motorista e fáceis de trocar.
A versão escolhida para receber o V8 foi a GT (Gran Turismo) . Esteticamente recebia faixas pretas nas laterais e na traseira que destacavam ainda mais a esportividade destes veículos. Faziam parte do pacote as famosas presilhas de capô do tipo competição, faróis auxiliares, conta-giros, entre outros detalhes menos aparentes.
De excelente desempenho para a época, sua aceleração de 0 a 100 km/h em 11,5 segundos e 190 km/h de velocidade máxima era um deleite para seus felizes proprietários. Logo no primeiro ano de lançamento no Brasil , o carro vendeu 2.081 unidades.
Se hoje, ter um GT é motivo de orgulho, a perua não fica atrás, devido ao modelo ser extremamente raro, até mesmo em eventos de carros antigos. Não é para menos também, foram fabricadas entre 150 a 200 unidades entre os anos de 1978 e 1979.
Podia vir como opcional de fábrica com ar-condicionado , direção hidráulica e câmbio automático. O modelo que utilizava o mesmo entre-eixos do modelo Sedan era a proposta de uma concessionária da Ford – Souza Ramos Veículos – de produzir em série uma versão perua com quatro portas. Porém, o modelo só conseguiu virar realidade através de encomendas à essa autorizada da marca do símbolo oval azul.
O ano de 1975 foi o início do fracasso nas vendas do modelo e para recuperar o mercado, a Ford lançava um novo motor de 4 cilindros, de 2,3 litros, que rendia até 99 cv. Era uma alternativa para salvar a imagem do Maverick
devido à fama de beberrão. Para completar, a crise do petróleo
foi a vilã desta história. Foi nesse ano que a marca lançava o Maverick na configuração com quatro portas.
Econômico? Em se tratando de um Maverick, até que os 8 Km/l davam conta do recado, mas não tinha o pedigree dos “Voitões” e nem o ronco encorpado que saía do escapamento.
Nestes quase sete anos de produção, o Maverick acumulou exatas 108.106 unidades, somando todas as versões produzidas em série. Foi uma triste realidade para o muscle car brasileiro, mas nem mesmo a adição de algumas mudanças de estilo, cores e a chegada da versão luxuosa LDO (Luxury Decor Optional) que se distinguia por meio teto de vinil, em 1977, impediu o fim de sua fabricação.
Nas pistas
Entre os anos de 1973 a 1977, o Maverick brilhou nas pistas de corrida de circuito, se destacando nas três de longa duração brasileiras: as 25 horas de Interlagos, os 500 Quilômetros de Interlagos e as 1.000 Milhas de Interlagos .
Como nas ruas o Opala foi concorrente direto, nas pistas também o perseguiu de forma incansável, com a vantagem de ser um carro mais leve. Porém foi o Maverick que obteve as melhores classificações dos campeonatos durante esse período.
O Maverick também venceu todas as provas do Campeonato Nacional de Turismo em 1974, e no mesmo ano, a Ford lançou a versão Maverick Quadrijet, o qual seria um V8 com carburador Holley de corpo quádruplo, comando Iskenderian com tuchos mecânicos e taxa de compressão de 8,5: 1, de gasolina azul.
O carburador quadrijet para corridas não era fácil de ser encontrado, era vendido apenas em anúncios de revistas, e a economia brasileira da época foi extremamente desfavorável às vendas do novo Maverick para corridas.
Com isso a boa imagem do Maverick ficou apenas voltada para as corridas, com fama de perdedor nas ruas, mas vencedor nas pistas.
Na Europa, o nome Maverick também é o nome de um utilitário esportivo compacto - semelhante ao nosso EcoSport - fabricado pela Ford local.
Enquanto no Brasil o número de unidades do Maverick somou pouco mais de 108 mil, nos Estados Unidos, sua terra natal, o modelo acumulou 2.586.675 exemplares comercializados.
O concessionário Ford, Souza Ramos, por meio de sua empresa, a SR Veículos , que fazia transformações em caminhonetes F-100, surgiu com a novidade de produzir em série uma versão perua com quatro portas do Maverick. Para tanto, o interessado podia encomendar uma zero-quilômetro ou levar uma usada para ser transformada.
Os Maverick, equipados com o então consagrado motor 302 V8 (também fez muito sucesso nos Mustang) fizeram bonito nas pistas, reinando de 1973 a 1977 em praticamente todas as provas das quais participou.
Entre elas, o Campeonato Brasileiro de Turismo, provas de Endurance e a antiga Divisão 3. Grandes pilotos como José Carlos Pace, Bob Sharp, Edgar Mello Filho e Paulo Gomes (o ''Paulão''), puderam competir com o Maverick.