
O Ceará virou um polo estratégico para a indústria automotiva brasileira , com investimentos de R$ 400 milhões anunciados para fábricas de veículos elétricos e incentivos fiscais federais.
O movimento é analisado por Denys Cabral, especialista da Becomex, como uma jogada essencial para o Brasil na mais recente guerra de tarifas entre EUA e China .
"O Ceará virou caso de escola. Uniu logística do Porto do Pecém, aos incentivos do programa Mover. Agora, puxa a cadeia de veículos limpos do Brasil. É o nosso trunfo contra a guerra comercial EUA-China", afirma Cabral em entrevista ao Portal iG.

O Porto do Pecém, localizado na Região Metropolitana de Fortaleza , funciona como um escudo eficiente contra as taxações internacionais. A infraestrutura de ponta permite exportações competitivas para mercados como Europa e América do Norte, ajudando o Brasil a contornar barreiras comerciais que afetam outros países.
Outro pilar fundamental são os R$ 19 bilhões em créditos disponíveis até 2028 através do Programa Mover, iniciativa federal que tem por objetivo acelerar a produção de veículos sustentáveis e atrair montadoras para o Nordeste.
É justamente nesse ponto que o Ceará entra em disputa direta com os chineses. Com uma combinação de incentivos locais atraentes, mão de obra qualificada e custos competitivos, o estado vem chamando a atenção de grandes montadoras que buscam alternativas às tensões comerciais após o ''tarifaço'' anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump .
Por que o Nordeste virou alvo das montadoras?
Segundo Denys Cabral, o Ceará reúne ingredientes raros: energia renovável a custos baixos, benefícios fiscais estratégicos e uma cadeia de suprimentos em franca formação.
Essa combinação transformou o estado em uma espécie de "laboratório" para a indústria automotiva nacional. Prova disso é o crescente interesse de empresas que enxergam na região não apenas um polo produtivo, mas uma rota inteligente para navegar no conturbado cenário de embargos e guerras comerciais globais.
Investimento de R$ 400 milhões
Em agosto de 2024, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB-SP) anunciou a chegada da primeira fábrica multimarcas de carros elétricos ao Brasil, localizada justamente no Ceará.
O investimento de R$ 400 milhões cobrirá a primeira fase do projeto, que deve terminar com a produção de 40 mil veículos.
À época, Alckmin anunciou que o projeto era o primeiro passo para a produção de veículos elétricos 100% nacionais.
Mercado em alta
As vendas de carros elétricos cresceram 89% de 2023 para 2024 . Segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), 177.538 unidades foram comercializadas no ano passado.
E não foram só as vendas que dispararam. Em 2024, as importações destes veículos bateram recorde e atingiram quase US$ 1,6 bilhão, conforme o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).