
O conselho de administração da Tesla iniciou discussões sobre a sucessão de Elon Musk no cargo de presidente executivo. A informação, publicada originalmente pelo The Wall Street Journal.
Segundo o jornal americano, houveram contatos com empresas de recrutamento para avaliar possíveis nomes para a liderança da montadora, em meio ao pior desempenho financeiro da companhia nos últimos anos.
Crise econômica interna
As fontes citadas pelo The Wall Street Journal indicam que o processo teria ganhado força após os resultados do primeiro trimestre, divulgados em 22 de abril, quando a Tesla registrou queda de 9% na receita total, recuo de 20% nas receitas com automóveis e retração de 39% no lucro ajustado.
O lucro líquido despencou 71% em relação ao mesmo período do ano anterior, em constraste às expectativas do mercado.
No mesmo mês, a montadora admitiu a maior queda de vendas da história da empresa: cerca de 50 mil veículos a menos em comparação ao primeiro trimestre de 2024.
A retração acentuada, segundo analistas, está relacionada à combinação de fatores como o avanço de concorrentes chineses, estagnação do portfólio da Tesla e o crescente desgaste da imagem de Musk.
"A Tesla está menos inovadora no portfólio, menos agressiva em preço e com imagem cada vez mais contaminada por fatores externos ao produto", afirmou ao Portal iG , Davi Bertoncello, diretor da ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico) e executivo da Tupi Mobilidade.
Peça política
A atuação política de Musk também provocou reações internas. O bilionário foi nomeado por Donald Trump para liderar o Departamento de Eficiência Governamental (Doge), criado com o objetivo de promover cortes de gastos no governo dos Estados Unidos.
A pasta tem sido alvo de críticas de membros da própria administração republicana, com relatos de tensões entre Musk e secretários do gabinete presidencial. Apesar disso, Trump e a Casa Branca negaram qualquer desavença.
Nos primeiros 100 dias do novo mandato de Trump, as ações da Tesla recuaram 33%, resultado atribuído à exposição política do CEO e ao avanço da BYD, rival chinesa que vem conquista participação no mercado global com modelos mais acessíveis.
Repercussões
A possibilidade de troca de comando, no entanto, foi negada pelo presidente do conselho da Tesla, Robyn Denholm, que classificou como “absolutamente falsa” a ideia de que empresas de recrutamento tenham sido acionadas.
"O CEO da Tesla é Elon Musk e o conselho tem alta confiança em sua habilidade de continuar a executar nosso excitante plano de crescimento à frente”, afirmou Robynem postagem publicada no perfil da empresa na rede social X.
Após o posicionamento público de Denholm, o Wall Street Journal reportou que o conselho teria suspendido os planos de sucessão, ao menos temporariamente, após Musk se comprometer a dedicar mais tempo à Tesla.

Especialistas veem riscos à imagem da marca caso Musk mantenha o envolvimento direto em pautas políticas.
“Quando Elon cruza a fronteira entre liderança empresarial e militância, ele transfere à Tesla o ônus de suas escolhas”, analisou Bertoncello.
Já o economista Caio Bartine, em entrevista ao Portal iG, alerta para impactos em fundos de investimento: “A imagem de vanguarda que sustentava o premium price da Tesla está sendo corroída por crises internas e declarações públicas”.