A convivência diária com motoristas que estacionam em vagas indevidas inspirou o estudante de engenharia de produção Vitor Todorov, de 23 anos, a tomar uma atitude inusitada.
Em vez de protestos ou denúncias formais, ele decidiu imprimir cartões com a frase “Você parou como idiota. Vire para ver o motivo” e passá-los discretamente nos veículos que desrespeitam as regras de trânsito.
Com distribuição nacional e mais de 15 mil unidades vendidas desde fevereiro, a iniciativa ganhou força nas redes sociais e se transformou em um projeto de impacto crescente, chamado Estaciona Direito.
O início: do bar à ideia
A semente do projeto foi plantada ainda na adolescência, diante de uma cena recorrente no bairro onde Vitor morava com seus pais.
Um bar movimentado ocupava as ruas ao redor, e carros frequentemente bloqueavam garagens, calçadas e sinalizações.
“A galera parava errado na frente de casa, praticamente. Um estresse era causado pelo contato direto com essas pessoas que tinham estacionado de forma errada”, lembra Todorov, em entrevista ao Portal iG.
Com histórico de interesse pelo mundo automotivo — sobretudo por motocicletas, paixão desde os 12 anos —, Vitor uniu frustração cotidiana, senso cívico e vontade de empreender.
“Sempre gostei de carros e motos, mas nunca fui fanático técnico. O que me moveu foi a vontade de fazer algo prático e de aprender como montar um negócio", explica.
Humor, provocação e autorreflexão
O cartão viral — impresso em papel durável, com opções no verso como “bloqueou a rampa” ou “ocupou duas vagas” — não tem a intenção de punir, segundo Vitor, mas de provocar a autorreflexão de quem errou.
“Apesar de entendermos que o termo pode ser considerado ofensa, nosso objetivo é ter a intensidade necessária para atenção das pessoas (os motoristas) e fazer elas pensarem.”
Diferente de perfis estrangeiros mais agressivos — que colam adesivos ou gravam reações —, o Estaciona Direito aposta em vídeos bem-humorados e educativos.
As abordagens, registradas por ele e pelo colega Bruno Rocca, são feitas principalmente em São Paulo, mas os cartões já foram enviados para terceiros em todas as regiões do país.
Mesmo sem esperar pelas reações de quem recebe o bilhete — “não temos como prever quando a pessoa volta ao carro”, diz Vitor —, ele acredita no impacto silencioso da mensagem.
“A autoreflexão pode vir ali ao longo do momento em que ela vai retirar o carro do local que ela estacionou errado”
Com mais de 12 mil seguidores e publicações, o Estaciona Direito hoje é mais do que um protesto urbano: é um convite à consciência coletiva, embalado em papel e entregue com ironia.
Brincadeiras à parte, vamos aos negócios
Para lançar o projeto, Vitor se dedicou a aprender design gráfico, estruturar o site de vendas, configurar canais de pagamento e entender o funcionamento do tráfego pago.
“Minha motivação era aprender. A rotina já é puxada com faculdade, estágio, TCC, então eu precisava que tudo estivesse estruturado desde o início.”
Os pacotes vendidos vão de 10 a 200 cartões, com preços entre R$ 14,99 e R$ 129,99. Em poucos meses, o retorno foi acima do esperado.
O que diz a lei de trânsito
As irregularidades mais comuns flagradas pelo projeto estão previstas no CTB e podem gerar multas, pontos na CNH e até remoção do veículo:
- Ocupando mais de uma vaga: infração média, multa de R$ 130,16
- Bloqueando calçada ou rampa: infração média, multa de R$ 130,16
- Parado longe do meio-fio (>1 metro): infração grave, multa de R$ 195,23
- Vaga de idoso/deficiente sem autorização: gravíssima, multa de R$ 292,47
- Estacionado em faixa de pedestre ou contramão: infração grave, multa de R$ 195,23