Monza Clodovil: a ousada edição de 1982 que fracassou nas vendas

Criado para conquistar o público feminino, o modelo levava a assinatura do estilista, que na época estrelava um programa na TV Mulher

Chevrolet Monza Clodovil
Foto: Reprodução/essevaleuumafoto.com
Chevrolet Monza Clodovil

Lançado em 1982, o Chevrolet Monza foi um marco do design automotivo nacional, representando a chegada dos modelos derivados da engenharia Opel ao Brasil.

Com carroceria hatchback de três portas, linhas esportivas e bom espaço interno, o modelo rapidamente conquistou os consumidores.

Naquele mesmo ano, a concessionária Itororó, de São Paulo, apresentou uma série especial ousada e exclusiva: o Monza Clodovil, idealizado com a assinatura do estilista Clodovil Hernandes.

Baseado na versão SL/E, topo de linha à época, o modelo personalizado pela concessionária oferecia itens de conforto como bancos reclináveis com encosto alto, rodas de liga-leve, rádio toca-fitas estéreo, vidros verdes, retrovisores com ajuste interno e desembaçador traseiro.

Tudo isso somado a elementos exclusivos, como bancos de couro preto com as iniciais “CH” nos encostos, um chaveiro de ouro 24 quilates e até um jogo de malas de couro sob medida desenhado pelo estilista.

O projeto, embora não oficial da GM, contou com autorização da fabricante e seguia uma tendência observada nos Estados Unidos com o Lincoln Continental, que teve séries especiais em parceria com marcas como Cartier e Givenchy.

A intenção da Itororó era clara: atrair o público feminino em uma época em que Clodovil ganhava projeção nacional com sua atuação na televisão e na alta costura.

Estilização

O design externo também trazia diferenciais. Um aplique no painel traseiro com moldura preta para a placa e extensões de acrílico vermelho — solução estética posteriormente adotada no Monza Classic de 1988 — conferia sofisticação ao conjunto.

Interior do Monza Clodovil
Foto: Reprodução/Mobiauto
Interior do Monza Clodovil

A assinatura do estilista aparecia ainda no vigia traseiro, reforçando a proposta exclusiva da edição.

As cores disponíveis — sempre metálicas ou perolizadas — incluíam tons como Ouro, Marrom Café, Azul Noturno, Vermelho Sangue, Azul Esverdeado e Branco.

Equipado com motor 1.6 de 75 cv SAE e câmbio manual de quatro marchas, o modelo atingia até 150 km/h e acelerava de 0 a 100 km/h em 16,2 segundos. O consumo registrado era de 8,4 km/l na cidade e 14,4 km/l na estrada.

Repercussões

Apesar do apelo estético e da proposta inovadora, o Monza Clodovil teve vendas decepcionantes. Estimativas não oficiais apontam que apenas 12 unidades foram comercializadas.

Foto: Reprodução/essevaleufoto.com
Versão do Monza Clodovil levava assinatura do estilista

O alto custo, a crise econômica do período, marcada por inflação elevada e perda do poder aquisitivo, e a tentativa de segmentar o público num mercado ainda conservador estão entre os fatores atribuídos ao fracasso comercial.

A independência financeira feminina ainda era limitada, o que dificultou a penetração da campanha junto ao público-alvo.

Hoje, o Monza Clodovil é uma das séries especiais mais raras da Chevrolet no Brasil e, possivelmente, no mundo. Com o tempo, muitos exemplares teriam sido descaracterizados, o que reforça ainda mais seu status de peça de colecionador.

A proposta da Itororó, embora comercialmente mal sucedida, abriu caminho para futuras iniciativas similares, como o Fiat Oggi Pierre Balmain (1984), o Renault Clio O Boticário (2002) e o Citroën C3 Ocimar Versolato (2005).

A associação entre automóveis e moda, então incipiente no Brasil, teve no Monza Clodovil seu primeiro capítulo. Ainda que à frente de seu tempo, a série permanece como símbolo de uma ousadia singular na história da indústria automotiva nacional.