Silêncio e precisão: o cotidiano de motoristas executivos

Profissionais mostram como a rotina foi além da direção

Motoristas executivos fazem treinamentos distintos para atuar na profissão
Foto: Divulgação/Talent Drivers
Motoristas executivos fazem treinamentos distintos para atuar na profissão

Eles conduzem carros de luxo , mas o que realmente move o serviço é a discrição. Entre rotas de fuga, silêncio absoluto e atenção aos mínimos gestos, motoristas executivos mostram que a função vai muito além da direção — e exige preparo técnico, emocional e estratégico.

Nesta sexta-feira (25), Dia do Motorista, o  Portal iG Carros apresenta histórias de profissionais que atuam no transporte executivo.

Em comum, a rotina de quem transformou o ofício em algo próximo de uma arte silenciosa, guiada por protocolos de conduta e treinamentos específicos.


A cena é conhecida: um carro preto, vidros escurecidos, motorista de terno à frente, passageiro no banco de trás.

Mas entre o embarque e o destino, há códigos não ditos, respostas não verbais e nenhuma margem para erro.

Para atender executivos, autoridades e figuras públicas, empresas de mobilidade passaram a investir em treinamentos que vão de direção evasiva a protocolos de comportamento.

O Portal iG entrou em contato com uma das empresas que prestam o serviço, a Talent Drivers. Lá, não basta dirigir um Mercedes ou BMW elétrico. É preciso estar à altura do cliente, mesmo que ele nunca diga uma palavra.

No banco da frente, um novo tipo de escuta

Fabiano Santos é motorista executivo
Foto: Divulgação/Talent Drivers
Fabiano Santos é motorista executivo

Fabiano Santos, de 40 anos, conhece bem a transformação que a profissão exige. Antes de atuar como motorista executivo, trabalhou com vendas — onde a comunicação verbal era a principal ferramenta. A mudança foi radical.

“No mundo das vendas, eu falava muito para convencer. Como motorista executivo, aprendi que o silêncio, a postura e a atenção aos detalhes valem muito mais'', disse ao iG Carros .

Com o tempo, precisou ajustar até o vocabulário. Deixou o tom informal de lado, passou a falar com mais calma e a manter uma postura discreta até fora do carro. “O cliente observa tudo”, resume.

Essa atenção se intensifica quando o passageiro é alguém conhecido. Fabiano já transportou celebridades da televisão e do mundo empresarial — sempre mantendo sigilo absoluto. “Nada de fotos, comentários ou puxar assunto além do necessário.”

Nem a tecnologia ficou de fora da adaptação. Ele lembra do nervosismo ao dirigir um carro elétrico pela primeira vez.

“Fiquei bem tenso nos primeiros dias, com medo de arranhar, errar manobras ou até apertar algum botão errado.”

Hoje, diz que a excelência está na antecipação. O bom motorista, segundo ele, ajusta a temperatura do veículo, define o trajeto, disponibiliza água e mantém discrição — sem que o cliente precise pedir.

“O cliente precisa sentir que está sendo conduzido por alguém que domina o que faz, sem precisar dizer nada.”

Do volante à proteção: quando o treinamento entra em ação

Se silêncio e percepção são habilidades essenciais, a segurança é a linha de frente. Edgard Neris, de 45 anos, já viveu uma situação em que o preparo técnico foi determinante.

Foto: Divulgação/Talent Drivers
Edgard Neris é motorista de carros executivos

“Houve uma situação nas proximidades do Minhocão, no centro de São Paulo , em que alguns indivíduos tentaram interceptar nosso veículo com intenção de assalto. Graças ao treinamento em direção evasiva, consegui executar a manobra correta e sair rapidamente do local, protegendo o cliente e a mim mesmo.”

Na rotina, ele aprendeu que o cuidado vai muito além do volante. “Muda tudo, precisamos nos atentar aos mínimos detalhes e ter um cuidado ainda maior com a segurança e a discrição”, afirma ao iG .

Durante eventos de grande visibilidade, por exemplo, evita conversas com curiosos e mantém sigilo total sobre quem está no carro.

“Já transportei pessoas muito conhecidas. Ninguém fica sabendo. Não é segredo: é respeito.”

A estratégia também começa antes de ligar o motor. “Ao estacionar, já penso em rotas de saída rápida, caso seja necessário agir em uma situação de emergência.”

Entre tantas orientações que recebeu durante o treinamento, uma ficou marcada para Edgard desde o início: nunca entrar em discussões. 

"O motorista executivo de hoje precisa saber quando ser invisível e quando ser suporte", diz Kelly Cercovenico, gerente geral da Talent Drivers, onde Edgard e Fabiano trabalham.