Mercedes-Benz vende fatia na Nissan e ações caem mais de 6%

Renault segue maior acionista da montadora japonesa, mas enfrenta restrições para vender participação

Sede da Nissan no Japão
Foto: Reprodução/IBECS
Sede da Nissan no Japão

O fundo de pensão da Mercedes-Benz vendeu nesta segunda-feira (26), em Tóquio, sua participação de 3,8% na Nissan por 47,83 bilhões de ienes (R$ 1,76 bilhão na cotação atual). A informação é da agência de notícias Reuters.

O anúncio provocou queda imediata das ações da montadora japonesa, que recuaram 6,1% no fechamento, maior baixa diária desde julho, e levantou dúvidas sobre o futuro do grupo.

A operação ocorre em meio ao frágil desempenho da Nissan, que registrou prejuízo de US$ 535 milhões (R$ 2,9 bilhões) no trimestre encerrado em junho.

Apesar da forte demanda pelos papéis ofertados – os dez maiores investidores compraram 70% do lote –, analistas destacam que o desconto de quase 6% no preço de venda reforça o pessimismo sobre a capacidade da empresa de retomar a lucratividade no curto prazo.

Impacto no mercado financeiro

Segundo a Reuters, a Mercedes-Benz vendeu as ações a 341,3 ienes cada, valor inferior ao fechamento de 363 ienes na véspera. A notícia derrubou a confiança do mercado, já que a montadora japonesa enfrenta retração das vendas em seus principais mercados, Estados Unidos e China, além da pressão de tarifas comerciais.

A Renault, que ainda detém 35,7% da Nissan, também sofre impacto. A fabricante francesa anunciou no mês passado baixa contábil de US$ 11 bilhões (R$ 58,9 bilhões) em sua participação.

Especialistas avaliam que a Renault tende a reduzir gradualmente sua fatia, mas está limitada por restrições contratuais para vender ações em mercado aberto.

O presidente-executivo da Nissan, Ivan Espinosa, apresentou em abril um plano de reestruturação que prevê cortar a capacidade de produção de 3,5 milhões para 2,5 milhões de veículos até 2027, além de reduzir o número de fábricas de 17 para 10 no mundo.

No fim de julho, ele afirmou que os ajustes estão em andamento, mas reconheceu que a recuperação ainda está nos estágios iniciais.

Entenda a crise da Nissan

A Nissan atravessa uma das fases mais delicadas de sua história recente. Em novembro de 2024, um executivo da companhia admitiu que a montadora teria até 14 meses para encontrar um investidor-âncora capaz de estabilizar as operações diante da retração das vendas nos Estados Unidos e na China. Sem um parceiro sólido, a sobrevivência da empresa ficaria em risco iminente.

Em maio de 2025, a fabricante apresentou o plano global de reestruturação “Re:Nissan”, que prevê o fechamento de sete fábricas e a demissão de cerca de 20 mil funcionários até 2027, além da redução do número de plataformas de veículos de 13 para sete.

O objetivo é cortar custos, simplificar a produção e retornar à lucratividade operacional até o exercício fiscal de 2026.

Para reforçar o caixa, a montadora também estuda vender ativos estratégicos, como sua sede em Yokohama, avaliada em quase R$ 4 bilhões, em modelo semelhante ao adotado por outras fabricantes que venderam imóveis e continuaram operando como locatárias.

A operação ainda não foi confirmada, mas é vista como passo simbólico da gravidade da crise.