
Lançado aqui em agosto de 1996, o Clio chegou como importado e consolidou presença nacional a partir de novembro de 1999, quando passou a ser produzido no Complexo Ayrton Senna, em São José dos Pinhais (Paraná).
Ao longo de quase duas décadas, alternou motores 1.0 e 1.6, ganhou versões de três e cinco portas e teve derivação sedã.
Com fama de econômico e robusto nas primeiras levas, o modelo passou por simplificações de conteúdo na segunda metade da vida e enfrentou concorrência crescente.
Houve reestilização profunda em 2013 e, após a obrigatoriedade de ABS e airbags em 2014, seguiu até 2016 na linha de montagem.
A partir de 2017, saiu de cena e abriu espaço para o Kwid, enquanto o sedã já havia sido substituído pelo Symbol em 2009.
Nesta reportagem, o Portal iG Carros apresenta um panorama completo da evolução do Fusca, de sua primeira geração até os últimos modelos fabricados, analisando as transformações que o mantiveram relevante por mais de quatro décadas.
1ª geração no Brasil (1996–1999) | Estreia como importado
O nome Clio desembarcou no país em 1996, já consagrado na Europa desde 1990. A marca mirava consumidores de hatches compactos com pacote de equipamentos que, à época, chamava atenção no segmento.

As primeiras unidades ofereciam versões com foco urbano e motores de menor cilindrada, mantendo a proposta de baixo custo de uso e manutenção.
O desenho arredondado e a cabine funcional ajudaram a criar identidade logo de início.
Ainda como importado, o carro preparou o terreno para a nacionalização. O passo seguinte viria com a inauguração da fábrica paranaense, onde o projeto evoluiu e passou a ter conteúdo adaptado ao gosto local.
2ª geração (1999–2005) | Nacionalização, expansão da família e o sedã
Com a produção iniciada em novembro de 1999 no Paraná, a segunda geração elevou o patamar do compacto no Brasil.
Além da carroceria de cinco portas, a gama incluiu versões de três portas voltadas a preço e consumo.
A linha alternou motores 1.0 e 1.6, de oito e 16 válvulas, atendendo públicos distintos: frotistas e compradores de entrada buscavam o 1.0, enquanto quem queria mais desempenho migrava ao 1.6, bem aceito em estrada.
Foi também nesse ciclo que surgiu a derivação de três volumes. O sedã, mais tarde rebatizado como Symbol, atendeu famílias e motoristas de aplicativo/locação em busca de porta-malas amplo, ajudando a ampliar a presença da marca fora do eixo puramente urbano.
Reestilizações e fase 2 (2001–2003) | Visual, acabamento e conteúdo
A partir de 2001, o hatch nacional recebeu mudanças de estilo, com faróis, grade e para-choques redesenhados.
Os ajustes externos vieram acompanhados de pequenas melhorias de acabamento e de oferta de itens de conforto.
Em 2003, a atualização mais visível — conhecida como “fase 2” — modernizou o painel e refinou detalhes de cabine, mantendo a receita de baixo custo total de propriedade.
A eletrônica de gerenciamento passou por calibrações, beneficiando consumo e dirigibilidade.
As versões de tocada mais completa incluíam direção hidráulica, ar-condicionado e pacote elétrico, então diferenciais em faixas de preço populares. O sedã acompanhou o desenho, reforçando o apelo familiar.
Flex e consolidação (2005–2009) | Etanol e o adeus do três volumes
Meados de 2005 marcaram a chegada dos motores bicombustível ao portfólio local.
O 1.0 16V flex ganhou força com etanol e o 1.6 16V flex passou a entregar números competitivos para a categoria.
A popularização do flex ajudou a manter boa procura entre taxistas, frotistas e famílias que rodavam muito no perímetro urbano.
O baixo custo de seguro e a mecânica simples preservaram o apelo de “companheiro de guerra”.
Em 2009, a Renault aposentou o três volumes da família, substituindo-o oficialmente pelo Symbol.
O hatch seguiu sozinho e começou a ter posicionamento mais focado em preço, sinalizando a transição para um papel de entrada na gama.
2010–2012 | Enxugamento de versões e foco no custo de aquisição
Na década de 2010, a estratégia comercial priorizou versões de menor preço, com simplificação de pacotes e menor diversidade de acabamentos.
A rede enfatizava condições de financiamento e baixo custo por quilômetro.
O 1.0 permaneceu como o grande volume, enquanto o 1.6 se tornou incomum.
A fórmula preservava consumo comedido, mas já destoava em segurança ativa e passiva frente a rivais mais novos.
Ainda assim, a reputação de econômico, “valente” e barato de manter seguia forte no mercado de usados, o que ajudava a sustentar a procura por configurações de entrada.
Reestilização ampla (2013) | “Cara nova”, Hi-Power e a virada dos itens obrigatórios
Em 2013, o hatch recebeu um face-lift profundo, com dianteira redesenhada e assinatura visual alinhada à identidade global da marca.
Na mecânica, ganhou o 1.0 16V Hi-Power de 80 cv, com melhorias de rendimento e respostas mais cheias em baixa rotação.
O objetivo foi prolongar a vida comercial e reforçar a eficiência. Esse ciclo coincidiu com a transição regulatória brasileira: a partir de 2014, airbags frontais e freios ABS tornaram-se obrigatórios, e o modelo se adequou às exigências.
Ao mesmo tempo, avaliações de segurança na América Latina expuseram limitações das versões mais básicas vendidas na região naquela época, o que acelerou o debate sobre conteúdo mínimo e proteção a ocupantes.
Últimos anos (2014–2016) | Sobrevida, adequações e despedida
Com ABS e airbags de série por força de lei, o hatch se manteve nas concessionárias essencialmente como opção de entrada da marca.
A lista de itens priorizava o essencial, e a comunicação destacava economia e simplicidade.
A estratégia convivia com a ascensão dos compactos “mais altos” e com multimídia, além do avanço de projetos mais recentes em plataformas modernas.
Aos poucos, as vendas se concentraram em frotas e compradores muito sensíveis a preço.
A produção nacional foi encerrada em 2016, e os estoques remanescentes sustentaram as últimas emplacagens no ano seguinte.
O posto de porta de entrada ficou com o Kwid, reforçando a guinada ao visual de apelo SUV.
Depois do Brasil (2017 em diante) | O que aconteceu com o nome lá fora
Embora tenha saído de cena aqui, o nome seguiu forte globalmente. Lá fora, a família avançou para gerações mais recentes, com oferta de motores turbo de baixa cilindrada e, em mercados selecionados, tecnologia híbrida não plug-in.
As evoluções enfatizaram segurança (itens de assistência ao condutor), conectividade e eficiência. Com isso, o modelo manteve relevância na Europa como hatch de uso urbano e rodoviário leve.
Para o consumidor brasileiro, o papel de compacto acessível migrou para projetos mais altos e conectados, enquanto o legado do nome permanece vivo no mercado de usados e em clubes de entusiastas.
Legado
Ao longo de quase 20 anos de história local, o hatch ajudou a fixar a operação paranaense da marca, popularizou o motor 1.0 16V no dia a dia e ocupou garagens de famílias, frotas e motoristas profissionais.
Teve altos e baixos de conteúdo e segurança, mas deixou reputação de econômico, “valente” e fácil de manter — qualidades que ainda sustentam a procura no mercado de usados.