Volta do Volkswagen Gol GTI foi sonho de uma noite de versão

Nem o mitológico Gol GTI nem o Gol GTS. Fontes da Volkswagen revelam que o Gol esportivo não voltará ao mercado.

VW Gol GTI: detalhes exclusivos, como a pintura Azul Mônaco e o pioneiro motor 2.0, com injeção eletrônica
Foto: Renato Bellote/iG
VW Gol GTI: detalhes exclusivos, como a pintura Azul Mônaco e o pioneiro motor 2.0, com injeção eletrônica

Para tristeza de uma legião de fãs, não vai ser dessa vez que o bem-amado Gol GTI voltará às ruas brasileiras. Muito tem se falado sobre a volta de um Gol na configuração GT (Grã-Turismo), principalmente depois que a aparição de um Gol GT Concept, no último Salão de São Paulo, causou o maior alvoroço. O designer José Carlos Pavone caprichou e criou o melhor Gol que a gente poderia amar. Mas ele é só isso mesmo: um conceito.

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Vários fatores conspiram contra a volta de um Gol esportivo seja ele Gol GTI (como prefere a maioria) ou GTS (nome que deu origem à história). O mercado hoje é globalizado, os esforços de engenharia, produção e marketing são disputados a tapa dentro de uma fábrica de automóveis e as transformações na economia simplesmente proíbem investimentos em carros que terão pouca venda.

Para se ter uma ideia, quando o Gol GTi (assim mesmo, com o “i” minúsculo) surgiu, no Salão de São Paulo de 1988, seu grande avanço técnico foi a injeção de combustível. Daí o “i” menor. Até então, todos os carros fabricados no Brasil eram equipados com carburador. O Gol GTi, que usava motor 2.0 a gasolina de 120 cv, foi um passo adiante em relação aos Gol GT (1986) e GTS (1987), ambos com motor 1.8 a álcool de “99 cv” (na verdade, passava de 100 e dizem que chegava perto de 110 cv, mas os impostos eram mais altos para carros com essa potência, então dava-se o famoso jeitinho brasileiro).

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Eram os tempos de glória do Gol, que ainda estava em seus primeiros anos de vida e acabava de assumir a liderança no mercado brasileiro, que atravessaria 27 temporadas. Com o sucesso do Gol GTS, que tinha um diferencial estético importante para a época (o aerofólio), a Volkswagen acertou a mão ao lançar o Gol GTi 2.0 na linha 1989. O carro era vendido só na cor azul, com a parte de baixo em cinza, tinha um aerofólio marcante, faróis auxiliares e uma personalidade que poucas vezes se viu em um carro brasileiro. Curiosamente, as rodas nem eram muito esportivas, para o padrão de hoje, pois não eram raiadas.

Foto: Divulgação
Volkswagen Gol GT foi a primeira versão esportiva do hatch, lançada em 1984 com motor 1.8, o mesmo do Santana

Mas o carro era um verdadeiro Grã-Turismo. Lembro que trabalhava na revista Quatro Rodas quando eu e o jornalista Jorge de Sousa, também da revista, fomos com um Gol GTi até o autódromo de Interlagos, para a cobertura de um GP do Brasil de Fórmula 1. Passamos na casa do piloto Maurizio Sala, que na época corria no Japão, e ele quis conhecer o carro. Sala foi dirigindo o Gol GTi e ficou empolgado com as suspensões (duríssimas), as respostas da direção (diretas), a posição de dirigir (bancos Recaro) e a aceleração do motor AP-2000 (fazia 0-100 km/h em 10 segundos). O primeiro Gol GTi tinha uma relação peso/potência de 8,3 kg/cv. Mas a potência específica seria um vexame para os dias de hoje: apenas 60,5 cv/litro. Para comparar, o Volkswagen Up TSI (turbo com injeção direta) tem uma potência específica de 105 cv/litro, quase o dobro!

Bem, com o tempo o Gol GTi ganhou novas cores e passou por algumas modificações técnicas. Em 1996, adotou um motor 2.0 de 145 cv, que exigiu um calombo no capô para comportar o cabeçote, pois era uma adaptação do motor 1.8 do VW Golf alemão. Hoje em dia esse tipo de solução nem é mais considerada nas montadoras. A regra é: usar o padrão do restante da linha, com os motores que já existem na casa. Houve ainda um terceiro Gol GTI (agora já com o “I” maiúsculo), produzido em 1999 e 2000, com um motor de 153 cv. Dessa vez, o AP 2.0 usava um cabeçote 16V de modelos da Audi e da própria Volks.

Como dissemos, nem na Volkswagen nem em qualquer outra montadora existe espaço para esse tipo de “romantismo” por parte dos engenheiros. Pena. Além disso, já no último Salão de Buenos Aires a Volks revelou que a missão do Gol agora é a de ser novamente o carro de entrada da marca. Isso significa que ele será o mais barato possível para brigar por preço, uma vez que o Up não conseguiu ser um modelo de grande volume.

Saudosismo

Foto: Nicolas Tavares/iG Carros
Um Volkswagen Gol GT seria uma boa pedida para o Brasil, mas o carro não vai passar da fase do protótipo

Para fazer um verdadeiro carro Grã-Turismo, o Gol não poderia usar nenhum dos motores disponíveis hoje na linha Volkswagen. O tricílindrico 1.0 TSI de 125 cv seria um retrocesso. Mesmo o motor 1.4 TSI do Golf, de 150 cv, seria complicado, apesar de a potência não fazer feio. Usar um motor do Golf no Gol exigiria mudanças técnicas que custariam tempo e dinheiro. Pra que? Pra nada.

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O Gol GTI pode voltar quando finalmente surgir uma nova geração em 2020? Pelos planos de hoje, não. Um carro Grã-Turismo, como o conceito mostrado pelo designer Pavone no Salão de São Paulo de 2016, elevaria o preço desse Gol GTI para as alturas. Então não faz mais sentido. A única chance que o Gol GTI tem de voltar ao mercado é se tudo melhorar incrivelmente no Brasil. Não apenas a venda de carros, mas também a renda per capita e os salários da classe média alta. Nas duas décadas que convivemos com o Gol GTI, bastavam algumas boas modificações mecânicas para lançar um carro desses. Hoje é preciso considerar também que os jovens estão cada vez menos interessados em automóveis, menos ainda em carros que custam muito mais do que podem pagar. É difícil mudar isso, por isso o Gol GTI vai permanecer em nossa memória.