Há dez anos, brasileiro só comprava Gol, Palio, Uno, Fox e Celta

Uma mudança radical nas linhas das montadoras, na qualidade dos carros e no perfil do consumidor mostra como o Brasil estava atrasado

Gol: o carro mais vendido da Volkswagen foi, é e talvez sempre será o Gol, um dos poucos que caiu com dignidade em dez anos
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Gol: o carro mais vendido da Volkswagen foi, é e talvez sempre será o Gol, um dos poucos que caiu com dignidade em dez anos

Os carros de passeio mais vendidos do Brasil no sétimo ano da década foram, pela ordem: Gol, Palio, Uno, Fox, Celta, Classic, Siena, Fiesta, Prisma e EcoSport. Dois modelos da Volkswagen, três da Fiat, três da Chevrolet e dois da Ford. E se considerarmos as picapes, a Strada entra em nono lugar, aumentando para quatro os modelos da Fiat e diminuindo para um a participação da Ford.

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Isso foi em 2007, e daí? Daí que olhar para o passado é a maneira mais fácil de entender o presente e planejar o futuro. Há apenas dez anos o mercado brasileiro de automóveis era um deserto de tecnologia, a classe média estava no auge e os carros de passeio pequenos e baratos dominavam as vendas.

O ranking por marcas trazia a seguinte ordem: Fiat, Volkswagen, Chevrolet, Ford e Honda. Sozinhos, a dupla Gol e Palio vendia quase metade do total do volume obtido pelos dez modelos mais procurados do mercado. Na ponta do lápis, além desses dois, o brasileiro praticamente só comprava em grandes volumes o Uno, o Fox e o Celta. Curiosamente, as quatro marcas dominantes ainda são as mesmas, só que a Chevrolet trocou de posição com a Fiat, passando para a liderança. E a asiática do momento não é mais a Honda e sim a Hyundai.

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Palio: de rival número 1 do Gol e campeão de vendas, desapareceu do mercado e hoje ocupa um melancólico 36º lugar no ranking

Se compararmos o ranking de 2007 com o de 2017, somente dois carros de passageiros permaneceram na lista: o Gol e o Prisma (com o importante detalhe que este não é mais o sedã do minúsculo Celta, mas sim do líder Onix, de categoria superior). Os mais vendidos deste ano são, pela ordem: Onix, HB20, Ka, Gol, Sandero, Prisma, Corolla, Mobi, Compass e HR-V. Dois modelos da Chevrolet, um da Hyundai, um da Ford, um da Volks, um da Renault, um da Toyota, um da Fiat, um da Jeep e um da Honda.

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Uno: o substituto do Mille começou bem entre os carros de passeio. Mas com o tempo perdeu espaço para o Mobi o atualmente disputa o 19º lugar com o VW Up

Ou seja: de quatro marcas em 2007 para nove marcas diferentes no ranking de 2017. Considerando as picapes, a Fiat colocaria dois modelos (Strada e Toro) entre os dez modelos mais vendidos, desalojando da lista a Jeep (hoje sua sócia) e a Honda. Curiosamente, nos dois casos, a Strada ocupa o novo lugar de vendas. A Strada, portanto, é um exemplo de brava resistência ao tempo.

Há dez anos, os SUVs vendiam só 6%

Basta olhar para a lista dos dez carros mais vendidos de hoje e de uma década atrás para perceber o quanto o Brasil mudou. A classe média praticamente não compra mais carro. O automóvel deixou de ser a prioridade número 1 dos jovens que fazem 18 anos. E as montadoras tiveram que rebolar muito para atender às novas demandas por tecnologia, conforto e segurança. Na verdade, o mercado  mudou tanto de 2007 para 2017 que nem parece ser um período de apenas dez anos.

Para além do óbvio (o crescimento na preferência de SUVs, que só tinham 6% da preferência e agora têm 24%), o que mais chama a atenção é a mudança no perfil do consumidor. Hoje em dia é muito mais difícil vender um automóvel do que era no sétimo ano da primeira década. O brasileiro ficou muito mais exigente, quer que o automóvel seja a extensão de sua casa ou de seu escritório. Quer carros que lhe dêem ao mesmo tempo status, conforto, praticidade e confiabilidade mecânica.

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Prisma: do décimo para o sexto lugar, de sedã do Celta a sedã do Onix, o carro da Chevrolet é um exemplo do rejuvenescimento da marca

Entretanto, ainda não coloca a segurança a bordo como um de seus pilares para a decisão de compra. A combinação de um sistema multimídia eficiente, razoável espaço interno e motores econômicos explicam a liderança do Onix, que não teve queda de vendas nem mesmo depois de ficar sem estrelas no recente teste de impacto do Latin NCAP. Já a confiabilidade e o status justificam a presença de um carro como o Corolla, muito mais caro do que a média, entre os mais vendidos deste ano.

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Quanto às marcas, a troca de posições entre a Fiat (de primeiro para terceiro lugar) e a Chevrolet (de terceiro para primeiro) também diz muita coisa. A Fiat, na verdade, não é mais Fiat – é Fiat e Jeep. A Fiat tornou-se, nos últimos anos, uma marca dedicada às picapes. Agora pode mudar com a chegada do Argo e do Cronos, mas jamais voltará a ser a marca dos carros baratos. Já a Chevrolet, que há dez anos se apegava ao Celta, ao Classic e ao Prisma da primeira geração, hoje é uma das marcas mais tecnológicas do País. Não por outro motivo, está na liderança.

Como será o mercado brasileiro em 2027? Será que, ao compararmos o ranking do sétimo ano da terceira década com o de 2017, veremos tantas mudanças? Talvez. Um novo mundo está batendo às nossas portas, o mundo dos carros de passeio híbridos e elétricos, mas alguns fabricantes resistem a aceitar que esse futuro chegou. E, com ele, uma nova revolução nos costumes dos consumidores brasileiros.