Novo Kia Sportage tem beleza e equipamentos, mas deve no motor
A partir de R$ 109.990, SUV quer conquistar mercado premium mesmo preso à cotas de importação e altos impostos
A quarta geração do Kia Sportage chega ao país com uma grande responsabilidade. Estamos falando do carro mais vendido da marca no Brasil, responsável por 51% das vendas em 2015 – mesmo sendo um veículo que custa mais de R$ 100 mil. E vem com um plano mais ambicioso: ser uma alternativa mais barata do que os outros utilitários premium com tamanho semelhante, como
Audi
Q3
,
BMW
X1
, Mercedes-Benz
GLA,
Honda
CR-V, Toyota
RAV4
e até mesmo seu compatriota Hyundai
ix35.
O argumento utilizado pelo Grupo Gandini, importadora oficial da Kia no Brasil, é que o novo Sportage oferece mais por menos. A versão de entrada LX custa R$ 109.990, enquanto a topo de linha sai por R$ 134.990 ( veja aqui mais detalhes da lista de equipamentos ). O modelo mais completo adiciona itens de segurança como controle de tração e estabilidade, detector de ponto cego e controle de frenagem em decidas.
Tive um contato bem muito curto com o Sportage nas ruas. O test-drive, realizado na cidade paulista de Itu (cidade natal de José Luiz Gandini, presidente da marca no país), foi de apenas 30 km, levando quase 30 minutos para serem percorridos considerando o tráfego. E em um percurso apenas rodoviário, visto que o ponto de saída era muito próximo da saída da cidade.
Foi o suficiente para perceber alguns detalhes. Primeiro que o motor 2.0, de 167 cv, pode ser o suficiente na cidade, mas não na estrada. Na hora de fazer uma retomada, é necessário pisar fundo para que o motor acorde o suficiente para aumentar a aceleração e encontrar a faixa ideal dos 20,2 kgfm de torque, aos 4.800 rpm.
Em um segmento com muitos motores turbo com injeção direta, o Sportage fica devendo no desempenho. Pode até ter mais potência que os rivais, mas perde no torque e no momento em que ele está disponível por completo.
Sem falar no consumo de combustível, que fica mais acentuado no Sportage por usar um motor aspirado, de maior cilindrada e sem o sistema Start-Stop que desliga o motor em paradas para economizar. Segundo o Inmetro, o Sportage continua a fazer 6,3 km/l na cidade e 7,7 km/l na estrada, com etanol, e 9 km/l na cidade e 11 km/l na estrada, com gasolina. Esse desempenho rende uma nota A em seu segmento e C no geral.
Outro problema na aceleração é o nível de ruído do motor. Como precisamos forçar bastante em uma ultrapassagem, o motor grita como se estivesse dando tudo de si enquanto as rotações sobem. A Kia diz que mexeu no isolamento, mas não vi muita diferença para o atual nestes momentos em que demandamos mais do motor.
Se não fosse por isso, o Sportage seria bem mais competente. A direção elétrica está muito bem ajustada e responde bem em todos os momentos. O câmbio automático de seis marchas está dentro do esperado para um carro desse segmento, fazendo trocas de forma mais esperta. Fica ainda melhor quando as borboletas atrás do volante são usadas para algumas trocas manuais. Embora tenha passado por poucos obstáculos, o coreano demonstrou suavidade ao rodar.
No caminho de volta, enquanto o outro jornalista guiava, pude aproveitar para conferir o resto do carro. O acabamento em couro é macio e agradável, assim como o espaço interno. Cabem três adultos nos bancos traseiro com facilidade e com amplo espaço para as pernas. Em contrapartida, o porta-malas é menor do que o esperado. Dizem que ele aumentou para 868 litros, mas passa a sensação de que só cabe isso se colocar malas até o teto.
A central multimídia faz o mínimo, com câmera de ré, conexão com celular por Bluetooth e navegador por GPS. Para um carro de nova geração vindo de um país tão conectado quanto a Coreia do Sul, ficou devendo tecnologias mais modernas como espelhamento de tela dos celulares inteligentes, item que agora aparece até em carros muito mais baratos (embora como opcional).
Por fora, o Sportage é muito mais agradável do que parece pelas fotos. Transmite uma sensação de um carro mais robusto quando olhamos para a traseira, enquanto a frente deixa bem clara que é um utilitário da Kia. À primeira vista, os faróis de neblina em LED com quatro lâmpadas parecem estranhos, mas aos poucos tornam-se bem interessantes para quem observa. Vai arrancar olhares por aí.
Apesar dos problemas, o novo Kia Sportage é uma boa pedida para quem quer um utilitário com um belo design. O que impede que conquiste uma fatia maior do mercado é a impossibilidade de vir mais em conta– a Kia tem uma cota de importação de 4.800 veículos por ano pelo Inovar-Auto, e ainda assim paga uma grande quantidade de impostos. Por isso que a marca quer que ele continue a ser o que é hoje: seu carro mais vendido, conquistando quem quer um SUV premium sem gastar tanto.
Ficha Técnica
Preço: a partir de R$ 109.990
Motor: 2.0, quatro cilindros, flex
Potência: 167 cv a 6.200 rpm
Torque: 20,2 kgfm a partir de 4.700 rpm
Transmissão: Automático, seis marchas, tração dianteira
Suspensão:Independente (dianteira) / multibraço (traseira)
Freios: Discos ventilados na dianteira e sóilidos na traseira
Pneus: 225/60 R17
Dimensões: 4,48 m (comprimento / 1,86 m (largura) / 1,67 m (altura), 2,67 m (entre-eixos)
Tanque : 62 litros
Consumo: 8,7 km/l (cidade) /11,0 km/l (estrada) com gasolina