Sob novo ângulo
SUV médio da Hyundai, que chega ao Brasil em 2025, se destaca pelo design ousado, soluções inteligentes e qualidade de manuseio
por Jorge Beher
Autocosmos.com/Chile
Exclusivo no Brasil para Auto Press
Com 24 anos de história, a quinta geração do Hyundai Santa Fe mudou tudo. Adotou um conceito radical tanto no design quanto na funcionalidade. Essas mudanças abruptas às vezes são necessárias na indústria automotiva, seja para provar um ponto, seja para definir uma nova tendência. E a marca coreana mostrou coragem ao assumir este risco em um segmento muito tradicional. Pode-se amar ou odiar, mas o Santa Fe não é apenas um outro SUV familiar. É de longe um dos SUVs mais versáteis do mercado, verdadeiramente utilitário, e também tem uma dinâmica impressionante.
Esta quinta geração do Santa Fe está prevista para estrear no mercado brasileiro no primeiro semestre de 2025. No segmento de crossover de 7 lugares, vai brigar com Jeep Commander e Chery Tiggo 8. A versão avaliada, Calligraphy, traz exatamente a motorização com maior probabilidade de desembarcar no Brasil: 2.5 Turbo com injeção direta, que rende 277 cv e 43 kgfm. Na marca, ele vai se posicionar entre o Tucson e o Palisade, com seus 4,83 metros de comprimento, 1,90 m de largura, 1,72 m de altura e bons 2,82 m de entre-eixos.
Este novo Santa Fe cresceu em relação ao antecessor, com 5 cm a mais no comprimento, mas ainda 20 cm menor que o Palisade – SUV grande que será lançado no Brasil ainda este ano. Para ganhar estes mesmos 5 cm no entre-eixos, moveu as rodas para as extremidades, o que junto com sua silhueta quadriforme, gera um espaço interno realmente grande e utilizável. A ideia da Hyundai é que o carro não seja apenas habitável e conveniente para sete passageiros, mas que dê possibilidade de dobrar os bancos para várias conveniências.
Para vestir este SUV quadriforme, a Hyundai foi na contramão dos modelos desse segmento, que são muito tradicionais e misturam elementos de minivans e utilitários esportivos mais tradicionais. Aqui temos um design com volumes fortes e linhas retas muito definidas. É quase um estilo monolítico e brutalista de alguns ângulos, mas polvilhado de referências à letra H, com detalhes modernos e diferentes, como luzes led em forma de pixels, arcos das rodas com cortes quase retos, superfícies envidraçadas e, a área mais polêmica de todas, lanternas traseiras abaixo da tampa da mala, como se fosse um caminhão ou uma van. Ou seja: nada a ver com o Hyundai Santa Fe das gerações passadas. A versão de topo Calligraphy destaca-se pelas enormes rodas de 21 polegadas.
Devido às formas quadradas, o para-brisa e algumas soluções aerodinâmicas fazem com que ele engane o fluxo de ar e atinja 0,29 Cd. Nesse mesmo aspecto, o design engana, pois é um carro que parece maior do que realmente é. As janelas escondem em um de seus pilares, uma moldura retrátil que na verdade é uma alça para poder segurar e subir mais rápido até o teto, caso você carregue um bagageiro ou uma barraca. Com esse estilo cyberpunk mais parece um carro saído de um filme de ficção científica do que um carro de mãe, categoria que enquadra boa parte dos crossovers do mercado.
O conceito retilíneo do exterior, se repete por dentro e quebra com todas as características que marcavam o Santa Fe anteriormente. Para buscar uma diferenciação da Palisade, foram escolhidos acabamentos mais funcionais, com elementos mais requintados para os bancos, o volante e em detalhes práticos, como ergonomia e espaços de armazenamento. É um carro bem acabado, mas sem luxo. A sofisticação fica mais por conta do arsenal tecnológico e da versatilidade do pela quantidade de couro utilizada. Toda a padronagem em forma de H que estão do lado de fora reaparecem por dentro. Estão nas saídas de ar, nas luzes coloridas no painel e nos bordados nos bancos. Também no volante aparece o famigerado H da Hyundai, mas aqui em código Morse, com quatro pontos, assim como nos modelos mais novos da marca.
O painel curvo esconde duas telas de 12,3″, uma para o painel de instrumentos e outra para o sistema multimídia. Todas as interfaces gráficas são simples, de alta resolução e muito informativas. As interfaces podem mudar de design dependendo dos modos de operação, com relógios mais minimalistas ou esportivos. Por outro lado, o sistema multimídia é muito fácil de usar, muito lógico e permite gerenciar a assistência à condução, controle climático, música, conectividade e outras funções de conveniência.
O conteúdo de conforto do Santa Fe nesta versão de topo é muito marcante. Os bancos dianteiros, além de elétricos e climatizados, têm um sistema de reclinação semelhante ao de um ônibus leito, ideal para tirar uma soneca após o almoço ou para descansar na estrada. Os bancos traseiros e o volante são aquecidos. O controle climático frontal possui uma tela independente sensível ao toque para algumas funções e com botões para definir a temperatura de cada lado. Ele tem ainda uma bandeja de esterilização UV acima do porta-luvas, para afugentar insetos.
O carro mantém comandos físicos para o sistema multimídia e outras funções do carro, como sensores de estacionamento ou modos de direção. O seletor de transmissão foi transferido para a parte traseira do volante e libera um espaço central multifuncional muito completo, com duas bandejas de carregamento sem fio, plugues USB-C visíveis, porta-copos, compartimento inferior oculto, apoio de braço com fundo duplo e abertura dupla, que esconde gavetas para os bancos traseiros. A versão traz ainda teto solar duplo, retrovisor que pode funcionar como espelho ou como monitor da câmera traseira e head-up display.Os bancos da última fila têm um bom equilíbrio entre conforto e espaço. Eles não são espaçosos, mas não são os mais apertados do segmento. A Hyundai criou um mecanismo de rebatimento fácil dos bancos que permite dobrar a fila do meio apenas apertando alguns botões e abrir um espaço de carga completamente plano. As fileiras do meio são muito generosas e trazem ganchos, luzes, maçanetas e cortinas nas portas.
Na parte de segurança, o Santa Fé cumpre o padrão para o segmento, com seis airbags, alerta de passageiro no interior, câmera de ré, monitor de pressão dos pneus e sensores de estacionamento dianteiros e traseiros. O pacote ADAS está disponível a partir da versão intermediária. Ele contém monitoramento de atenção do condutor, alerta de colisão com frenagem autônoma inclusive em baixas velocidades, esterçamento de direção evasiva para colisão frontal e lateral, assistência de faixa, controle de cruzeiro adaptativo, assistência de desembarque segura, monitor de ponto cego, assistência de tráfego cruzado traseiro e câmera 360° com função de realidade aumentada (Fotos de divulgação).
Impressões ao dirigir
Suave na nave
O novo Santa Fe hoje é oferecido com três alternativas de motor. No caso da versão de topo Calligraphy, está disponível o mais potente, um 2.5 TGDI – turbo com injeção direta de gasolina ‑ com 277 cv e 43 kgfm, associado a uma caixa automática de dupla embreagem de 8 velocidades. A potência é enviada para as quatro rodas, sob demanda, com o sistema AWD da marca, com programa H-Trac, que inclui modos de tração e modos de direção, para poder gerenciar melhor a aderência do carro em condições difíceis, como lama, neve ou areia.
O sistema H-Trac, desde o início, distribui a tração para as quatro rodas, mas depois de 20, 25 km/h ele se comporta quase como um carro de tração dianteira, mantendo pouco ou nenhum torque no eixo traseiro, até que seja necessário. Os modos de condução de tração atuam na gestão da transmissão e do ESP, assim como na grande maioria dos carros e que busca emular o trabalho que um diferencial de escorregamento limitado faria, mas com os freios e a gestão de potência do carro.
As acelerações são fortes e conseguem mascarar o fato de ser um carro grande e familiar. A suspensão também surpreende porque, mesmo com rodas de 21 polegadas, o carro é confortável e refinado. Não muito macia, mas também não quica nem bate fim de curso quando é forçada. A unidade já era um tanto rodada para os padrões de modelos de avaliação, com quase 13 mil km. E como um bom modelo de teste, foi devidamente abusado. Parecia um carro novo, sem barulho ou rangidos, a não ser pelos freios, já cansados e com uma certa perda de eficiência.
Em síntese, o Santa Fe é um carro muito agradável de dirigir, onde tudo está à mão e com boa potência. A direção, o chassi e a suspensão são altamente refinados e proporcionam uma experiência de direção segura e confortável. Em relação às assistências de condução, funcionaram corretamente na hora certa, com rigor, mas sem exageros. Eles podem se formar, mas o melhor é que pelo menos nunca tivemos falsos positivos. Se há críticas, elas vão para a sensação de direção, muito sintética, e para o consumo, que ficou em torno de 6 km/l na cidade e no máximo 12 km/l na estrada respectivamente.