Uma nova dimensão de Luxo
Zeekr lança no Brasil o requintado X, crossover compacto da nova marca chinesa
por Eduardo Rocha
Auto Press
A maior parte das marcas ocidentais de luxo nasceram como fabricantes comuns. Casos de Mercedes-Benz, BMW, Bentley, Cadillac e Rolls-Royce foram ganhando prestígio à medida que se mostravam confiáveis e caprichavam no acabamento. Já com as marcas orientais, o caminho foi bem diverso. Lexus, Acura, Infinity ou Genesis foram criadas por grandes fabricantes (na ordem, Toyota, Honda, Nissan e Hyundai) para enfrentar as rivais já consagradas. Agora que a China está se tornando o centro automotivo do planeta, nada mais natural que outras grandes fabricantes também apostassem nos segmentos mais altos do mercado. Nesse ambiente, a gigante chinesa Geely, que já tem controle sobre a Volvo, criou a Zeekr, especializada em automóveis de luxo elétricos, que acaba de lançar no Brasil o crossover compacto X.
Trata-se do segundo modelo da marca no país. O primeiro chegou há pouco mais de um mês o modelo 001, uma shooting break ou perua esportiva. De 2021, quando foi inventada, até agora, a Zeekr já lançou mundialmente seis modelos (tem ainda um SUV médio, dois monovolumes e um sedã), sendo que os dois deles já apresentados no Brasil são as extremidades da gama. Ou seja: a shooting break 001 e o X seguem estratégias diferentes. Enquanto a 001 está no topo do portfólio da Zeekr no mundo – e custa R$ 428 mil na versão Premium e R$ 475 mil na Flagship –, o crossover compacto X é o modelo de entrada da marca. O que está longe de significar que é barato. A versão mais simples, Premium, fica em R$ 272 mil, enquanto a top Flagship sai a R$ 298 mil.
O X divide plataforma e diversos recursos com o Volvo EX30. Mas nitidamente a pegada do crossover da Zeekr não busca uma identificação com modelos SUVs. Um rival compatível com ele em relação a tamanho, a formato e a preço seria o Renault Megane E-tech, que custa R$ 279.990, embora o modelo francês tenha uma potência significativamente menor que a da versão Premium: 220 cv com 30,6 kgfm contra 272 cv e 35 kgfm do X. Assim como o Volvo EX30, o modelo chinês conta com tração traseira. Já a versão Flagship tração nas quatro rodas, já que traz um motor para cada eixo. O rendimento da versão de topo também é mais imponente, com 428 cv e 55 kgfm. A versão Premium, que tem 1.855 kg, faz de zero a 100 km/h em 5,4 segundos, enquanto a Flagship, com 1.960 kg, cumpre o trabalho em impressionantes 3,8 s. As máximas são, respectivamente, 185 e 190 km/h.
Além do motor e tração, a diferença da versão Flagship está em detalhes como bancos dianteiros com massageador, rodas de alumínio forjado de 20 polegadas (de alumínio com 19 polegadas na Premium), pneus autorreparáveis (pneus comuns na Premium), e a possibilidade de optar por um interior em duas cores. No mais, todos os recursos de segurança e conforto. Ele conta com um pacote ADAS bem completo, sete airbags, acesso por cartão NFC com sensor na coluna central e bancos dianteiros com ajustes elétricos, aquecimento e ventilação, ar-condicionado digital duplo que obedece a um sensor de vida (uma criança ou um pet, por exemplo) e se mantém em funcionamento mesmo com o carro desligado e trancado. Outro ponto positivo é o bom aproveitamento de espaço para os passageiros em relação ao tamanho. Ele tem 4,43 metros de comprimentos com um entre-eixos de 2,75 m. Já o porta-malas é apenas razoável, com 362 litros.
Na parte de detalhes que vendem a ideia de luxo e tecnologia começa com a maçaneta externa embutida e continua por dentro com um botão que destrava e abre a porta alguns centímetros. O ambiente é dominado pela tela central flutuante de 14,6 polegadas, através da qual se controla todas as funções do carro. A central multimídia faz espelhamento sem fio de aplicativos Apple CarPlay e Android Auto, tem conectividade 5G e conta com um inédito sistema de som premium desenvolvido pela Yamaha com 12 alto-falante e um subwoofer. O painel conta com uma tela de 8,8 polegadas e há ainda head-up display projetado no para-brisa, inclusive com orientações do GPS nativo.
Dois detalhes decorativos, mas atraentes: a iluminação interna em led, com uma fileira de blocos de acrílico, semelhantes a blocos de gelo, no console frontal, que pode ser configurada em 64 cores diferentes. Elas podem pulsar como uma respiração ou acompanhar o som da música, assim como o miolo dos alto-falantes instalados na coluna dianteira. Para reforçar a ideia de requinte, a decoração traz revestimentos em cinza médio ou em creme e cinza com alguns comandos em acabamento em bronze.
Mas nem tudo impressiona positivamente. Caso do revestimento dos bancos, em um couro sintético com uma textura muito plástica (coisa que aparentemente não incomoda ao público chinês, já que é assim em marcas como BYD e GWM). Outro ponto problemático é o teto de vidro panorâmico, que abrange as duas fileiras de banco e não conta com uma cortina elétrica. Mesmo que o índice de isolamento térmico seja de 82%, com Fator de Proteção Solar de 50 e isolamento de UV em 99.9%, o X ainda não enfrentou o alto Verão brasileiro, com insolação superior a 50º, que costuma desmoralizar estas supostas qualidades. Muito mais simples instalar uma cortina.
A parte estrutural e de alimentação das duas versões é semelhante. A bateria tem capacidade de 66 kWh e aceita recarga em corrente contínua com potência de até 150 kW e em corrente alternada de até 11 kW na versão Premium e 22 kW na Flagship. A autonomia prometida para a versão com tração traseira é de 332 km, enquanto a AWD fica em 304 km, seguindo os critérios de consumo do InMetro. A suspensão dianteira é do tipo McPherson, que traz o amortecedor embutido na mola helicoidal, enquanto na traseira é multilink, como convém em um modelo de luxo. Os freios são a disco ventilado nas quatro rodas e ainda conta com o sistema regenerativo.
A Zeekr não faz previsões de venda. Ronaldo Znidarsis, líder das operações da Zeekr no Brasil, diz apenas que qualquer um com disposição de gastar R$ 300 mil em um automóvel luxuoso e moderno é um cliente em potencial. E a expectativa da marca para o modelo é grande e o primeiro lote importado foi de 400 unidades. É bastante, levando-se em conta que é uma marca desconhecida. Mas se o modelo cair no gosto do público brasileiro, o executivo garante que em menos de 90 dias pode encomendar um modelo na China, importar e entregar no Brasil. “É um prazo menor que se você encomendar um modelo específico de uma marca que tem fábrica no Brasil”, sustenta Znidarsis.
Primeiras impressões
Sangue novo
Nunca é uma opção tranquila marcar um teste de apresentação na cidade de São Paulo. Dependendo do humor do trânsito, uma volta que em condições normais levaria 15 minutos pode se transformar em uma procissão de mais de duas horas. Em um lançamento, esse tempo ainda pode ser útil para observar todos os pormenores do carro em questão. No caso, o Zeekr X, com o dia nublado, o teto panorâmico nu, sem cortina retrátil, não chegou a incomodar. Mas dá para antever a sauna que o habitáculo pode se transformar em dias, comuns nos trópicos, em que o sol se assemelha a um maçarico. Na ocasião, o único incômodo foi a qualidade do revestimento em couro sintético. Mas não dá nem para se apegar nessa questão. Afinal, o X tem diversos outros pontos de atração.
Ainda parado, as configurações das luzes internas e das telas requerem uma boa dose de curiosidade, já que são inúmeras as possibilidades. Essas luzes ficam no console frontal, nos alto-falante das colunas, no painel das portas e nas iluminações indiretas sob o painel e no console central. O volante, que tem um formato próximo ao de um retângulo com as quinas bem arredondadas, encaixa bem na mão e não atrapalha a visão do painel. O som também tem uma qualidade impressionante. O que não surpreende pois, apesar de a Yamaha ser um iniciante na sonorização automotiva, a marca dos três diapasões nasceu como uma empresa de instrumentos musicais, antes de se aventurar nas motocicletas. Para qualquer ponto que se olha no interior, há uma solução de design original e sofisticada. Até aqui, a Zeekr faz bem o papel de sangue novo no segmento de luxo.
Em meio ao trânsito pesado, surge uma pequena janela para que se possa acelerar o modelo. No caso, era a versão de tração traseira Premium. Embora, com seus 272 cv, seja mais fraca que a top Flagship, de 428 cv, a aceleração é daquelas que pressiona os ocupantes contra o encosto dos bancos – que, aliás, mais parecem poltronas. O peso das baterias, de aproximadamente 350 kg, faz com que o modelo reverbere para o interior um pouco das irregularidades, mas também gera uma forte neutralidade na movimentação lateral da carroceria. Mais que um motor silencioso, como é comum em carros elétricos, o X tem ainda um isolamento acústico de primeira qualidade.