2024, um ano eletrizante
Eduardo Rocha
2024, um ano eletrizante

Choque de uma nova realidade

A aposta em modelos eletrificados dominou os lançamentos em 2024

por Eduardo Rocha

Auto Press

Numa sociedade em que o estímulo ao consumo é avassalador, o setor automotivo entrou de cabeça na eletrificação dos modelos, que está inflamando ainda mais a febre de SUVs e crossovers que corrói o mercado nos últimos anos. Sendo lógico ou não, está cada vez mais normalizado encontrar modelos movidos a bateria andando nas ruas. E vão desde modelos de luxo, como Audi Q6 e-tron até os mais em conta, como o BYD Dolphin Mini, modelo elétrico mais vendido no ano. Nesse campo, os chineses estão dando uma surra nas chamadas marcas ocidentais (que conceitualmente incluem sul-coreanas e japonesas), por conta da capacidade de produzir baterias e automóveis com custos muito menores. De qualquer forma, o glamour ainda trabalha a favor do Ocidente, mas é questão de tempo até os chineses conseguirem diferenciar couro sintético de qualidade, com toque semelhante a couro de verdade, de outro que mais parece vinil de estofado de loja popular.

Audi Q6 e-tron – O crossover médio-grande registra uma nova fase para a fabricante alemã. Ele estreia na marca a plataforma PPE (Premium Electric Platform), desenvolvida em conjunto com a Porsche, e também inaugura uma nova nomenclatura da Audi, em que os números pares designam modelos 100% elétricos e os ímpares ficam para veículos com motor de combustão interna, híbridos ou não. O Q6 e-tron é responsável também por novidades na linguagem visual, com o grupo de luzes divididas, com luzes de posição colocados na parte superior e faróis principais logo abaixo. A clássica grade frontal gigante foi mantida, com trama em forma de colmeia e sem abertura. A motorização escolhida para o Brasil é a de 285 kW (387 cv), com 59,2 kgfm de torque, tração integral e autonomia de 411 km. O zero a 100 km/h é feito em 5,9 segundos e máxima fica em 210 km/h. O Q6 e-tron custa a partir de R$ 559.990.

BMW M2 Coupé – O menor dos esportivos da família M da BMW chegou no início deste ano ao Brasil e já emplacou 250 unidades. Nada mal para um modelo compacto de duas portas que custa a partir de R$ 647.950. O cupê, que é produzido exclusivamente no México, tem um desenho que parece esculpido com uma talhadeira. Apesar de ser categorizado como compacto, o M2 mede 4,58 metros de comprimento ‑ com 1,89 m de largura, 1,40 m de altura com 2,75 m de entre-eixos e é montado na plataforma de tração traseira, a mesma usada no esportivo Z4. O motor é o conhecido seis cilindros em linha 3.0 biturbo capaz de entregar 480 cv e 61,2 kgfm de torque. Ele empurrar o M2 de zero a 100 km/h em 4,0 segundos, com máxima de 250 km/h. Esse limite pode ser elevado para 285 km/h com o pacote opcional Track, que aumenta a nota fiscal para R$ 699.950.

BYD Dolphin Mini – Em 2023, a fabricante chinesa lançou um forte ataque ao mercado de elétrico no Brasil, com o compacto elétrico Dolphin, que emplacou quase 7 mil unidades e forçou as demais marcas a reverem suas inchadas tabelas de preço. Mas o ataque mais fulminante estava guardado para 2024, com o Dolphin Mini, que chegou ao mercado em março e ultrapassou as 21 mil unidades vendidas – mais que compactos tradicionais como Citroën C3, Peugeot 208 e Honda City. O modelo tem 3,78 metros de comprimento, 1,72 m de largura, 1,58 m de altura com 2,50 m de distância entre-eixos e porta-malas de 230 litros. Ele é bem completo, com direito a suspensão multilink na traseira e freio a disco nas quatro rodas. O motor tem 75 cv de potência, ou 55 kW, e 13,8 kgfm de torque. A bateria de 38 kWh fornece uma autonomia de 280 km. O desempenho é modesto: máxima de 130 km/h e zero a 100 km/h em 14,9 segundos. Obviamente, o bom desempenho de mercado tem a ver com o preço do Dolphin Mini, abaixo dos R$ 120 mil, mas a marca corre o risco de passar a sofrer rejeição por conta dos trabalhadores chineses em condições análogas à escravidão nas obras da fábrica, em Camaçari, na Bahia.

BYD Shark – A marca chinesa fez uma aposta ousada. Acreditou que conseguiria suplantar o conservadorismo do setor agro com sua picape híbrida e poderia mudar a estratégia de atrair consumidores através de preços agressivos, como faz em todos os segmentos. Até aqui, com pouco mais de dois meses completos de mercado, não deu muito certo: foram cerca de 300 unidades emplacadas – bem distante das 1.500 mensais projetadas. A picape tem pontos de atração, como a tecnologia embarcada e a potência de 437 cv de potência, com 65 kgfm de torque, geradas por um motor 1.5 turbo e dois motores elétricos, um para cada eixo. Mas a pequena autonomia elétrica, de 57 km, e o preço salgado, de R$ 379.800 na versão única GS, espantaram a freguesia. Para corrigir o rumo, a marca chinesa está oferecendo bônus de R$ 40 mil na troca e está ensaiando a chegada da versão GL, mais simples, que reduziria o preço para mais próximo de R$ 300 mil, mais alinhada com as picapes médias mais tradicionais.

Chevrolet Equinox EV – A marca estadunidense está aproveitando a eletrificação do mercado para renovar a imagem. E um símbolo dessa nova fase é o Equinox EV, um crossover com linhas elegantes e acabamento luxuoso. O modelo está disponível no Brasil, por valores a partir de R$ 419.990. O Equinox EV usa a plataforma Ultium da GM na versão mais alta, com dois motores elétricos, um por eixo, e tração AWD. No total, são 292 cv de potência e 46,0 kgfm de torque. A máxima é limitada a 183 km/h e a aceleração de zero a 100 km/h é feita em 5,8 segundos. A bateria de 85 kWh líquidos é uma das vantagens deste modelo, mais seguras que as LG usadas no Bolt e com autonomia de 443 km.

Chevrolet Spin – O até então monovolume da General Motors foi revocacionado em março para passar a ser oficialmente um SUV. A marca mudou a inclinação do capô, deixando-o mais horizontal, e promoveu um face-lift que modificou totalmente frente e traseira. O modelo manteve o consagrado motor 1.8 SPE/4 Flex, que rende 106/111 cv de potência, com 16,8/17,7 kgfm de torque. Deu certo. As vendas, que mantinham a média mensal e 1.700 unidades, passou para 2.500 – quase 50% a mais.

Citroën Basalt – O sucesso do Fiat Fastback, que junta os conceitos de SUV e cupê, foi a deixa para que o projeto do Citroën Basalt emplacasse. O modelo chegou no último trimestre do ano e no primeiro mês de vendas regulares já emplacou mais de 900 unidades, quase 30% das vendas da marca. Entre os atrativos do modelo, estão os bons propulsores 1.0 GSE de três cilindros da Stellantis, na versão aspirada com 71/75 cv nas versões de entrada e turbo com 125/130 cv nas de topo. Além disso, os preços são bem agressivos, entre R$ 97 mil e R$ 116 mil.

Fiat Pulse e Fastback Hybrid – A marca italiana fez uma pequena incursão no mercado de eletrificados com a importação do simpático (e caro) 500e. Foi apenas uma firula, pois na prática de mercado a fabricante é bastante pragmática. E foi exatamente com este espírito que lançou sua linha híbrida no Brasil, nos modelos Pulse e Fastback. Em ambos, a lógica é usar o pequeno motor/gerador elétrico de 4 cv e 1 kgfm apenas para aliviar o trabalho do motor a explosão GSE 1.0 Turbo, de 125/130 cv, em momentos críticos, como arrancadas e retomadas em baixos giros. Com o sistema, o modelo ficou R$ 4 mil mais caro e 10,7% mais econômico no ciclo urbano, em apresentar ganhos em ciclo rodoviário.

Fiat Titano – A marca italiana se valeu da fama que conquistou com a compacta Strada e a média-compacta Toro para se aventurar no segmento de picapes médias. Para não investir em um projeto próprio, a Fiat decidiu colocar sua marca no modelo Landtrek da Peugeot, montado pela Nordex no Uruguai. Trata-se de uma picape de conceito bem tradicional, que tem boa aceitação nos países sul-americanos, enquanto no Brasil, o segmento é tomado por uma certa exuberância. Por um lado, a Titano tem menos recursos tecnológicos e menor potência, com 180 cv. Por outro lado, traz um preço mais acessível. Essa pegada menos glamourizada e mais racional causou uma certa rejeição inicial, mas aos poucos vai ganhando espaço. Começou com médias em torno de 700 unidades mensais, em 7º e último lugar no segmento, mas finaliza o ano com mais de 1300 emplacamentos em dezembro, à frente de Mitsubishi L200, Nissan Frontier e Volkswagen Amarok.

Mini Cooper S – Por baixo da carroceria, o novo Mini Cooper não maiores alterações estruturais. O foco nesta quarta geração do modelo foram os novos atributos eletrônicos e manteve a lógica de valorizar o condutor e, como em um kart, nada além do motor e das rodas importa. O Mini Cooper S desembarcou no Brasil em julho, poucos meses depois de ser apresentado na Europa. A versão de duas portas e quatro lugares, está sendo oferecida por R$ 239.990, enquanto a versão de quatro portas e cinco lugares começa em R$ 249.990. Sob o capô, ele manteve o excelente motor 2.0 com turbo duplo (Twin Scroll) e injeção direta, mas com potência foi aumentada de 192 para 204 cv e torque de 28,5 para 30,6 kgfm, com aceleração de zero a 100 km/h em 6,6 segundos – era 6,7 s –, graças a uma caixa automática de dupla embreagem Steptronic de sete velocidades, com paddle shifts no volante, que ativa também o modo Boost.

Peugeot 2008 – A marca francesa não tem conseguido repetir no Brasil o bom momento que tem vivido em outros países. E isso acontece muito por conta de uma má memória, por conta da maquiagem do hatch 206 em 207 anos atrás, e também por conta da grande defasagem entre os modelos lançados lá fora e os que chegam ao Brasil. Esse estranhamento chegou ao ponto de a Peugeot ter abandonado a fábrica brasileira em Porto Real, no Rio de Janeiro, e transferir toda sua produção para El Palomar, nos arredores de Buenos Aires. O lançamento da segunda geração do SUV 2008, mesmo com quatro anos de atraso, está representando um novo começo. As vendas vêm crescendo mês a mês e em dezembro, chegarão próximas de 2 mil emplacamentos, marca jamais obtida nos mais de nove anos de mercado da primeira geração – que, aliás, vinha de médias pífias, abaixo de 150 emplacamentos mensais. O preço mais realista e a boa motorização GSE 1.0 Turbo de 125/130 cv ajudaram no fenômeno.

Renault Kardian – A marca francesa quer valorizar sua marca no Brasil e o crossover Kardian é parte fundamental desse projeto. Mesmo que compartilhe a estrutura com o Dacia Sander vendido na Europa, desta vez os pontos de contato externos são discretos. Por outro lado, internamente a distância é ainda maior: o modelo produzido no Paraná é bem mais caprichado, sem nenhum ranço de modelo de baixo custo. Outro ponto favorável é o motor 1.0 turbo de três cilindros, derivado do 1.3 TCe usado no Duster, que rende 120/125 cv e bons 20,4/22,4 kgfm. Com tudo isso, as vendas começaram a decolar e em novembro bateu as 4.300 unidades. E a tendência é ampliar ainda mais as vendas, com a chegada da versão com câmbio manual R$ 11 mil mais barata, a partir de R$ 106.990.

Volvo EX30 – O crossover elétrico não é só o menor elétrico da marca sueca produzido até agora, como foi concebido para ter a menor pegada de carbono no ciclo de vida, se comparado a qualquer outro Volvo. Quase 60% de materiais reciclados, incluindo 25% de alumínio reciclado, 17% de aço reciclado e 17% de plástico reciclado. Claro que esse raciocínio é também a senha para usar materiais de baixo custo, principalmente no acabamento. De qualquer forma, acabou resultando também em um menor custo de aquisição. No Brasil, há versões a partir de R$ 229.950, o que é bem atraente para um modelo de uma marca consagrada como a Volvo. O EX30 tem 4,24 metros de comprimento, com 1,84 m de largura, 1,55 m de altura com entre-eixos de 2,65 m – dimensões semelhantes a de modelos como Chevrolet Tracker e Volkswagen T-Cross. No modelo vendido no Brasil, ele traz um motor único na traseira, com 272 cv e 35 kgfm de torque. A versão de entrada tem bateria de 51 kWh e autonomia de 250 km, enquanto as demais versões têm bateria de 69 kWh e autonomia de 338 km. Em 2024, o modelo teve cerca de 2.400 unidades vendidas no Brasil.

Zeekr X – A novíssima marca chinesa de luxo dosou muito bem seus passos para entrar no mercado brasileiro, no final de 2024. A Zeekr pertence à Geely, que por sua vez é proprietária da Volvo, se vale da vantagem competitiva de já ter plataforma e estrutura de desenvolvimento para oferecer carros realmente requintados com preços de marcas generalistas. É o caso do crossover X, que divide a plataforma com o EX30, custa um pouco mais caro, entre R$ 272 mil e R$ 298 mil, mas tem um recheio bem mais completo. Desde as tecnologias disponíveis até a motorização. Na versão de entrada, Premium, é exatamente como o EX30: apenas motor traseiro com 272 cv e 35 kgfm. Na configuração de topo Flagship, são dois motores que somam 428 cv e 55 kgfm e tração nas quatro rodas. A versão Premium faz de zero a 100 km/h em 5,4 segundos, enquanto a Flagship cumpre em 3,8 s. A bateria é sempre de 66 kWh e a autonomia é de 332 km para a versão RWD e de 304 para a AWD.

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