
Alternativa nativa
Kicks Play se revela uma boa solução para a Nissan no mercado de compactos
por Eduardo Rocha
Auto Press
O rebatismo e reposicionamento do Kicks não atrapalhou o desempenho do SUV da Nissan no mercado. As vendas do Kicks Play, a primeira geração com um apêndice no nome, não arrefeceram nem mesmo com o anúncio da chegada da segunda geração do modelo, que sustenta a média de 4 mil unidades. E essa é uma boa notícia para a marca japonesa, já que ela precisa mesmo outras alternativas para o mercado de compacto a combustão, já que está previsto o fim da produção do sedã Versa ainda este ano, sem um substituto imediato, para que a montadora se dedique mais a modelos eletrificados.
A explicação para o bom desempenho do Kicks Play é bem óbvia: mesmo que tenha sido simplificado para se posicionar abaixo da segunda geração do crossover compacto, manteve os elementos essenciais que o tornaram bem-sucedido, como robustez, confiabilidade e eficiência. Além disso, as linhas do carro que não passam a impressão de ser um modelo antigo. E junto com tudo isso, tem preços competitivos: A versão Sense sai a R$ 129.690, enquanto a básica Active Plus fica em R$ 117.990 e a top Advance, em R$ 148.090.
O Kicks Play dispõe de três versões, sendo a intermediária Sense a que busca unir a melhor equação de custo/benefício. Traz os recursos quase obrigatórios para brigar no segmento, sem deixar muitas carências. Tem até luxos como câmera de ré, sensor de luz e rodas de liga leve, que se juntam a itens como ar-condicionado, travas, direção, vidros e espelhos elétricos, central multimídia de 7 polegadas e seis airbags. Na aparência também traz detalhes como maçanetas na cor do veículo, barras de teto prateadas e grade frontal com friso cromado.
Ficaram de fora alguns recursos atraentes, mas a maior parte deles, dispensáveis. Casos do revestimento em couro sintético, da chave presencial ou do painel digital, presentes na versão de topo Advance. Perde ainda pequenos detalhes, como navegação no computador de bordo através do volante multifuncional ou apoio de braços. Mas a versão Sense também deixa de fora equipamentos úteis, como alerta de colisão com frenagem autônoma – item que será obrigatório para novos projetos a partir de 2026 e para todos os automóveis novos em 2029.
Sob o capô, o Kicks Play manteve o mesmo motor 1.6 16V de 110/113 cv de potência máxima a 5.600 rpm e torque de 14,9/15,2 kgfm a 4 mil rpm, gerenciado por um câmbio CVT. É um propulsor capaz de movimentar com agilidade o Kicks, que é um modelo extremamente leve para o segmento, com 1.139 kg. A relação peso/potência fica ligeiramente abaixo de 10 kg/cv, índice considerado bem satisfatório (Fotos de Eduardo Rocha, Auto Press).
Ponto a ponto
Desempenho – O conceito básico do Kicks, que combina potência mediana e baixo peso, torna o modelo eficiente e racional, com desempenho coerente. O propulsor 1.6 16V aspirado de 110/113 cv e 14,9/15.2 kgfm é robusto e confiável. E mesmo acoplado a um câmbio CVT, movimenta bem o SUV compacto, com acelerações progressivas, embora sem muito vigor. Em ambiente urbano ou rodoviário, a sensação é que a potência é suficiente. Nota 7.
Estabilidade – O acerto da suspensão do Kicks Play equilibra bem conforto e estabilidade. A direção é direta e a rolagem nas curvas é muito bem controlada para um modelo altinho, com quase 1,60 de altura. Nas retas, mesmo em velocidades altas, o comportamento é bem neutro, sem balanços e sem exigir correções. Nota 8.
Interatividade – O Kicks é um projeto da década passada, mas foi bem atualizado. Agora que virou Play, perdeu praticamente todos os recursos mais avançados – sobrou apenas o alerta de colisão com frenagem autônoma na atual versão de topo Advance Plus. A versão intermediária, Sense, tem apenas sensor de luz e câmera de ré (sem sensor) e a navegação no computador de bordo fica mal localizado, em um botão em um pequeno console do lado esquerdo do volante. Nota 7.
Consumo – Na avaliação do Programa Brasileiro de Etiquetagem do InMetro, o Kicks Play obteve um desempenho mediano. O modelo recebeu nota C na categoria e C na classificação geral, com médias de 7,8/9,4 km/l com etanol e 11,3/13,7 km/l com gasolina na cidade/estrada. Nota 6.
Conforto – A razão de ser de um SUV urbano ou crossover é ter um bom espaço interno em relação ao tamanho externo. O Kicks Play está bem dentro desse parâmetro. A suspensão é ligeiramente rígida, mas oferece um ótimo controle da carroceria – e o fato de rolar menos, melhora o conforto a bordo. Os bancos Zero Gravity (gravidade zero), distribuem o apoio do corpo em vários pontos e, mesmo sendo firmes, são bastante confortáveis. O isolamento acústico ficou um pouco menos eficiente que no antigo Kicks, mas ainda é bom. Nota 8.
Tecnologia – O Kicks Play deu um passo atrás em relação ao antigo Kicks. Na parte construtiva, no entanto, ainda é um carro moderno, com carroceria leve e motor robusto. A central multimídia não tem espelhamento sem cabo e a versão não traz qualquer recurso ADAS. Nota 7.
Habitabilidade – O Kicks Play receber muito bem quatro passageiros e é bastante espaçoso para um crossover compacto. A altura da carroceria facilita o acesso ao habitáculo e oferece sensação de amplitude aos ocupantes e uma ótima visualização do trânsito para quem está ao volante. O porta-malas tem bons 432 litros e tem o piso elevado facilita o uso no dia a dia. A cabine traz porta-objetos à frente da alavanca de câmbio, no console central e nas portas. Nota 8.
Acabamento – O interior do Kicks Play Sense tem forração em tecido de boa qualidade, que prioriza a praticidade. A decoração é elegante, monocromática com detalhes em prata e preto brilhante. As texturas são agradáveis, mas sem qualquer pretensão de requinte. A montagem é sólida e os materiais, resistentes. Nota 7.
Design – Apesar de ter uma década de mercado, o desenho do Kicks resiste ao tempo. Embora não seja moderno nem tenha um visual tecnológico, é simpático e tem personalidade. Na traseira, a barra em acrílico reflexivo que interliga as lanternas o atualizou em relação a este modismo chinês que se espalhou pelo mercado. Nota 8.
Custo/benefício – O Kicks Play Sense está cotado em R$ 129.690, prelo coerente com o que o carro oferece. Ele tem a função de atuar na base do segmento de SUVs/crossovers compactos para brigar com versões de entrada de Chevrolet Tracker, Volkswagen T-Cross e Fiat Fastback, entre outros. A Nissan aposta na fama de resistência e eficiência do modelo e deixa para o futuro Kicks, maior e mais requintado, a briga com a versões mais altas do segmento. Nota 7.
Total – O Nissan Kicks Play Sense somou 73 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
A essência prática
As qualidades fundamentais do Nissan Kicks não foram perdidas quando o modelo ganhou o sobrenome Play. Trata-se de é um crossover, mesmo que tenha status de SUV, especialmente bom de conviver, fácil de entrar, interagir, circular no trânsito, sem quaisquer estranhamentos. Ele une conforto e a dirigibilidade semelhante aos de um carro de passeio com a altura interna e distância livre para o solo de um SUV. O conceito dinâmico básico é ser leve, ter motor de potência mediana, com uma relação peso/potência próxima de 10 kg/cv, e ser razoavelmente econômico se comparado a seus pares.
A mudança no câmbio CVT promovida na atualização de 2021 ainda vale. Através do controle eletrônico da transmissão, a Nissan alongou a relação máxima e encurtou a mínima. E nem mesmo a adequação aos padrões do Proconve L8, que reduziu a potência máxima de 115 para 113 cv e o torque de 15,5 para 15,2 kgfm, o Kicks manteve as arrancadas convincentes e a boa agilidade em velocidade medianas, como as usadas em trânsito urbano. O nível de consumo melhorou também – com médias cerca de 0,2 km/l melhores –, mas não a ponto de receber notas muito vistosas do InMetro. Ficou mesmo no C, tanto no geral quanto na categoria.
Em relação ao conforto, os bancos ergonômicos aliviam, mas não evitam que a rigidez da suspensão e a fraca filtragem de irregularidades afete um pouco o conforto. O isolamento sonoro é de muito boa qualidade, o espaço interno é típico de um SUV/crossover – ótimo para quatro e razoável para cinco ocupantes – e o trem de força é equilibrado, sem qualquer pretensão esportiva. A central multimídia é o ponto que mais denuncia a idade do modelo. O espelhamento é feito somente com o uso de cabo e a tela de 7 polegadas é pequena para os padrões atuais. Mas tudo isso é periférico. Nas funções primordiais de um carro, o Nissan Kicks Play é bastante eficaz.
Ficha técnica
Nissan Kicks Play Sense
Motor: Gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.598 cm³, com quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro e comando com variação contínua de abertura das válvulas. Acelerador eletrônico e injeção eletrônica multiponto sequencial.
Transmissão: CVT, continuamente variável, com modo Sport. Tração dianteira. Oferece controle eletrônico de tração de série.
Diâmetro e curso: 78 mm X 83,6 mm. Taxa de compressão: 10,7:1.
Potência máxima: 110/113 cv a 5.600 rpm com gasolina/etanol.
Torque máximo: 14,9/15,2 kgfm a 4 mil rpm com gasolina/etanol
Aceleração 0-100 km/h: 11,8 segundos (11,3 segundos com câmbio manual).
Velocidade máxima: 175 km/h.
Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson com barra estabilizadora. Traseira por eixo de torção. Oferece controle eletrônico de estabilidade de série.
Pneus: 205/55 R17.
Freios: Discos ventilados na frente e tambor atrás. ABS com EBD. Oferece assistência de partida em rampa e frenagem autônoma de emergência.
Carroceria: Utilitário esportivo compacto em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,31 metros de comprimento, 1,76 m de largura, 1,59 m de altura e 2,61 m de distância entre-eixos. Oferece airbags frontais, laterais e de cabeça de série.
Peso: 1.139 kg.
Capacidade do porta-malas: 432 litros.
Tanque de combustível: 41 litros.
Produção: Resende, Rio de Janeiro.
Lançamento: 2016 com face-lift em 2021.
Lançamento da versão Play: 2025.
Preço: R$ 129.690.