
Risco calculado
por Jorge Beher
Autocosmos.com/Chile
Exclusivo no Brasil para Auto Press
Nos últimos anos, a Honda mudou sua abordagem ao mercado brasileiro. Passou a produzir localmente apenas HR-V e City e iniciou a importação do ZR-V, para ocupar uma faixa entre os seus compactos nacionais e os médios Civic e CR-V, que agora só chegam em versões híbridas. Ou seja: se os modelos da Honda nunca foram os mais acessíveis em seus segmentos, nessas versões híbridas eles extrapolam a lógica de mercado. O SUV médio CR-V e:HEV, por exemplo, um híbrido de baixa autonomia elétrica, está sendo oferecido por R$ 352.900. Esse preço supera o de modelos híbridos plug-in, de mesmo porte.
O CR-V visa mais a função de utilitário do que a de esportivo. Ele tem design elegante, interior muito racional e uma boa eficiência oferecida pelo sistema híbrido. Segundo o InMetro, ele é capaz de percorrer 14,2 km/l na cidade e 11,6 km/l na estrada. Nada mal se comparado aos SUVs médios a combustão, que sofrem para fazer 7 km/l na cidade. Mas o confronto com os PHEV não deixa o CR-V bem na fita. Modelos como Chery Tiggo 8, BYD Song Plus e GWM Haval 6 chegam a médias de consumo equivalente, que combina em modo elétrico e a combustão, na casa de 30 km/l na cidade e 25 km/l na estrada.
Ainda assim, o CV-R mantém uma média de vendas de 80 unidades mensais. E é por conta de uma fidelidade inspirada na confiabilidade e na elegância do modelo. As dimensões do crossover vindo da Tailândia são típicas do segmento. Tem 4,71 metros de comprimento, 1,89 m de largura, 1,69 m de altura e 2,70 m de entre-eixos. A distância para o solo é de 20,8 cm, a capacidade do porta-malas é de 581 litros e o peso total é de 1.831 kg.
Essa sexta geração usa a plataforma do Civic 11, por isso a coluna dianteira foi recuada em 12 cm. Isso acabou criando um capô bem alongado, o que deu linhas bem elegantes ao modelo. Ele traz ainda alguns detalhes que caracterizam os híbridos da Honda, como acabamentos em preto brilhante e a borda azul no emblema da marca. Há ainda detalhes exclusivos dessa versão, como a entrada de ar inferior com grade ativa, que auxilia no gerenciamento térmico e aerodinâmico do motor, as rodas de 19 polegadas com pintura preta e duas saídas de escapamento cromadas, uma falsa à esquerda e outra real à direita. Na tampa, o emblema e:HEV é mantido à direita.
O porta-malas é espaçoso e possui um sistema de fechamento automático, que espera o usuário se afastar para fechar. A roda sobressalente é substituída por um kit de reparo para que o espaço da roda sobressalente seja destinado às baterias do sistema híbrido, que mesmo com pouca capacidade, apenas 1,06 kWh, ocupa espaço. É um carro discreto e sóbrio pensado para um público mais clássico ou tradicional.
O trem de força do CR-V Advanced Hybrid é composto por um motor de combustão de ciclo Atkinson de 2,0 litros, que oferece 147 cv e 19,4 kgfm, enquanto o propulsor elétrico oferece 184 cv e 34,2 kgfm – na combinação, fica em 207 cv e 34,2 kgfm. Esse conjunto está associado a um sistema de tração AWD, uma caixa de câmbio E-CVT e um sistema de regeneração de energia com modo manual através de uma espátula no volante.
O interior traz uma evidente influência direta do Civic, que rejeita todos os tipos de formas futuristas ou clichês atuais, voltando às raízes de um bom carro japonês, embora com materiais melhores. Devido à herança de sua plataforma, a posição de dirigir também está mais próxima da de um carro do que da de um SUV – mas não tanto quanto no ZR-V. A ergonomia é perfeita, tudo é ordenado e organizado nos lugares mais lógicos para uma operação simples e intuitiva. Todos os comandos ficam visíveis, o que não é mais tão usual atualmente. O controle climático, por exemplo, com botões físicos cromados de boa qualidade com telas internas, separadas do sistema multimídia e outras funções do carro.
A mesma lógica definiu o desenho do seletor de marcha. A alavanca é alta talvez um tanto fora de moda, mas é bastante prática. O console da transmissão concentra tudo o que tem a ver com mover e frear o carro, como modos de condução, controle de descida e freio de estacionamento. Mesmo os espaços de armazenamento, que não são muitos, são funcionais, como o cubículo sob o apoio de braço com bandeja removível ou os bolsos nas portas.
O painel de instrumentos é 100% digital, com 10,2 polegadas, com dois tipos de visualizações e um computador de bordo muito simples de usar, além de ser muito informativo com fluxo de energia, tração e consumo. O sistema multimídia é mantido, com tela de 9 polegadas, botões físicos de um lado e uma interface que, embora pareça desatualizada e clássica para os tempos atuais, é tremendamente simples de usar graças aos seus ícones grandes e organizados. Faz espelhamento de Apple CarPlay e Android Auto sem fio, tem Bluetooth e um fantástico sistema de áudio Bose de 12 alto-falantes com subwoofer.
Na parte de materiais, o revestimento é em couro sintético de boa qualidade, há inserções semelhantes a madeira e teto solar panorâmico. O CR-V replica por dentro a mesma sensação que provoca do lado de fora, de ser um carro elegante, mas que não se mostra sofisticado ou moderno. Não que um festival das telas ou controles minimalistas sejam melhores, mas parece que a Honda só está se dirigindo à sua bolha, que compra modelos da marca a priori.
O melhor do interior, por outro lado, é o espaço. Principalmente os bancos traseiros, com encostos reclináveis, portas grandes, janelas grandes. É um dos SUVs mais espaçosos e confortáveis do segmento, mesmo com as baterias do sistema híbrido. Em relação à segurança, o crossover traz o mesmo pacote ADAS Honda Sensing, que é muito completo. Ele se soma aos 10 airbags padrão que a marca indica, juntamente com a direção semiautônoma de nível 2. E traz ainda um head-up display que exibe informações ADAS junto com a velocidade. O único ponto criticável é a baixa resolução das imagens tanto da câmera do sistema Lanewatch quanto da de ré.
Impressões ao dirigir
Ação sob controle
O motor 1.5 turbo está homologado no InMetro com um consumo de 14,2 km/l na cidade e 11,6 km/l na estrada. Em geral, esses resultados de laboratório não conseguem ser reproduzidos na vida real, mas graças aos modos de operação, é possível chega bem perto. O famoso modo Econ da Honda, tão restritivo no modelo convencional, agora é muito agradável de usar e é o que permite o melhor manuseio urbano, aproveitando ao máximo as baterias. No trânsito, funcionando apenas com eletricidade, o CR-V economiza muito. Já os modos Normal e Sport tornam a resposta do acelerador mais instantânea.
O sistema híbrido opera em modo 100% elétrico, em modo combinado ou apenas com o motor de combustão em altas velocidades. Isso é gerenciado de forma totalmente automática de acordo com seu estilo de direção e condições de rota, bem como a energia armazenada nas baterias. O modo elétrico funciona principalmente em baixas velocidades ou para manter uma certa faixa de velocidade. O modo híbrido é basicamente o motor elétrico e o motor de combustão apoiando-se mutuamente nas fases em que cada um apresenta deficiências.
O grande problema com esse motor híbrido é a falta de torque em alta. Na estrada, a 100-110 km/h, não há força alguma para ganhar velocidade. Nesse caso, o motor de combustão funciona em altas rotações e o CVT vai engolindo toda potência extra. Isso porque o motor 2.0 funciona muito melhor com a ajuda do motor elétrico e o motor elétrico se abstém em altas velocidades. Por outro lado, na condução urbana, o motor elétrico dá a energia de forma instantânea.
A tração dá prioridade ao eixo dianteiro na grande maioria dos usos, mas nos modos mais agressivos e nas arrancadas, o sistema distribui mais para o eixo traseiro, para garantir a aderência. No CR-V, a plataforma Civic recebe um reforço para atender às exigências de um carro maior, mais alto e mais pesado. E essa rigidez extra é perceptível em trechos sinuosas e dá ao carro um comportamento muito automobilístico, como andar sobre trilhos.
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