
Tradição resignificada
Como anda o hatch elétrico MG4, modelo de estreia da marca no Brasil
por Jorge Beher
Autocosmos.com/Chile
Exclusivo no Brasil para Auto Press
A MG até fez uma investida no Brasil, no início da década de 2010, com dois modelos médios a combustão: o cupê de quatro portas MG 6 e o sedã 550. Chegou a vender umas poucas centenas de unidades em dois anos de mercado, mas logo bateu em retirada. Na época, a marca de origem britânica já pertencia à SAIC, uma das quatro grandes fabricantes estatais da China. Nesse ano, a MG está preparando sua volta ao Brasil, mas com outra abordagem: vai aproveitar a onda chinesa e trazer inicialmente três modelos elétricos: o hatch compacto MG4, o SUV médio S5 e o pequeno esportivo Cyberster. E o modelo de estreia será o compacto MG4, que já foi até homologado pelo InMetro, com consumo equivalente de 43,3km/l na cidade e 37,4 na estrada.
O modela está previsto para ser lançado no quarto trimestre de 2025, deve custar a partir de R$ 180 mil e tem a missão de bater de frente com outros compactos elétricos, como BYD Dolphin, GWM Ora 03, Peugeot e-208 e Chevrolet Spark, embora o MG4 tenha um entre-eixos de 2,71 metros, que o coloca em vantagem sobre os rivais. As dimensões gerais são, de fato, mais próximas às de um hatch médio, com 4,28 m de comprimento, 1,84 m de largura e 1,50 m de altura. A altura livre para o solo é de 15 cm e o porta-malas comporta 289 litros, com estepe temporário.
Uma característica marcante do modelo é o design agressivo, com conjunto ótico principal em formato de triângulo bastante agudo. A parte inferior do para-choque é ocupada por uma entrada de ar com aletas ativas combinadas com um spoiler. Os clusters nas extremidades do para-choque, logo abaixo dos faróis, são apenas estéticas e incluem luzes em led. A silhueta plana ajuda na aerodinâmica, assim como o spoiler duplo no limite entre o teto e a tampa traseira, as saias laterais, as lanternas projetadas e as rodas de 18 polegadas.
Todo o design do MG4 tenta valorizar a herança esportiva da Morrison Garages, nascida na Inglaterra pouco mais de 100 anos atrás. A traseira chama a atenção mais pela originalidade do que pela estética. As lanternas colocadas bem nas extremidades dos para-lamas são conectadas pela já popularizada conexão por uma barra de led, interrompida pela logomarca octogonal ao centro. As linhas são sempre marcadas, com cortes bastante agressivos.
No habitáculo, o mais marcante é a pequena bandeja flutuante que se projeta a partir do console central. Ali fica o grande botão giratório para selecionar a marcha, o freio de estacionamento elétrico e o carregador sem fio para o celular. No mais, tudo é bastante convencional. Acima do console, há uma tela flutuante para a central multimídia com 10,25 polegadas, com uma linha de teclas logo abaixo. O tablier é cortado de fora a fora por uma entrada de ar e o volante multifuncional traz um nicho de controles em cada um dos dois raios.
Esses nichos trazem comandos programáveis na forma de pequenos joysticks – pode-se estabelecer, por exemplo, que vão comandar o computador de bordo, o som ou até mesmo os modelos de condução. O painel de instrumentos fica alojado em uma tela de 7 polegadas atrás do volante. Já os acabamentos não podem ser apontados como um ponto alto do MG4. Entende-se que se o MG4 não fosse um carro elétrico, provavelmente seria algo muito equivalente a um modelo do segmento C, o que exigiria materiais de gerem uma maior qualidade percebida. Há muitas áreas com plásticos duros, que facilitam o surgimento de pequenos rangidos.
O equipamento do MG4 é bem completo. Na versão de topo, que no Brasil deve se chamar Luxury, inclui aquecimento de banco e volante, câmera 540°, estofamento misto de tecido e couro, retrovisor central fotossensível e ignição automática – basta coloca em D e acelerar pois o carro detecta automaticamente a proximidade da chave. Como em um bom carro elétrico com plataforma tipo skate, o espaço é generoso e isso significa que há espaços de armazenamento suficientes na parte central e espaço mais do que suficiente para quatro adultos.
O pacote de segurança traz seis airbags, sensor de ré e recursos ADAS como controle de cruzeiro adaptativo, farol alto automático, alerta de colisão com frenagem automática de emergência, assistente de manutenção de faixa, assistente de engarrafamento, alerta de tráfego cruzado, monitor de ponto cego e alerta de colisão traseira, entre outros. O MG4 está na montado na plataforma modular MSP Nebula, que permite diferentes configurações técnicas, como vários níveis de potência e tipos diferentes de bateria. A versão Luxury que virá para o Brasil vai contar com uma bateria de 64 kWh fabricada pela CATL. Isso permite atingir uma autonomia máxima de 364 km, pelo padrão do InMetro.
O hatch chinês tem outro detalhe que tem a ver com a origem esportiva do modelo, que é ter tração traseira. No Brasil, ele vai contar com um motor de 203 cv e 25,5 kgfm, o que o torna um carro ágil e rápido (é bom lembrar que há alguns anos, um esportivo compacto tinha entre 200 e 300 cv de potência. A versão mais completa, a XPower, tem números mais impressionantes. Ela tem tração AWD e seus dois motores elétricos geral 435 cv e 61,2 kgfm, mas mantém a mesma bateria de 64 kWh. Daí a autonomia cair para 279 km. Por outro lado, faz de zero a 100 km/h em 6,5 segundos.
Primeiras impressões
Aquém do visual
Ao contrário do modelo XPower, o MG4 Luxury não é um carro esportivo, apesar do visual. Não possui freios de alto desempenho e nem suspensão esportiva. Acelerando no modo Sport a partir da imobilidade, ele tem uma arrancada limpa, enérgica, mas bastante controlada. Possui outros modos, como Econômico, Normal, Neve e Personalizável. O ruim é que eles não são selecionados quando você desliga o carro. Esses modos são muito definidos e serão uma ferramenta muito útil quando se trata de gerenciar o consumo de energia do carro.
A potência e o fato de ter tração traseira revelam, ao contrário do que se pode pensar, que o chassi também não é tão esportivo. Parece leve para a força do motor, mas é sintético demais, especialmente quando se dirige mais rápido. Essa combinação desarmoniosa vem acontecendo com vários carros elétricos. Eles têm potência de esportivo, mas não trazem uma suspensão rígida o suficiente nem pneus tão aderentes, Até mesmo a sensação na direção parece mais voltada para o conforto do que para a capacidade de resposta. É como dirigir um Toyota Corolla padrão, mas com 200 cv de potência.