Teste: Renault Megane E-Tech é quase que um R.S. movido a eletricidade

Crossover acelera mais rápido do que um Sandero RS e representa o retorno dos modelos franceses da marca ao Brasil

Foto: Divulgação
O estilo é de carro longo, baixo e largo, proporções bem agressivas

O Renault Mégane chegou a ser produzido no Brasil a partir de 2006, um carro muito mais evoluído do que era importado anteriormente. Eu consegui dirigir todas as versões, entretanto, a perua Grand Tour 2.0 manual de seis marchas era a preferida. Depois, em 2013, foi a vez do Mégane RS importado e seu desempenho à moda de Nürburgring, com uma versão bem preparada e turbinada do motor da station wagon. Ambos são modelos muito bons de andar e que ocupam um espaço da parte do cérebro responsável pela memória. No entanto, o meu preferido passou a ser o Megane E-Tech, crossover elétrico que chega por R$ 279.900.

O crossover é daqueles automóveis que fazem com que o jornalista nem precise de um parágrafo inteiro para falar do design, uma vez que as fotos são mais eloquentes. Os faróis de LEDs enfezados, os novos logotipos, a linha envidraçada alta, a traseira ousada e os para-lamas traseiros ressaltados como uma garrafa retrô da Coca-Cola dizem tudo

O design interno também é arrojado, tem uma mistura bacana de tecidos e ostenta um grande painel digital de 12,3 polegadas, cujas configurações de visualização variam. O câmbio fica na coluna, solução que abriu espaço para muitos porta-trecos e espaços para copos. A central multimídia tem 9 polegadas, longe das 12 oferecidas lá fora - ela também é horizontal e guarda um espaço para o carregador sem fio de celular logo abaixo. Há quatro entradas USB-C, duas à frente e duas atrás . O volante tem design com as bordas superior e inferior achatadas, botões sensíveis e ótima empunhadura. 

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Estilo de crossover inclui para-lamas traseiros arqueados e queda de teto ousada

Carros elétricos têm todo torque instantâneo que você poderia pedir para Nikola Tesla. Qualquer motor esportivo - V8 incluído - tem que girar para entregar toda a fúria que tem, uma ação que costuma ser despertada por reduções de marcha. O E-Tech não, ele responde de maneira mais ligeira que o antigo Megane RS . Pisou, foi. 

Até aí, tudo bem, quase todos os elétricos são assim, o que varia é a intensidade, pois as diferenças de potência e torque nem sempre os deixam mais rápidos do que um equivalente a combustão, está aí o Kwid E-Tech , que não me deixa mentir. 

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Os 100 primeiros compradores receberão um carregador do tipo wallbox

No caso do Megane, são 220 cv e 30,6 kgfm de torque, energia que é suficiente para levá-lo de zero a 100 km/h em 7,4 segundos, à frente dos 8 s do Sandero RS, mas atrás dos 6 s exigidos pelo Megane RS . Ficar no meio termo de carros tão rápidos é uma boa marca para o Renault elétrico. Ainda há uma versão de 130 cv lá fora. A velocidade máxima toca nos 160 km/h, algo normal para um elétrico, dado que ir além disso iria exaurir as baterias rapidamente. 

Entretanto, nem todos os elétricos são gostosos assim de dirigir. Não é só uma questão de rigidez estrutural elevada ou da bateria rente ao solo, característica que deixa o centro de gravidade semelhante ao de uma cobra. O Megane E-Tech vai além disso. O trecho de rodovia do teste só mostrou que ele tem um bom isolamento até um pouco mais de 120 km/h - o vento invade um tico depois desse ponto - e respostas rápidas em ultrapassagens.

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Central multimídia mais horizontal é menor do que a aplicada no E-Tech top de linha lá fora

Na cidade, a suspensão fez o seu trabalho de equilibrar maciez em frequências altas (aquelas imperfeições contínuas) e firmeza nas baixas. Os pneus Continental EcoContact 195/60 são aro 18 e, a despeito disso, têm uma boa altura, sem atrapalhar na missão de lidar com o nosso piso .

Foi na hora de enfrentar curvas que ele mostrou suas diferenças em relação aos rivais. A relação de direção diz respeito à relação entre o quanto você gira o volante e as rodas viram. No Megane, isso é 12:1, o que significa que a frente aponta muito quando você mexe só um pouco o volante . Basta um toque para uma mudança de faixa. Desenhar algumas trajetórias pode ser feito sem tirar uma das mãos para entrar mais na curva. É uma relação tão baixa que chega a ser usada em alguns carros de corrida, o que ajuda também no bom diâmetro de giro de 10,4 metros, o mesmo de um Chevrolet Onix .

Ainda bem que os bancos que misturam tecido e couro artificial contam com bons apoios laterais, do contrário, seria difícil segurar o corpo nas curvas. As costuras amarelas lembram o tom da antiga divisão RS.

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Renault Mégane E-Tech europeu tem central vertical de 12 polegadas

Da mesma maneira, frenagens mais pesadas não fazem com que o crossover embique a frente demais, tampouco ela levanta muito em acelerações. 

Voltando ao duro mundo da racionalidade, vamos ao pacote de itens e outras características. O espaço interno é semelhante ao de um SUV compacto. São 4,20 metros de comprimento, 2,05 m de largura (1,77 m sem retrovisores), 1,52 m de altura e 2,68 m de distância entre-eixos , que basta para levar quatro adultos. Embora o piso seja plano, pessoas mais altas sentirão falta de espaço para colocar seus pés embaixo dos bancos dianteiros, especialmente o do carona. Para compensar um pouco, o porta-malas leva bons 440 litros . 

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Banco do motorista não tem ajustes elétricos, mas os apoios laterais e conforto são ótimos

Entre os itens de série, o Megane E-Tech traz ar-condicionado duas zonas (tem saída para os passageiros de trás) , direção elétrica, volante e espelhos retrovisores (têm rebatimento elétrico) aquecidos, chave presencial, som Arkamys com seis alto-falantes, abertura elétrica do porta-malas, iluminação interna personalizável, central multimídia de nove polegadas ( tem Android Auto e Apple CarPlay sem fio ), faróis de LED adaptativos, rodas aro 18 (pneus 195/60), retrovisor interno formado por uma tela digital, sensores de estacionamento dianteiros, laterais e traseiros e câmera de ré. 

Além da central multimídia vertical de 12", não vieram os ajustes elétricos dos bancos dianteiros, rodas aro 20 e som Harman Kardon, itens disponíveis nas versões mais caras do Renault vendido na Europa . A nossa configuração é parecida com a Equilibre em algumas coisas. São itens que, se incorporados, encareceriam o produto, mas a central é um ponto que não deveria ter sido cortado. Pelo menos o som Arkamys é de seis alto-falantes e ar-condicionado digital - por lá, o básico vem com quatro e o A/C é analógico.

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Espaço traseiro é bom para quatro adultos e o piso é plano

Por outro lado, é necessário lembrar que um Megane E-Tech básico de 220 cv sai por cerca de 40 mil euros na França, onde ele é construído, o que poderia deixar o modelo inviável no Brasil, ainda mais diante da concorrência pesada.

Seguindo o novo padrão de medição do PBEV, a autonomia no uso misto é de 337 km . Em uma estação de corrente contínua (DC) de até 130 kW, são necessários 36 minutos para carregar a bateria de 15% até 80% de carga . Já um wallbox de 22 kW vai exigir 1h50 - os 100 primeiros compradores receberão um, algo que deve esgotar rápido. Em uma tomada doméstica, contudo, vai passar de oito horas.

A marca aposta que o seu novo importado francês vai concorrer com o Byd Yuan Plus  (R$ 269.990) e o Volvo XC40 Recharge  (R$ 329.950). No entanto, a grande ameaça pode ser também da fabricante sueca: o EX30 , crossover que começará a ser vendido no início de 2024 e tem preços entre R$ 219.950 e R$ 279.950.

Ficha técnica - Megane E-Tech

Motor: dianteiro, elétrico, 220 cv de potência e 30,6 kgfm

Câmbio: automático, tração dianteira

Direção: elétrica, diâmetro de giro de 10,4 metros

Suspensão: McPherson na dianteira e multilink na traseira

Freios: discos ventilados na dianteira e discos sólidos traseira

Pneus: 195/60 R18

Peso: 1.680 kg

Dimensões: 4,20 metros de comprimento; 1,77 m de largura (sem espelhos) e 2,05 m (com espelhos); 1,52 m de altura; 2,68 m de distância entre-eixos; porta-malas de 440 litros