
Carros elétricos são mais seguros, potentes e eficientes do que se imagina, afirma Clemente Gauer, coordenador do Grupo de Trabalho sobre Segurança e membro do Conselho Diretor da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).
Em entrevista ao Portal iG Carros, Gauer rebateu os principais mitos que ainda afastam consumidores da tecnologia no Brasil.
Entre os temas abordados estão autonomia, recarga, riscos ambientais e funcionamento sob chuva.
Para Gauer, a maioria das dúvidas surge antes da compra e desaparece com o uso cotidiano.
Na prática
De acordo com estudo da Recurrent Auto, empresa especializada do setor automotivo dos Estados Unidos, "a preocupação do consumidor com autonomia é um fenômeno que precede a compra do veículo elétrico", diz Gauer.
Após a aquisição, segundo ele, apenas 10% dos motoristas mantêm a preocupação.
Na cidade de São Paulo, onde a velocidade média é de 20 km/h, um modelo de entrada com autonomia de 280 km permite até 14 horas seguidas de uso.
Para longas distâncias, já existem carros com mais de 500 km de alcance, como o Chevrolet Blazer EV.
"Hoje também dispomos de mais de 15 mil carregadores públicos, que auxiliam nessas viagens", afirma.
O desempenho, segundo Gauer, também é superior ao de modelos a combustão.
“Recentemente, o portal Carwow demonstrou a superioridade de aceleração de um Kia EV6 GT em comparação a uma Ferrari Purosangue equipada com motor V12 de 725 hp”, afirma.
No Brasil, exemplifica, o BYD Seal de R$ 250 mil tem aceleração equivalente à de superesportivos que custam mais de R$ 1 milhão.
A recarga e o uso no dia a dia

Sobre o tempo de recarga, Gauer afirma:
"Para cerca de 80% dos brasileiros — os que recarregam em casa — o ‘tempo de recarga’ são apenas três ou quatro segundos: o tempo de conectar o cabo e ir dormir".
Durante viagens, modelos mais modernos já conseguem recarregar em menos de cinco minutos.
“Ainda assim, o elétrico leva vantagem, pois pode ser carregado em casa ou no trabalho, evitando os costumeiros deslocamentos até o posto”, observa.
Os carros também podem ser recarregados em qualquer tomada comum, embora com tempo maior. E, mesmo sob chuva ou em enchentes, não há risco de choque:
"Os componentes elétricos dos veículos elétricos são protegidos por rigorosos padrões internacionais de isolação e vedação contra a entrada de água", afirma.
O impacto ambiental e a manutenção
Sobre o argumento de que o carro elétrico não é realmente “zero emissão”, Gauer responde:
"O carro elétrico é zero emissão no local de uso: não possui escapamento e beneficia a saúde pública".
Ele destaca ainda que baterias de lítio não contêm metais pesados como chumbo e que veículos a combustão utilizam materiais de mineração mais agressiva, como paládio e irídio.
Há três empresas em São Paulo que já fazem a reciclagem dessas baterias, como a Energy Source, em São João da Boa Vista.
A manutenção também é considerada mais simples.
"A ‘saúde’ de um elétrico resume-se basicamente ao estado de saúde da bateria", diz Gauer.
Um scanner é suficiente para checar o nível de degradação, que gira entre 6% e 8% a cada 100 mil km.
Há registros de veículos com mais de 500 mil km rodados e baterias originais.
Segurança e mitos
Em caso de colisão, o risco de incêndio é menor do que em carros convencionais, segundo dados da AutoInsuranceEZ.
"Veículos elétricos, quando comparados a modelos a combustão da mesma faixa etária, podem ser até 62 vezes mais seguros", diz Gauer.
Entre os mitos que ainda persistem, Gauer menciona legislações como a Lei n.º 13.440, de 2002, que proíbe o uso de celulares em postos de gasolina por risco de faíscas.
“Com os carros elétricos ocorre algo semelhante: episódios são tão raros que, quando acontecem, viralizam e geram temor desnecessário”, afirma.
Segundo ele, o carro elétrico representa uma alternativa mais segura a veículos com combustíveis inflamáveis:
"O carro elétrico desponta como solução para a inflamabilidade dos combustíveis e dos postos, como demonstram casos recentes de explosões em postos no Rio de Janeiro e em Roma, ou o incêndio no aeroporto de Luton, na Inglaterra".