TÓQUIO - A autopista suspensa que vai da capital japonesa até a cidade de Yokosuka, margeando a Baía de Tóquio, lembra muito o nosso Elevado da Perimetral, demolido entre 2013 e 2014. Para um carioca, o percurso tem sabor de volta no tempo... Só que, nesta viagem, teremos um singular ingrediente futurista.
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Vamos de carona em um Nissan Skyline de última geração. Sentado à nossa direita, no banco do motorista (lembre-se que o Japão adota a direção à inglesa), vai o tranquilo e infalível Shiro Nagai, gerente de imprensa da marca japonesa. E, apesar de o carro estar deslizando a 90km/h, Nagai não toca o volante.
O luxuoso sedã é o primeiro modelo da marca a trazer o ProPilot 2, um sistema com autonomia de nível 3 mas que, por prudência, a Nissan prefere chamar apenas de “tecnologia de assistência ao motorista”.
Com base em informações de câmeras, radares, sonares, GPS com precisão de centímetros e mapas 3D de alta definição, o dispositivo funciona apenas em vias expressas.
O ProPilot 2 não atua, por exemplo, em túneis onde não haja sinal de GPS, áreas de pedágio, faixas de convergência nem estradas sem separação física entre as pistas de mãos opostas.
Só para estrada
Destino programado no GPS, e o sistema se torna disponível no exato momento em que o automóvel deixa o emaranhado de ruas da cidade e entra numa rodovia ou autopista — basta apertar uma tecla. Daí, funcionará até o carro chegar à saída prevista no navegador. Ao longo desse trajeto, o motorista pode soltar as duas mãos do volante e tirar o pé dos pedais de acelerador e freio.
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Isso não significa desligar-se da estrada. Esporadicamente, há orientações por meio de sinais visuais ou sonoros. Uma câmera no alto do painel monitora, todo o tempo, para onde o motorista está olhando.
Nagai faz uma demonstração: já que está com as duas mãos livres, pega o celular no bolso e passa a ler mensagens enquanto o sedã avança sozinho pelo elevado.
Para o carona de primeira viagem, a sensação de ver o motorista tirar os olhos da pista por tanto tempo, com o Skyline em alta velocidade, é um tanto assustadora. Mas bastam uns sete segundos para que um suave “bip” eletrônico toque e uma voz feminina de sintetizador peça: “Olhe para a frente!”.
O mesmo acontece quando Nagai vira o pescoço para a conversar comigo. Sete segundos e... “bip”. Caso o motorista não obedeça ao alerta eletrônico de voltar os olhos para a pista, o ProPilot 2 se desativará e será preciso reassumir o controle manual.
As ultrapassagens
Há um caminhão lento à frente? O sistema avalia o tempo necessário para a ultrapassagem e poderia até fazer o serviço por conta própria. Contudo, por causa de uma exigência da legislação japonesa, o motorista precisa autorizar a ação: basta tocar o volante e apertar um botão que o carro cuida do resto sozinho, de forma bem suave e precisa — melhor do que muito motorista humano (o primeiro ProPilot, lançado em 2016 no Nissan Serena , só funcionava em uma única faixa de rodagem).
Caminhão ultrapassado? Um alerta visual mostra que já é possível voltar à faixa de antes — e o motorista autoriza novamente, apertando uma tecla no volante.
É possível programar o cruise control para uma velocidade até 10km/h maior do que a permitida na via (câmeras leem as placas de trânsito). Quer trocar de faixa de rolamento? Dê seta e toque o volante com as duas mãos.
Após 25km de percurso, o sobressalto inicial deste jornalista brucutu se transforma em tranquilidade. Para o motorista, o dispositivo significa conforto em viagens longas. Tudo já parece muito seguro e intuitivo — mais presente do que futuro.
Quando o Skyline se aproxima da saída programada no GPS, ouve-se um sininho e o aviso da moça-robô: “Em 500m, saída à esquerda”. Assim que o sedã chega à rampa de saída da via expressa, a condução por navegação é desativada e Nagai reassume o controle total do veículo.
Sem Lidar
Além do software de inteligência artificial, há sensores ultrassônicos, um radar na dianteira e quatro nas laterais, além de sete câmeras trifocais, de grande precisão a longa distância. A exemplo do Autopilot dos Tesla, o ProPilot 2 não traz o caro Lidar (espécie de radar sensível à luz, que usa laser para criar uma versão virtual em 3D do mundo à sua volta). A promessa é de que um dia, não muito longe, até modelos baratos da marca japonesa trarão o sistema semiautônomo.
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Para o Brasil, contudo, o uso ainda depende de homologações e investimento em recalibragens. Segundo a marca japonesa, dentro de uns três anos já deveremos ter uma versão do ProPilot em outros modelos além do Nissan Skyline
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