Fala, galera. Beleza? Quero confessar que nos últimos textos eu estava meio revoltado. Precisava desabafar e tentar abrir os olhos dos leitores que nem tudo são flores no mundo da mobilidade elétrica. Ainda precisamos construir muita coisa, mas tenho prazer em fazer parte da construção.
Todavia o domingo desta semana me deu fôlego para trazer as boas novas da mobilidade elétrica para a nossa coluna semanal. Fui fazer uma visita a um casal de amigos que se tornaram a inspiração para este texto.
Trata-se de um casal de amigos da ABRAVEi (Associação Brasileira dos Proprietários de Veículos Elétricos Inovadores) muito bacana, a quem tenho grande admiração. Mas o motivo da visita não foi para tomar um café, foi para registrar o novo carro da família, um Volvo XC40 Recharge, versão P6.
Para quem não está familiarizado com os carros da Volvo, a montadora lançou primeiramente o XC40 Recharge P8 AWD, o primeiro veículo 100% elétrico, com dois motores e 78 kWh de capacidade. O sucesso foi tão grande que o primeiro lote de 300 carros se esgotou em apenas 20 dias sem ninguém ter feito test drive.
Logo após, a Volvo lançou o C40 Twin Ultimate, versão cupê da XC40, com aerodinâmica melhor, que proporcionou autonomia maior usando o mesmo tamanho de bateria. Outro sucesso de vendas.
Entretanto, a empresa decidiu causar ainda mais no mercado de veículos elétricos lançando um XC40 mais “simples”, se é que podemos falar isso de um Volvo. O XC40 Recharge P6 é equipado apenas com um motor dianteiro e um pack de baterias de 69 kWh, mas com consumo melhor, que garante autonomia semelhante ao XC40 P8.
Com uma versão quase R$ 80.000 mais barata, a Volvo conseguiu alcançar outra parcela do mercado de veículos elétricos, inclusive uma fatia do bolo bem concorrida. Carro bem interessante, que proporcionará muita segurança e prazer ao dirigir.
Mas o ponto chave do texto dessa semana é o seguinte: o casal de amigos tinha anteriormente dois carros: Volvo XC40 a gasolina e um Chevrolet Bolt. Qualquer pessoa pensaria que os carros a combustão estavam na garagem para usar em trechos rodoviários e o veículo elétrico para o uso do dia a dia. Entretanto, não é bem assim. O carro à gasolina estava cada vez mais e mais desuso pelo fato do carro elétrico conseguir atender todas as necessidades, inclusive as viagens.
No fim das contas, nenhum dos dois queria sair com o carro à combustão. Logo, a única alternativa era trocar o carro fumante por mais um veículo elétrico. Assim não teria conflito para saber quem sairia com o carro queridinho do casal.
O ponto chave é que no passado as pessoas tinham o preconceito com a autonomia dos veículos elétricos, considerando que ninguém conseguiria ter apenas um carro elétrico na família, que em algum momento precisaria apelar para a versão poluente. O casal em questão demonstrou que, para seu uso, o carro elétrico atende completamente as necessidades de uma forma tão ampla que o carro a combustão se tornou obsoleto e desnecessário.
O veículo a combustão acabou sendo encostado de tal forma que se tornou inútil. Imagine precisar ter que sair para abastecer um carro vez ou outra para evitar que a gasolina envelheça no tanque de combustível. Enquanto isso, poderia simplesmente ligar na tomada à noite e carregar o veículo.
Lógico que essa não é a realidade da maioria das pessoas, mas ainda sim demonstra que pode ser a realidade de muitos. Se você pudesse equipar sua garagem com duas tomadas para abastecer os veículos da família, você não faria? A pergunta principal é: por que deveriam manter um carro a combustão na garagem, ocupando espaço e envelhecendo se não estava trazendo benefício adicional algum?
Como escrevi em um texto anterior, muitos migraram de forma imposta , pois as montadoras aumentaram cada vez mais a sua linha de veículos eletrificados. Pelo menos foram impostos a experimentar uma coisa nova boa. Igual quando um pai ou uma mãe que obriga a um filho comer algo novo e descobre seu novo alimento favorito.
O ponto é que a migração no Brasil pode não ser tão rápida como na Europa e na China, mas a transição é inevitável, principalmente considerando que somos um país essencialmente de energia limpa. Se já atingimos o número atual de veículos elétricos sem subsídio, significa que a mudança será mais natural e consistente.
Claro que não acredito que os veículos elétricos serão a maioria nas garagens brasileiras por muitos anos, principalmente porque a idade média da frota brasileira é de mais de 10 anos.
Essa idade elevada vai garantir uma sobrevida para os veículos a combustão, mas a vida será cada vez mais difícil para quem adiar muito a transição. Basta pensar em quem possui carros mais antigos com carburadores. Os carros ainda existem, algumas pessoas ainda dão manutenção, só que não é tão simples quanto na época que a tecnologia equipava veículos em produção.
Recentemente participei de uma live no canal da Renata Correia. E uma das perguntas foi: você voltaria para um carro a combustão? A resposta foi direta: “Nem que me pagassem”. Dificilmente você encontrará alguém que deseja voltar para o veículo a combustão por diversos motivos: conforto, segurança, economia, consciência…
Em um dos textos publicados, relatei que muitos motoristas de App estavam devolvendo seus veículos elétricos , mas não era por falta do cheirinho de gasolina. Todos estavam muito insatisfeitos por serem forçados a devolver.
O que leva uma pessoa a voltar para um carro a combustão? Garanto que não é por prazer. Quem acredita que um carro a combustão pode dar mais prazer ao dirigir que um veículo elétrico é por um único motivo: Nunca dirigiu um veículo elétrico de verdade. No máximo um híbrido não plug-in. Não venha me dizer que híbrido leve é carro elétrico sem tomada, isso é uma propaganda enganosa de quem quer te prender a uma bomba de combustível.
Então, meu caro leitor, deixo um desafio para você. Se você ainda não entendeu o motivo que as pessoas desejam distância de um carro a combustão, alugue por um fim de semana e vá viajar com a família. Mas não deixei de me escrever antes para te dar todas as dicas.
Até mais…