Comparar o poder de compra entre brasileiros, americanos e argentinos vai além de uma simples conversão de valores quando falamos de automóveis. Precisamos entender sobre preços, custos, tributação, diferenças na composição da gasolina e até mesmo as estatísticas de retorno de imposto. Afinal, se você furou o pneu do seu carro em uma rua precária, este gasto acabará tendo grande impacto no seu bolso.
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Partindo disso, a reportagem do iG Carros compara o custo de se manter um veículo no Brasil e nos Estados Unidos, além de incluir tópicos numa comparação com a Argentina. Talvez isso sirva de alerta, para cobrarmos melhores condições de vida de nossas autoridades.
1 - Carros são mais em conta
Sempre que vamos comparar coisas iguais de países diferentes, consideramos o salário mínimo. O primeiro decreto de Jair Bolsonaro na presidência do Brasil estipulou que o salário mínimo brasileiro para 2019 será de R$ 998. Nos EUA, o mínimo autorizado pelo governo é US$ 1.256 (R$ 4.846). Tenha isso em mente, pois será necessário para acompanhar outros tópicos.
Para uma comparação ainda mais pontual, escolhemos o Volkswagen Jetta Comfortline como exemplo. Fabricado no México, exatamente o mesmo modelo é importado tanto para o Brasil quanto Estados Unidos e Argentina. O preço do sedã de entrada na América do Norte é US$ 18.745 (R$ 72.300), enquanto no Brasil o valor sobe para R$ 99.990.
Ainda que o valor já mostre uma disparidade na conversão direta, a conta fica ainda mais absurda na comparação dos salários mínimos. Um americano que ganha o piso teria que desembolsar 15 salários mínimos para comprar um Volkswagen Jetta em seu país. No caso do brasileiro, a conta vai para 100 salários mínimos. Para chegar nesta conta, basta dividir o valor do carro pelo salário do país.
A situação da Argentina é semelhante à nossa. Por lá, o Jetta Comfortline custa 1.210.750 pesos (R$ 105.754), mas apesar de ser mais caro que o nosso na conversão direta, os argentinos gastariam 96 salários mínimos para adquirí-lo. O último reajuste de Mauricio Macri subiu o salário mínimo do país para 12.500 pesos em junho (R$ 1.702).
2 - Financiar um carro é fácil
A lei americana permite oferecer uma entrada mínima e financiar o resto diretamente com o vendedor. Ao fim do financiamento, um cliente não terá pago nem 10% de juros pela aquisição de um carro novo. Vamos tomar um Honda Fit EXL (US$ 21.410) como exemplo. O site da Honda nos EUA permite simulações de financiamento, que são feitas diretamente com a marca, sem intermédio de bancos como acontece no Brasil.
Escolhemos o financiamento em 60 meses, oferecendo 10% de entrada (US$ 2.100), que é um dos tipos mais comuns de compra de carro por lá. O valor a ser pago ficaria na casa dos US$ 351 mensais, que multiplicado pelo número de meses resultaria em US$ 21.060. Somando os US$ 2.100 que foram oferecidos na entrada, chegamos ao valor real de um Honda Fit EXL financiado com 10% de entrada nos Estados Unidos: US$ 23.160 (cerca de R$ 75.243 numa conversão simples).
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Você viu?
Reproduzir o mesmo arranjo de financiamento no Brasil é impossível. Além dos bancos exigirem no mínimo 20% de entrada na aquisição de qualquer carro, as taxas são bem altas. Por vezes, passam de 1,20% ao mês. Com pagamento em 48 vezes e 20% de entrada, um Fit EXL de R$ 80.900 passaria dos R$ 100 mil em terras brasileiras.
3 - Os pedágios dos EUA são mais baratos (ou inexistentes)
Você sabia que é possível trafegar por metade dos estados americanos sem encontrar qualquer pedágio para interromper sua viagem? Além disso, o valor mais alto cobrado em uma cabine é na Virgínia, onde o motorista terá que deixar US$ 1,05 (ou R$ 4,50, em conversão simples) para seguir seu trajeto.
De acordo com um estudo publicado pela The Global Economy em 2015, os Estados Unidos ocupam a décima quarta posição no ranking global de satisfação com as rodovias nacionais. Ainda que o país esteja abaixo de Emirados Árabes, Holanda e Singapura, continua sendo um resultado melhor que o Brasil, que ocupa a 120° posição. Nossos hermanos argentinos também estão mais satisfeitos com suas rodovias que os brasileiros, na 108° colocação.
Por outro lado, nossos pedágios são caríssimos. Não é possível descer de São Paulo para Santos sem deixar R$ 25,60 na Rodovia Anchieta, no trecho do Riacho Grande em São Bernardo do Campo, por exemplo. Alguns estados americanos, como a Flórida, ainda disponibilizam o SunPass, que seria equivalente ao nosso Sem Parar. Além de passagem livre nas catracas pelas extremidades, o condutor ainda terá 20% de desconto em qualquer pedágio.
4 - Imposto simplificado
Cada Estado brasileiro possui uma indexação para os valores do IPVA (Imposto sobre Propriedades de Veículos Automotores). Em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, a conta chega a 4% do valor do veículo. Dessa forma, o proprietário do mesmo Honda Fit EXL de parágrafos anteriores teria que desembolsar R$ 3.236 anuais para o pagamento deste imposto em um dos três Estados.
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Nos Estados Unidos, o IPVA se chama MVET (Motor Vehicle Excise Tax). O cálculo é simples: para cada US$ 1 mil do valor venal do veículo, são cobrados apenas US$ 25. Ou seja, o dono do Volkswagen Jetta de entrada (R$ 18.745) teria que desembolsar US$ 467 anuais para pagar o imposto, menos que 4% do valor do sedã.
De acordo com a Adefa (Associação de Fabricantes de Veículos da Argentina), a carga tributária do país vizinho é a maior do mundo, partindo de 54,8%. Dessa forma, o imposto para os proprietários de veículos na Argentina é maior, ainda que os hermanos tenham maior valor aquisitivo que nós.
5 - Combustível mais eficiente
Há um ano, a gasolina teve um acréscimo de US$ 0,19 nos Estados Unidos, totalizando US$ 2,57 por galão, ou R$ 8,35 por 3,78 litros de combustível. É como se os americanos estivessem pagando R$ 2,20 pelo litro da gasolina, valor muito mais baixo que o preço praticado nas grandes cidades brasileiras, na casa dos R$ 4.
A conta do custo pode ficar ainda pior se considerarmos a quantidade de etanol presente na gasolina brasileira, de 27% para o combustível comum e aditivado e 25% para o premium. Isso não é segredo, e os números podem ser encontrados no site oficial da Petrobras. Ou seja, além de mais caro, o nosso combustível rende bem menos que o americano, com apenas 10 % de etanol de milho na mistura. Na Argentina, a gasolina tem preço médio de R$ 3,64 e também é abastecida pela Petrobras, mas a taxa de etanol é de apenas 5%.