O mercado automotivo brasileiro está prestes a experimentar uma transformação com a chegada de novas marcas chinesas . Em 2025, o país contará com 16 fabricantes do gigante asiático oferecendo seus modelos, em uma expansão sem precedentes no setor.
Esta movimentação ocorre em um momento de crescimento para o mercado nacional. Em 2024, foram emplacados 2,654 milhões de veículos no Brasil, um aumento de 15% em relação ao ano anterior, sinalizando uma recuperação robusta após períodos desafiadores.
O segmento de veículos eletrificados tem sido um dos principais focos dessas novas marcas. Em 2024, foram vendidos aproximadamente 177 mil veículos híbridos e elétricos no Brasil, um aumento de quase 90% em comparação com 2023.
BYD
A BYD, já consolidada como importadora, planeja acelerar o início da operação de sua fábrica em Camaçari, Bahia. A empresa pretende produzir localmente SUVs híbridos da família Song, com planos futuros para modelos totalmente elétricos.
Até outubro de 2024, a BYD vendeu 58.456 carros no Brasil, ocupando o 10º lugar no ranking geral dos mais emplacados por fabricante. O Song Plus GS tem liderado as vendas entre os híbridos.
Caoa Chery
A Caoa Chery investiu R$ 3 bilhões na expansão de sua fábrica em Anápolis, Goiás. A instalação será ampliada em mais de 36 mil m² e receberá parte do maquinário que pertencia à Ford.
Em 2024, a Caoa Chery vendeu 50.398 carros, ocupando o 11º lugar no ranking geral de vendas, logo atrás da BYD. A empresa continua apostando no disputado segmento de SUVs médios.
GAC
A GAC Motor anunciou investimentos de US$ 1 bilhão no Brasil a partir de 2025. O aporte prevê a instalação da rede de concessionárias e adaptação dos produtos, com lançamentos previstos para o primeiro semestre do próximo ano.
Diferentemente de outras fabricantes chinesas, a GAC não pretende focar apenas em carros híbridos e elétricos, oferecendo também modelos a combustão.
Geely
A Geely, que já esteve no Brasil há mais de dez anos, retorna de forma independente. Um SUV médio já foi escolhido para este retorno, com planos de competir diretamente com modelos da BYD.
Vale ressaltar que a Geely é a segunda maior fabricante chinesa, atrás apenas de BYD e Saic, o que pode impactar significativamente o mercado brasileiro.
GWM
A GWM mantém o foco em iniciar a produção nacional em Iracemápolis, São Paulo. O plano é lançar o Haval H6 produzido no arranjo CKD no primeiro semestre de 2025, seguido por outros modelos.
Em 2024, a GWM emplacou um total de 23.452 modelos, ocupando o 13º lugar no ranking geral dos mais vendidos. A empresa planeja lançar o inédito Haval H4, um SUV híbrido que deve custar menos de R$ 200 mil.
JAC Motors
A JAC Motors, sem intenção de abrir uma fábrica, desistiu de vender apenas carros elétricos. A empresa planeja expandir seu mercado com a picape diesel Hunter, buscando competir com modelos convencionais estabelecidos.
Sérgio Habib, presidente da JAC Motors no Brasil, projetou que o segmento de veículos elétricos irá "desmoronar" nos próximos anos, justificando a mudança de estratégia da empresa.
Leapmotor
A Leapmotor chega ao Brasil com o respaldo da Stellantis, sua parceira no mercado chinês. Os primeiros carros serão lançados no primeiro semestre de 2025, mirando principalmente o mercado de elétricos de entrada.
Há indícios de que o primeiro carro elétrico nacional da Stellantis terá sua base técnica compartilhada com a Leapmotor, demonstrando a importância dessa parceria.
MG Motor
A MG Motor estuda retornar ao Brasil para apostar em carros híbridos e elétricos. Alguns modelos já iniciaram o processo de homologação, como o MG4, com planos de entrada no mercado em 2025.
A marca já vendeu seus veículos no Brasil em meados de 2013 com a intermediação de um importador, mas a parceria não deu resultado. Agora, a MG busca estabelecer uma presença mais sólida no mercado.
Neta
A Neta enfrenta desafios após sua apresentação oficial no Brasil durante o Festival Interlagos. Com a fábrica na China paralisada devido à baixa demanda, a empresa busca um parceiro local para a montagem CKD de seus veículos.
Executivos ligados à marca garantiram que a operação continuará normalmente, sem risco de desabastecimento, apesar dos desafios enfrentados.
Omoda
A Omoda enfrentou atrasos em seu cronograma inicial devido a dificuldades logísticas e na nomeação da rede de concessionárias. O início das vendas foi adiado para 2025, começando pelo SUV médio Jaecoo J7.
Felipe Amaral, head de estratégia de vendas e desenvolvimento de rede da Omoda Jaecoo no Brasil, explicou que uma conjunção de fatores causou o atraso, incluindo dificuldades na escolha de portos e locais de estoque e distribuição.
Jaecoo
A Jaecoo, marca irmã da Omoda, também teve seu lançamento adiado para 2025. A empresa planeja entrar no mercado brasileiro com SUVs de médio porte, buscando estabelecer uma presença sólida no segmento.
A estratégia da Jaecoo está alinhada com a tendência de crescimento do mercado de SUVs no Brasil, que tem impulsionado as vendas no setor automotivo.
Polestar
A Polestar, pertencente à Geely, focará exclusivamente em carros elétricos. A marca oferecerá aos clientes a opção de customizar e comprar os modelos de forma online, trazendo uma abordagem inovadora ao mercado.
Nascida no ramo de competições e depois transformada em divisão esportiva da Volvo, a Polestar agora é uma marca independente do grupo focada em veículos elétricos de alta performance.
Riddara
A Riddara, outra marca do Grupo Geely, é focada em picapes. Após o lançamento da caminhonete elétrica RD6, a fabricante pretende consolidar sua operação expandindo para o interior do Brasil.
A entrada da Riddara no mercado de picapes eletrificadas pode representar uma nova frente de competição no segmento de veículos comerciais leves.
Wuling
A General Motors planeja trazer carros elétricos da Wuling para o Brasil, numa estratégia semelhante à da Stellantis com a Leapmotor. Esta movimentação pode servir como uma transição até o surgimento dos primeiros carros elétricos nacionais da GM.
A parceria entre GM, Wuling e Saic existe há mais de 20 anos, o que pode facilitar a entrada desses modelos no mercado brasileiro.
Zeekr
A Zeekr, também do grupo Geely, iniciou a venda de seus carros elétricos de luxo no Brasil em 2024, com os modelos X e 001. A marca planeja expandir sua presença com a introdução de veículos da Lynk & Co em 2025.
O objetivo da Zeekr é oferecer uma abordagem premium para concorrer com Audi, BMW e Mercedes-Benz, mas por valores mais convidativos.
Lynk & Co
A Lynk & Co, parte do plano de expansão da Zeekr, deve chegar ao Brasil em 2025. A marca promete trazer modelos inovadores, combinando tecnologia avançada com design moderno.
A entrada da Lynk & Co representa mais uma opção no segmento de veículos premium, aumentando a competição nesse nicho de mercado.
Impacto no mercado e perspectivas
A entrada dessas 16 marcas chinesas já está alterando o panorama do mercado brasileiro. Em 2024, as vendas de veículos de fabricantes chineses cresceram 88% em relação ao ano anterior, indicando uma aceitação crescente por parte dos consumidores.
Apesar do crescimento, as marcas chinesas ainda não figuram entre as 10 mais vendidas no país. O ranking de 2024 foi liderado pela Fiat Strada, com 144.694 unidades, seguida pelo Volkswagen Polo (140.187) e o Chevrolet Onix (97.508).
Analistas do setor projetam que a entrada das novas marcas chinesas poderá alterar significativamente o market share das montadoras já estabelecidas nos próximos dois a três anos, intensificando a competição no mercado.
A necessidade de estabelecer redes de concessionárias, serviços de manutenção e garantia será crucial para o sucesso dessas empresas no mercado brasileiro. Algumas já enfrentam desafios, como a Neta, que busca parceiros locais para montagem.
O sucesso das marcas chinesas no Brasil ainda não está garantido. Exemplos como o da Seres, que durou menos de um ano no mercado brasileiro, mostram que desafios significativos permanecem.
Políticas governamentais e regulamentações podem desempenhar um papel crucial no sucesso dessas marcas nos próximos anos.
** Jornalista formado pela PUC-SP, atuando como repórter do IG Carros. Já atuou também nas editorias de esportes e ESG.