
Uma abordagem policial de rotina virou motivo de risos e despertou a curiosidade sobre os diferentes lados onde o volante pode estar disposto em um carro, de acordo com o regimento do país onde ele foi fabricado. No Brasil, tradicionalmente, o controle fica à esquerda.
No vídeo que registrou o momento inusitado, um agente aplicou o teste do bafômetro em um passageiro, em vez de fazer no motorista, justamente por causa dessa confusão.
Motorista do outro lado
Embora dê a entender que o carro tem o volante à direita, é possível perceber que o vídeo está espelhado. Então, a direção está à esquerda, e a abordagem foi feita à direita. Mas isso não alterou a confusão causada no policial, porque ele foi até a pessoa que não estava dirigindo.
Ao se aproximar do veículo, o agente pede ao homem - que ele achou ser o motorista - para assoprar o bafômetro. Depois do teste, o agente pergunta se o rapaz havia bebido, porque o equipamento indicou um teor alcoólico acima do permitido.
''Sim, muito'', respondeu o carona, admitindo o que seria um erro - se fosse ele o motorista.
O carro estava cheio, e os amigos do homem que tinha acabado de assoprar o bafômetro começam a rir e indicam ao policial que o motorista, na verdade, estava do outro lado.
O vídeo viralizou. Só em um dos canais em que foi repostado, teve quase 900 mil curtidas. Provavelmente porque, apesar dos termos “ mão inglesa ” e “ mão francesa ” serem conhecidos por quem dirige, muita gente ficou curiosa ao ver a confusão causada pelo guarda de trânsito.
Histórias de samurais
O volante à direita — sistema conhecido como “mão inglesa” — é adotado por 76 países e territórios ao redor do mundo.
Com exceção do Japão, todos foram colônias do Reino Unido, um dos locais na Europa onde a mão inglesa foi adotada. Alguns dos outros são Irlanda, Malta e Chipre.
Na Ásia, países como Japão, Tailândia, Paquistão e Índia também utilizam esse padrão, assim como os principais territórios da Oceania, enquanto no continente africano, apenas a África do Sul.

No caso do Japão, o uso da “mão inglesa” tem raízes históricas que remontam à era dos samurais, quando se caminhava à esquerda para facilitar o saque da espada com a mão direita.
A escolha foi reforçada no século XIX, com a importação de tecnologia ferroviária do Reino Unido, sendo oficializada por lei em 1924. O padrão foi mantido mesmo após a ocupação americana no pós-guerra.
Curiosamente, países como Estados Unidos e Canadá — ainda que tenham sido colonizados pelos britânicos — não seguiram a norma do volante à direita e adotaram o padrão europeu continental - o da “mão francesa”.
O mercado de carros onde tem a mão inglesa
Entre os dez países que mais fabricaram veículos em 2024, três utilizam o sistema com o volante à direita: Japão (3º), Índia (4º) e Tailândia (10º).
Na Índia, as maiores montadoras são a Hyundai Motor Company, Mahindra & Mahindra e Maruti Suzuki. A produção total do país em 2024 foi de mais de 5.8 milhões de unidades, mas, nesse caso, com o sistema da mão do lado esquerdo.

No sudeste asiático, a Tailândia tem como maiores produtores Toyota, Isuzu e Honda, Mitsubishi e Nissan também se destacam por lá. Em 2024, foram fabricados no país mais de 1.8 milhões de veículos, também no padrão da mão francesa.
Além do histórico envolvendo os samurais, o Japão tem uma peculiaridade no mercado. Dentre os quase 9 milhões de veículos produzidos em 2024, estima-se que mais de 4.4 milhões teriam sido exportados (a grande maioria, para países onde o padrão é o volante à esquerda).
Regras do Brasil

No Brasil, os veículos devem circular pelo lado direito das vias, e, por isso, o volante precisa estar localizado no lado esquerdo dos automóveis. Essa exigência está prevista no Código de Trânsito Brasileiro (CTB) e é reforçada por resoluções do Conselho Nacional de Trânsito (Contran).
A Resolução nº 254/2007, atualizada posteriormente, proíbe o registro e o licenciamento de veículos com o volante instalado no lado direito.
O principal motivo é a adequação à sinalização viária — projetada para quem dirige do lado esquerdo — e ao padrão de iluminação dos faróis, desenvolvido para o tráfego pela direita.
A única exceção são os veículos de coleção, com mais de 30 anos e que mantenham as características originais de fábrica. Nesses casos, o volante à direita é permitido, desde que o automóvel atenda a todos os requisitos exigidos para veículos históricos.
Caso um veículo esteja em desacordo com a norma, o proprietário pode ser penalizado com base no artigo 237 do CTB, que trata do descumprimento das normas de sinalização e segurança no trânsito.