Carro pode ser guinchado sem aviso prévio
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Carro pode ser guinchado sem aviso prévio


Você sabia que, nos Estados Unidos, os bancos podem "tomar de volta" os carros de quem parar de pagar as parcelas, sem precisar de ordem judicial? O nome do processo é repossession , e ele é legal no país.

Em muitos casos, o devedor só percebe que perdeu o carro quando ele some da garagem. A legislação que permite isso é o Uniform Commercial Code, um conjunto de leis comerciais adotado pela maioria dos estados americanos.

O que a lei diz?

O parágrafo 9-609 do UCC estabelece que, em caso de inadimplência, o credor tem o direito de tomar posse do bem financiado – no caso, o veículo – sem recorrer à Justiça, desde que isso seja feito "sem violar a paz".

Na prática, isso significa que o banco ou a operadora financeira pode mandar um agente retirar o carro da frente da casa do cliente, por exemplo. O único limite é a proibição de violência ou invasão de propriedade (por exemplo, arrombar um portão fechado).

A prática de repossession não é apenas legal — é comum. Estima-se que mais de 1,7 milhão de veículos foram retomados em 2024 nos EUA por inadimplência, de acordo com a Cox Automotive . Em meio à inflação e aumento das taxas de juros, o número tende a crescer.



O que acontece depois que o carro é retomado?

Depois da retomada, entram em cena outros artigos do mesmo código. Eles determinam que o veículo deve ser vendido de maneira comercialmente razoável e que o devedor deve ser notificado com antecedência. Porém, nem sempre esse aviso vem antes da retomada.

Em algumas jurisdições, basta que o banco avise antes da venda. E se o valor for inferior ao saldo devedor, o cliente ainda pode ser cobrado pela diferença — o chamado déficit.

No Brasil, seria possível?

Ao contrário dos Estados Unidos, no Brasil, o banco não pode simplesmente retomar o carro por conta própria. Para fazer isso, precisa entrar com uma ação judicial de busca e apreensão, baseada no contrato de alienação fiduciária — em que o veículo financiado é dado como garantia da dívida.

Na prática, essa ação costuma ser movida após o atraso de algumas parcelas. O banco deve notificar o devedor formalmente, por carta registrada em cartório ou protesto do contrato.

Se o juiz conceder a liminar, o oficial de justiça pode localizar o carro, apreendê-lo e até contar com apoio policial, inclusive para entrar em garagens fechadas.

“Quando o juiz concede a liminar de busca e apreensão, ele autoriza que o banco retome o veículo e antecipe o vencimento de todas as parcelas restantes do contrato”, explica a advogada Isabella Gaudereto, em entrevista ao Portal iG Carros.

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Divulgação
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De acordo com ela, o momento mais adequado para o consumidor purgar a mora — ou seja, quitar a dívida para evitar a perda do carro — é antes da apreensão acontecer.

“O banco entrou com a ação? Já vá até ele e tente resolver. Mesmo que o juiz já tenha concedido a liminar, ainda dá tempo de pagar e impedir que o carro seja levado”, orienta.

Segundo a advogada, há casos em que o banco aceita a quitação mesmo após a apreensão, mas isso depende da política da instituição e nem sempre garante a devolução do veículo. “Por isso, é fundamental não perder o ‘time’. A melhor chance de manter o carro é agir logo no início do processo”, reforça.

Ela acrescenta ainda que, na maioria dos casos, o consumidor precisa quitar todas as parcelas restantes do financiamento, e não apenas as que estão em atraso. “Além disso, valores como custos de pátio, taxas judiciais e juros também entram nessa conta final”, conclui.

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