
A caminhonete branca que transportou o caixão do papa Francisco pelas ruas de Roma durante seu cortejo fúnebre neste sábado (26) tem uma história especial: trata-se de um presente do México ao Vaticano, recebido durante a visita do pontífice ao país norte-americano em 2016.
O modelo Dodge Ram de cor branca foi o mesmo utilizado pelo papa argentino durante sua passagem por cinco regiões mexicanas há nove anos, incluindo Ciudad Juárez, cidade localizada na fronteira com os Estados Unidos. Naquela ocasião, Francisco aproveitou a visita para denunciar que os migrantes estavam percorrendo um "caminho de terrível injustiça", destacando uma das causas sociais que marcaram seu papado.
Um símbolo de sua luta pelos migrantes
A escolha deste veículo específico para o último trajeto do papa carrega um profundo simbolismo. Em 2016, quando Francisco visitou Ciudad Juárez, a fronteira entre México e Estados Unidos enfrentava uma grave crise humanitária, com milhares de famílias e crianças da América Central fugindo da violência e pobreza em seus países de origem.

Naquela visita histórica, o papa celebrou uma missa na fronteira, acompanhada por fiéis dos dois lados, e fez questão de lembrar aqueles que morreram tentando cruzar para os EUA. Utilizando a Dodge Ram como "papa-móvel", Francisco percorreu as ruas mexicanas próximo ao povo, criando o que foi descrito como um "muro de luzes e orações" – uma contraposição simbólica às barreiras físicas defendidas por autoridades americanas.
Cortejo reuniu multidão
De acordo com a agência de notícias AFP, aproximadamente 400 mil pessoas acompanharam o cortejo fúnebre na capital italiana. Os fiéis se concentraram na Praça de São Pedro, no Vaticano, e nas áreas ao redor para prestar suas últimas homenagens ao líder religioso.
A presença da caminhonete mexicana também representa a forte conexão que Francisco mantinha com a América Latina, região de onde veio o primeiro pontífice latino-americano da história.
Durante sua visita ao México em 2016, Francisco não apenas denunciou a situação dos migrantes, mas também criticou duramente tanto o poder político quanto o alto clero mexicano por sua distância dos problemas reais do povo, pedindo uma Igreja e uma sociedade mais comprometidas com a justiça e a ética.
Morte aos 88 anos
Jorge Mario Bergoglio, conhecido como papa Francisco, faleceu na última segunda-feira (21) às 7h35 no horário de Roma (2h35 em Brasília), aos 88 anos de idade.
Segundo o boletim médico divulgado pelo Vaticano, a causa da morte foi um acidente vascular cerebral (AVC) associado a insuficiência cardíaca. Seu quadro foi agravado por condições preexistentes, incluindo pneumonia bilateral, bronquiectasias múltiplas, hipertensão e diabetes tipo 2.
Francisco fez história como o primeiro papa latino-americano e também o primeiro jesuíta a assumir a liderança da Igreja Católica. Seu papado durou 12 anos, tendo início em 2013, quando sucedeu a Bento XVI após sua renúncia.
Durante seu pontificado, Francisco ficou conhecido por sua abordagem mais progressista em diversos temas, sua defesa dos pobres e marginalizados, e seus esforços para aproximar a Igreja Católica dos fiéis ao redor do mundo, especialmente na América Latina.