Combustível diesel
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Combustível diesel

Quatro antigos ex-executivos da Volkswagen foram condenados por fraude nesta segunda-feira (26), dando início aos julgamentos de um dos maiores escândalos corporativos da indústria automotiva mundial.

A sentença, proferida por um tribunal regional na  Alemanha, após quase quatro anos de julgamento, reconheceu a responsabilidade direta dos engenheiros no uso de softwares ilegais para manipular emissões de poluentes em veículos a diesel.

Jens Hadler, ex-diretor de desenvolvimento de motores, recebeu a pena mais severa: quatro anos e meio de prisão.

Hanno Jelden, responsável por eletrônica de propulsão, foi condenado a dois anos e sete meses.

Heinz-Jakob Neusser, ex-diretor de desenvolvimento técnico, e Thorsten D., especialista em emissões, receberam penas suspensas de um ano e três meses, e um ano e dez meses, respectivamente.

Como funcionava o esquema fraudulento?

Segundo o juiz Christian Schütz, os réus cometeram uma “fraude particularmente grave”, estruturada por um “grupo fechado” dentro da empresa.

Documentos e e-mails revelaram o conhecimento prévio da manipulação por parte dos condenados desde pelo menos 2007. O dispositivo fraudulento identificava quando o carro estava em teste e ativava controles temporários de emissão.

Fora das condições laboratoriais, os veículos emitiam níveis de poluentes até 40 vezes superiores aos permitidos.

A descoberta

O escândalo veio à tona em setembro de 2015, quando a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) notificou a Volkswagen pela manipulação.

VW Wolfsburg
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VW Wolfsburg

A fraude afetou cerca de 11 milhões de veículos em todo o mundo e custou mais de 33 bilhões de euros à montadora — equivalente a R$ 186 bilhões —, em multas e compensações.

A sentença pode ser alvo de recurso. A defesa de Jelden afirmou discordar do veredito, argumentando que houve cooperação durante o processo.

Apesar disso, o tribunal considerou as provas robustas, incluindo 75 mil páginas de investigação e depoimentos de cerca de 150 testemunhas, algumas ainda sob investigação criminal.

O caso também revela um padrão de conduta institucional. De acordo com o diretor do Center Automotive Research, Ferdinand Dudenhöffer, os executivos condenados seriam “bodes expiatórios” de uma cultura corporativa baseada no medo e na obediência.

“O sistema foi concebido por líderes autoritários”, declarou.

Apenas o início

Mais de 30 ex-funcionários ainda aguardam julgamento. Entre eles, Martin Winterkorn, ex-CEO da Volkswagen, teve seu processo suspenso indefinidamente por motivos de saúde. Winterkorn nega qualquer envolvimento direto.

Martin Winterkorn - ex-presidente da VW
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Martin Winterkorn - ex-presidente da VW

Em 2023, Rupert Stadler, ex-CEO da Audi, se tornou o executivo de mais alto escalão condenado no escândalo. Ele aceitou uma sentença suspensa e multa superior a um milhão de dólares.

O impacto reputacional do caso precipitou a queda da participação do diesel no mercado europeu — de mais da metade para menos de 10% — e impulsionou a transição da Volkswagen para veículos elétricos.

A montadora, hoje sob nova gestão, tenta se reposicionar como líder em mobilidade sustentável.

Entretanto, o julgamento desta semana reforça a memória de um período que alterou de forma definitiva a percepção pública sobre combustíveis fósseis, integridade empresarial e fiscalização ambiental na indústria automotiva.

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