
A Renault anunciou nesta terça-feira (1º) que registrará um prejuízo único de cerca de €9,5 bilhões (R$ 61 bilhões) relacionado à sua participação na Nissan Motor, como parte do processo de reestruturação da aliança entre as montadoras. A perda será contabilizada nos resultados do primeiro semestre de 2025.
O rebaixamento contábil ocorre em meio à queda nas vendas da parceira japonesa e à reavaliação da Renault sobre o modelo de colaboração, que agora prioriza projetos específicos em vez de controle acionário.
Rebaixamento contábil encerra fase da aliança
A Renault atualmente detém 35,7% da Nissan — 17,05% diretamente e o restante por meio de um fundo fiduciário — e informou que, a partir de agora, o valor de sua participação será calculado com base no preço de mercado das ações da montadora japonesa.
A medida marca mais um passo no processo de distanciamento estratégico iniciado após décadas de uma das mais emblemáticas alianças industriais do setor automotivo.
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Segundo a Renault, a despesa extraordinária de €9,5 bilhões não afetará sua orientação financeira anual nem os dividendos aos acionistas.
“A mudança permite um reflexo mais claro das melhorias subjacentes na lucratividade da Renault”, dizem analistas da Morningstar.
Queda da Nissan e contexto da decisão
A Nissan enfrenta dificuldades prolongadas desde a prisão do ex-presidente Carlos Ghosn, em 2018.
A montadora japonesa nunca se recuperou totalmente da crise, agravada pela lenta transição para veículos elétricos e uma linha de produtos envelhecida.
Segundo a Reuters, no ano fiscal encerrado em março, a empresa registrou um prejuízo líquido de US$ 4,5 bilhões (R$ 24,9 bilhões) e não apresentou previsões para o desempenho em 2025.
Nesta terça-feira (1º), as ações da Nissan abriram em queda de 2,4%, a 341,8 ienes (cerca de R$ 13) — abaixo dos 400 ienes (R$ 15,2) por ação pagos pela Renault em 2002 ao aumentar sua fatia na empresa.
O documento de registro universal da Renault de 2024 indicava um valor contábil de 1.549 ienes (R$ 58,85) por ação da Nissan, o que mostra o descompasso entre o valor de mercado e o valor contábil do investimento.
Mudança estratégica sem impacto operacional
Apesar da reavaliação contábil, a Renault afirmou que não haverá alterações nos projetos operacionais em curso com a Nissan, e que a colaboração entre as empresas será mantida em áreas específicas de manufatura.
A companhia, que divulgará os resultados do primeiro semestre em 31 de julho, é uma das poucas montadoras europeias que não emitiram alerta de lucro no ano passado.
Enquanto busca um novo CEO, a montadora francesa tenta consolidar uma nova fase com foco em rentabilidade, inovação e projetos conjuntos mais pontuais.
As ações da Renault subiram 0,6% na manhã desta terça-feira após o anúncio.