
A Ford realizou, entre 1914 e 1916, testes de laboratório com combustíveis vegetais para substituir a gasolina, em Dearborn, nos Estados Unidos.
Os estudos analisaram álcool produzido a partir de açúcar, milho, madeira e batatas, em um momento de alta nos preços do petróleo. Os resultados mostraram ganhos de potência, mas menor autonomia.
Os experimentos antecederam em mais de 60 anos a adoção ampla do etanol no Brasil, por exemplo, e ocorreram enquanto a Lei Seca dificultava a operação de destilarias.
Documentos da época citam a conversão de antigas cervejarias para produção de álcool combustível e o uso do Modelo T em medições comparativas, de acordo com um conteúdo lançado pela Ford nos últimos dias.
A pesquisa pioneira de combustíveis vegetais
Durante 18 meses, técnicos da Ford avaliaram o desempenho do álcool combustível em motores de quatro cilindros.
O Modelo T, lançado em 1908 e capaz de operar com gasolina, querosene e álcool, serviu de base para os estudos.

Registros internos apontam aumento de cerca de 15% na potência quando abastecido com álcool, embora com redução perceptível da autonomia.
As análises incluíram matérias-primas de baixo custo e alto volume, como resíduos de fábricas de enlatados e açúcar, além de talos de milho.
A empresa considerava ainda uma variedade de batatas de cultivo alemão como alternativa de abastecimento regional.
Henry Ford defendia que a escalada do preço da gasolina exigiria substitutos produzidos localmente.
Em entrevistas, ele citava a possibilidade de aproveitar instalações de cervejarias fechadas para destilar álcool combustível, reduzindo o investimento industrial adicional.
Impactos previstos na agricultura e no uso de máquinas
Os documentos mostram que a Ford avaliava não apenas o uso automotivo, mas também o emprego do álcool em equipamentos agrícolas.
Segundo registros de Dearborn, cerca de 30 tratores Fordson operaram experimentalmente com álcool no período.
O objetivo era testar desempenho em condições de carga contínua, comuns na mecanização do campo.
A empresa estimava que pequenos produtores poderiam fornecer matéria-prima e, futuramente, receber combustível por tubulações semelhantes às redes urbanas de gás.
Essa visão se apoiava no aumento da área cultivada nos Estados Unidos e na expectativa de demanda por energia para iluminação e cocção.
A Lei Seca e o abandono do projeto
A implementação da Lei Seca em Michigan, antes mesmo da proibição nacional de 1920, tornou a operação de destilarias economicamente impraticável.
A limitação à produção e ao transporte de álcool interrompeu os estudos, e a Ford direcionou esforços ao Modelo A e, depois, ao motor V8 de cabeçote plano.
Quando a proibição terminou, em 1933, a estrutura industrial da empresa já havia passado por reorientação.
A expansão de combustíveis fósseis e a consolidação do refino de petróleo no país reduziram o espaço para projetos alternativos.
Embora não avançasse à produção em escala, a iniciativa da Ford é considerada uma das primeiras tentativas documentadas de testar biocombustíveis com finalidade comercial.