Aston Martin Works conclui a restauração do DB5 dos sonhos de uma família
Divulgação/Aston Martin
Aston Martin Works conclui a restauração do DB5 dos sonhos de uma família

Havia um tempo em que certos carros eram mais do que máquinas: eram promessas. Não de velocidade, exatamente, mas de quem alguém queria ser.

Para o galês John Williams, um jovem soldador de 18 anos, a promessa tinha nome e sobrenome, o Aston Martin DB5.

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Aston Martin Works conclui a restauração do DB5 dos sonhos de uma família

Ele não sabia, nos anos 1970, que estava prestes a comprar por 900 libras um dos futuros clássicos mais cobiçados do mundo. Sabia apenas que aquele cupê prateado, já cansado do uso, parecia feito para ele.

O carro passou a acompanhar o cotidiano do rapaz por quatro anos, enfrentando chuva, sol, ruas estreitas do País de Gales e até brincadeiras das crianças da vizinhança, que pulavam despreocupadas sobre um capô que hoje ninguém ousaria tocar.

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Era um DB5 de 1965 com motor Vantage, vidros Sundym e rodas raiadas, o tipo de configuração que, décadas depois, seria motivo de disputa em leilões. Na época, era apenas o carro do dia a dia de John.

Quando partiu para trabalhar no Oriente Médio, em 1977, o jovem soldador guardou o Aston Martin na garagem da família. Guardou e nunca mais o conduziu. A vida seguiu, a carreira mudou, as prioridades se reorganizaram.

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A cada visita ao carro parado, porém, havia uma pontada de arrependimento e outra de teimosia. John recebeu ofertas, recusou todas e sustentou a frase que a esposa, Sue, repetia: “Você nunca terá outra igual”.

Um clássico adormecido

O tempo, claro, cobrou seu preço: ferrugem, peças cansadas, estrutura comprometida. Aos poucos, a restauração deixou de ser um desejo distante e se tornou uma meta pessoal.

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Aston Martin Works conclui a restauração do DB5 dos sonhos de uma família

Não para transformar o DB5 em investimento milionário, embora hoje o valor estimado chegue a 1 milhão de libras, mas para devolver ao carro a dignidade que ele dizia dever a si mesmo.

Foi assim que, quase cinquenta anos após a compra, o cupê retornou a Newport Pagnell, o berço histórico da Aston Martin. O lugar onde, décadas antes, havia sido construído.

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O reencontro entre o carro e sua casa original inaugurou uma restauração que levaria cerca de três anos e envolveria mais de 2.500 horas de trabalho das equipes de funilaria, pintura, acabamento e peças clássicas da marca.

A jornada revelou detalhes que nem o próprio dono sabia. Entre 1963 e 1965, apenas 1.022 DB5 foram produzidos; desses, 887 eram sedãs.

Aston Martin Works conclui a restauração do DB5 dos sonhos de uma família
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E, entre todos, somente 39 deixaram a fábrica com a combinação exata do exemplar de John: pintura Silver Birch, motor Vantage e volante à direita.

Uma configuração tão rara que poderia reescrever o destino de qualquer carro, menos daquele, que só queria voltar para a estrada.

Também emergiram histórias curiosas: seu primeiro proprietário viveu em St George’s Hill, condomínio de Surrey que, nos anos 1960, reunia nomes como John Lennon e Ringo Starr.

O DB5 de Williams não pertenceu aos Beatles, mas circulava pelo mesmo bairro em que eles escreviam parte de sua mitologia.

Quando a memória encontra o meta

Nos corredores da oficina, o casal acompanhou de perto o renascimento do carro.

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Viu cada painel de alumínio ser moldado à mão; viu o chassi Superleggera ganhar vida; viu técnicas artesanais sobrevivendo ao tempo pelas mãos de jovens mecânicos aprendendo um ofício que parecia ter ficado no passado.

Em uma das visitas, Sue reagiu com a espontaneidade de quem reencontra um velho amigo: “Ela está incrível, não está?”.

John, emocionado, apenas completou: “Agora parece um Aston Martin outra vez”.

Quando o DB5 ficou pronto, poucos dias atrás, John retornou à fábrica. O motor, silencioso por quase cinco décadas, acordou.

O cheiro de couro novo dividiu espaço com a memória do carro que ele comprou adolescente, sem imaginar futuro algum.

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Dirigir o cupê restaurado pela primeira vez foi, para ele, mais do que nostalgia, foi a sensação de fechar um círculo.

“Foi um longo processo, mas valeu cada centavo. É simplesmente… inacreditável”, disse ao ver o carro movimentar-se como se jamais tivesse parado. “Minha menina está de volta à antiga glória.”

A história do DB5 de John Williams não é sobre valorização no mercado, nem sobre luxo automobilístico.

É sobre resistência, não apenas do carro, mas do vínculo entre um jovem e o objeto que definiu parte de quem ele se tornou.

Sobre como algumas máquinas sobrevivem não pelo metal, mas pelas memórias que carregam.

E, sobretudo, sobre o improvável destino de um automóvel comprado por esforço juvenil e que, meio século depois, retorna à estrada como se esperasse apenas que alguém lhe dissesse: “Pode ir”.

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