Jeep Experience, na Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso, teve trilhas e belas paisagens a bordo de modelos 4x4
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Jeep Experience, na Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso, teve trilhas e belas paisagens a bordo de modelos 4x4

Carro autônomo no meio de uma trilha? Nem pensar. Compartilhamento de jipes? Difícil imaginar. Em toda revolução, sempre há um foco de preservação do jeito antigo de se fazer as coisas. E no mundo dos carros esse papel caberá aos modelos 4x4, mais até que os superesportivos. Por que falo isso? Até Ferraris e Lamborghinis terão de conviver com carros autônomos nas ruas e estradas, e só poderão usar toda sua capacidade em circuitos fechados. Já os verdadeiros 4x4 continuarão sozinhos e soberanos em seu habitat natural – as trilhas, as estradas de terra, de mato, de areia, de riachos, de pedras.

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 O fenômeno será semelhante ao que aconteceu com os cavalos, que eram o principal meio de transporte individual até o advento dos automóveis, na virada do século 19 para o 20. Hoje, quem quer cavalgar ou o faz na natureza ou em locais fechados, os haras. Com o carro, num futuro não muito distante, quem quiser pilotar à moda antiga terá de fazê-lo em “haras automotivos”. Ou pegar modelos 4x4 e curtir a natureza.

 A indústria sabe disso e tem explorado cada vez mais esse imaginário de liberdade e resistência representado pelos veículos fora-de- estrada. Mesmo na forma de “aventureiros pero-no-mucho”, que são os SUVs sem tração nas quatro rodas (um fenômeno que tratarei na coluna da próxima semana).

Jaguar F-Pace é um dos novos SUVs de luxo que podem enfrentar trilhas no meio do mato com vários recursos tecnológicos
Divulgação/Jaguar Land Rover
Jaguar F-Pace é um dos novos SUVs de luxo que podem enfrentar trilhas no meio do mato com vários recursos tecnológicos

 Marcas especialistas em veículos 4x4, como Jeep, Land Rover, Mitsubishi e outras, têm uma vantagem competitiva enorme frente às marcas generalistas, que também estão investindo em modelos de uso misto. Quem melhor souber usar isso a seu favor poderá se tornar símbolo desse espírito de resistência à automação, do prazer de dirigir à moda antiga. Não é difícil imaginar este cenário em algumas décadas: um profissional bem-sucedido usa transporte alternativo durante toda a semana, mas mantém na garagem um valente SUV 4x4 para sair da rotina em alguns finais de semana ou feriados.

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 É claro que os modelos 4x4 já não são de raíz como antigamente. A eletrônica já faz quase tudo pelo motorista. Desce ladeiras, joga a força de tração para qualquer uma das rodas, ajusta a suspensão ao tipo de terreno, etc. Mas há uma interação do motorista que não pode ser dispensada. Escolhas a serem feitas na natureza mutável, algo que um computador do carro só poderia fazer se houvesse cabeamento, sensores e outros recursos instalados no meio da trilha – algo inconcebível.

Mudanças culturais no mundo off-road

Land Rover Discovery da nova geração faz parte da linha de SUVs modernos disponíveis no mercado global
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Land Rover Discovery da nova geração faz parte da linha de SUVs modernos disponíveis no mercado global

 Se alguns recursos da era digital não vão chegar aos veículos verdadeiramente 4x4, algumas mudanças culturais poderão ter consequências no modelo de negócio. Por exemplo: existe algo mais frustrante do que ter um super-off- road na garagem, e não poder usá-lo numa viagem de férias em um lugar distante, onde ele seria especialmente útil?

 As marcas desse segmento que quiserem cativar clientes terão de criar planos semelhantes aos programas sócio-torcedor dos times de futebol. O cliente paga uma taxa mensal para ter um plano de abrangência nacional ou internacional, para ter um veículo 4x4 igual ao seu em qualquer viagem de estilo aventureiro, seja no Jalapão, na Patagônia ou nas montanhas do Colorado (EUA). Enquanto isso, seu carro fica numa revisão de férias e é entregue no aeroporto, na volta da viagem.

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Isso é o que se espera de uma marca de modelos 4x4 num mundo conectado. Inteligência e bons serviços no atendimento. Mas com um jeito rústico de dirigir, sem grandes concessões às modernidades. Na semana que vem, falaremos da febre dos SUVs, sobretudo no mercado brasileiro. É só modismo ou ainda há espaço para crescer?

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