Baixa autonomia, altos custos, problemas de infraestrutura, desafios logísticos e de engenharia. Desde o final do século 20, montadoras tradicionais, fornecedores e novos fabricantes vêm fazendo uma corrida de obstáculos para viabilizar os carros elétricos ou híbridos. No meio do caminho veio a revolução digital, o conceito de carro autônomo, e tudo vem se conectando de maneira impressionante.
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Até as mais conservadoras das montadoras já perceberam que não dá para ficar de fora dessa corrente. Mas as mais arrojadas estão dando passos largos na onda da emissão-zero, e as notícias que surgiram nesta semana são prova disso. A sueca Volvo, controlada por chineses, anunciou que a partir de 2019 só vai lançar carros elétricos ou híbridos. Motores a combustão continuarão apenas nos Volvos lançados até 2018, até que eles saiam de linha na próxima década.
Trata-se de uma aposta ousada e sem precedentes na indústria tradicional. Na prática, a Volvo está dizendo que em dois anos, seus novos projetos não terão motores a gasolina ou diesel (no máximo híbridos). A marca espera lançar cinco modelos nessas condições entre 2019 e 20121. E pretende vender 1 milhão de carros com esse tipo de propulsão até 2025.
Além de ousada, a estratégia soa inteligente. Por ser uma marca de nicho, a Volvo tem mais facilidade que as generalistas para abandonar os motores tradicionais. E, com esse anúncio, tende a atrair investimentos e acionistas que apostam suas fichas numa nova era da indústria automotiva. Trata-se, ainda, da primeira montadora tradicional a mandar um recado claro para a norte-americana Tesla, especializada em veículos 100% elétricos: “Tesla, estamos quase prontos para o combate”!
Atenta à movimentação dos concorrentes, a Tesla continua ditando o ritmo das inovações. Na semana passada saiu da fábrica o primeiro Model 3, o mais compacto e acessível dos Tesla. O dono do primeiro é o fundador da empresa, Elon Musk.
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Mas em breve o Model 3 começa a chegar às lojas daquele país por US$ 35 mil. Cerca de 500 mil pessoas já pagaram o sinal de US$ 1 mil para reservar o seu exemplar. Muitos deles estão entre os 30 mil funcionários da empresa, que não tinham dinheiro para comprar o Model S ou o Model X. O lançamento oficial será no dia 28 de julho.
Com esse modelo em linha, em breve a Tesla pretende igualar nos EUA o volume de vendas anual da BMW e da Mercedes, de acordo com reportagem da agência Bloomberg. A fabricante está cumprindo todas as suas promessas aos acionistas, e hoje a mais complicada parece ser a manutenção da qualidade nessa transição para uma fábrica de volume.
Os dados técnicos ainda não foram todos divulgados, mas já se sabe que o Model 3 terá aceleração de 0 a 100 km/h em 5,7 segundos, e autonomia de 346 km. Com uma bateria maior (opcional), poderá chegar perto de 500 km sem recarga. Dois porta-malas somarão quase 400 litros de volume, e o carro pode levar cinco adultos. Todos os Model 3 terão hardware para condução autônoma, outra grande aposta da Tesla.
Estrategicamente, a Tesla mira em modelos premium, sobretudo de marcas alemãs. Por isso, o trio alemão corre atrás do prejuízo. Um bom exemplo é a quarta geração do Audi A8, apresentada nesta semana. Ele é o primeiro modelo da marca projetado para receber condução autônoma. E, claro, já tem uma versão com a nova geração de propulsão híbrida do Grupo VW.
E no Brasil?
Nosso país ainda engatinha na eletrificação da frota. Mas aos poucos a presença deles vai aumentando. No primeiro semestre foram emplacados 1.184 modelos híbridos ou elétricos, o que já é mais que todo o volume do ano passado (1.091). A Toyota lidera esse nicho de mercado com o híbrido Prius, que teve 850 unidades vendidas, muitos para taxistas.
No último fim de semana, informa a Folha de S. Paulo, foi lançado na capital paulista o serviço “Urbano LD Sharing”, no qual o cliente pode pegar e devolver carros para viagens curtas em áreas pré-determinadas, pagando apelas pelo uso. Da frota inicial de 60 veículos, apenas 15 são elétricos. Mas a empresa quer ampliar para 300 unidades até o fim de 2018, sendo 50% elétricos. Em Fortaleza, um serviço semelhante, chamado Vamo, já colocou 20 modelos elétricos em circulação. A proliferação de serviços de compartilhamento (várias montadoras estudam entrar neste ramo) tende a ampliar o uso desse tipo de veículo nas principais capitais.
A maior oferta de híbridos e elétricos no país vai depender do acordo firmado entre fabricantes e governo no programa Rota 2030, a ser implementado a partir de 2018 em substituição ao Inovar Auto. Embora o foco ainda seja o uso do etanol, é certo que a legislação vai reduzir a tributação de carros de baixa emissão. Dessa forma, a importação de modelos híbridos ou elétricos vai ajudar ainda mais as montadoras a obter a média de eficiência energética de sua gama.
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O fato é que, mesmo com atraso em relação aos mercados mais tradicionais, a globalização forçará o Brasil a entrar na corrente dos carros elétricos. Especialistas tentam calcular em que momento da próxima década o volume de carros desse tipo será grande o suficiente para gerar economia de escala. Esse será o ponto de virada global, que já começou pelos modelos premium, como Tesla e Volvo, e que fatalmente chegará aos mais populares.
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