Há pouco mais de seis meses, essa coluna adiantava que o super-IPI de 30 pontos porcentuais extras deixaria de castigar os carros importados que superassem a cota de 4.800 unidades por marca. E que isso traria uma série de consequências benéficas para nosso mercado, pelo papel regulador que os importados exercem sobre os preços e sobre a qualidade dos automóveis feitos no Brasil. Pois bem. Restando menos de três meses para a queda dessa barreira, várias marcas já fazem planos ousados, e outras que haviam saído do país preparam sua volta.
LEIA MAIS: Novo Polo e Toyota Yaris: hatches premium desafiam SUVs de entrada
A primeira a anunciar seu retorno foi a coreana SaangYong, após dois anos de ausência. Com novo representante no Brasil (o Grupo Venko, que já foi representante da chinesa Chery), a marca promete vender 3 mil unidades no ano que vem dos inéditos SUVs importados Tivoli (compacto) e XLV (médio), além dos conhecidos e renovados Korando (SUV grande) e Actyon Sports (picape média). A rede já tem 15 concessionárias para atender aos 17 mil clientes que compraram carros na fase anterior, e deverá chegar a 50 pontos até o fim do ano que vem.
Terceira maior marca coreana, atrás de Hyundai e Kia, a SsangYong hoje pertence à indiana Mahindra, outra que já esteve no Brasil, inclusive produzindo utilitários em CKD na Zona Franca de Manaus. Questionados por AutoBuzz sobre a possível volta da Mahindra, os executivos do Grupo Venko confirmaram que está nos planos, mas apenas para 2019. A meta inicial é mesmo restabelecer as operações da Ssangyong.
Falando em coreanos, a Kia, uma das marcas que mais sofreu com o super-IPI, prepara uma lista de lançamentos para tentar recuperar o terreno perdido nesses mais de seis anos de cotas e sobretaxações. O compacto Picanto, o hatch médio Rio, o SUV compacto Stonic e o esportivo Stinger fazem parte do cardápio do Grupo Gandini, representante da Kia no Brasil há mais de 25 anos.
LEIA MAIS: Fusão ou venda da FCA para chineses pode beneficiar o Brasil. Entenda
Hoje a Kia conta com 100 concessionárias no país, mas já chegou a operar com 180 em 2011, seu melhor ano, quando emplacou 80 mil carros. Desde 2012 ela tem respeitado a cota de 4.800 unidades/ano para não recolher IPI mais alto. Para o ano que vem, José Luiz Gandini espera vender 20 mil carros, o que manteria sua rede saudável e permitiria começar a pensar em novos pontos de venda.
Outra marca que espera ansiosamente pelo fim do Inovar-Auto e estreia do Rota 2030 é a chinesa Jac, uma das mais prejudicadas pela restrição imposta há 6 anos – justamente após sua chegada ao país. O lançamento há dois meses do Jac T40 com câmbio manual foi apenas um aperitivo do que vem em 2018. Logo na virada do ano chega a versão automática CVT desse crossover muito bem equipado, que vai custar cerca de R$ 62 mil – a versão manual parte de R$ 57 mil.
O T40, por sinal, representa uma virada nos rumos da marca por aqui. A partir dele, a Jac quer deixar os carros de passeio em segundo plano, focando suas vendas em crossovers e SUVs. Os modelos T60 e T70 já estão sendo preparados para o nosso mercado, um de médio porte, o outro grande. Chegam na metade de 2018, ano em que a empresa planeja vender de 8 a 10 mil unidades, mais do que o dobro da cota anual a que tinha direito. E em 2019 o número deve subir muito com a chegada de outros modelos, além da produção na Bahia do T40, no regime de CKD (maioria dos componentes virá desmontada da China, mas haverá muitas peças nacionais).
A perseverança de marcas como Kia e Jac, a volta de SsangYong e Mahindra, e a possível chegada de outros fabricantes, como a japonesa Mazda, mostram que o mercado brasileiro não pode ser desprezado por nenhum grande jogador do quebra-cabeça automotivo, mesmo com o encolhimento nos últimos quatro anos – e a tímida reação neste 2017.
Rota 2030
O fim do protecionismo excessivo não é a única, mas é uma das grandes notícias do programa Rota 2030, que estreia em 1º de janeiro. Durante esses seis anos de isolamento, tivemos, sim, a chegada de algumas fábricas ao Brasil, mas elas já estavam no planejamento das empresas antes mesmo das cotas aos importados. Por outro lado, com a saída de algumas marcas do país, e o encolhimento de outras, houve o fechamento de centenas de postos de trabalho em concessionárias, importadores e outras funções indiretas.
LEIA MAIS: Quem disse que o mercado de carros de luxo não sofre com a crise?
Talvez os importados vendidos hoje por aqui não fiquem mais baratos. Mas posso garantir que novos modelos, de custo mais baixo e maior volume, chegarão para colocar uma saudável pressão nos preços e nas tecnologias dos produtos nacionais. Sem falar nas tendências. Segmentos como minivans, crossovers e SUVs vieram primeiro com carros estrangeiros, antes de serem adotados para produção local.
Escreva para a coluna: [email protected] , ou acesse no Facebook e no Instagram pelo endereço glaucolucena67