Na semana passada, a aliança VW e Ford formalizou uma parceria global para desenvolver veículos comerciais e, quem sabe, algumas coisinhas mais. Um dia depois foi a vez de Audi e Hyundai anunciarem que vão unir esforços no desenvolvimento de tecnologias de eletrificação à base de hidrogênio.
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Enquanto a aliança VW e Ford e Audi com Hyundai gatinham, a tríplice Renault-Nissan-Mitsubishi está em outro patamar. Foi confirmado que as sinergias globais vão aumentar nos próximos anos, o que pode desembocar numa fusão completa das empresas. Essa onda de parcerias e fusões expõe os esforços das montadoras em se adequar às novas demandas da era digital. Mas também revela que está faltando “dindin” para desafios tão grandiosos. Está claro que, sozinhas, elas não vão a lugar algum.
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O caso mais emblemático é o da parceria entre VW e Ford. O grupo alemão é o que mais vende veículos no mundo, mas sente no bolso as multas milionárias do escândalo batizado de dieselgate (fraude que omitia o real nível de emissões dos motores diesel do Grupo VW). Já a norte-americana Ford tem dificuldades de se manter competitiva em todas as áreas onde é demandada. Prova disso é o recente anúncio de que praticamente abandonará o segmento de carros de passeio em seu berço, os EUA, para focar em picapes e SUVs.
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A reunião de VW e Ford prova que a necessidade é capaz de apagar as arestas de um passado recente. Elas já tinham se unido nos tempos de Autolatina (no Brasil e na Argentina), entre 1987 e 1996, e na Autoeuropa, entre 1991 e 1999. A separação não foi das mais amigáveis, tanto aqui, quanto na Europa. Os comunicados das duas montadoras divulgados na semana passada não forneceram detalhes sobre os tipos de veículos e os mercados onde a parceria vai atuar, mas isso será conhecido em breve. E poderá haver reflexos no Brasil.
A Ford hoje não produz mais caminhões grandes no mundo, exceção feita ao Brasil (no ABC paulista), e essa operação está ameaçada caso não haja sinergia com algum fabricante mais capitalizado. Com MAN e Scania, a o Grupo VW é um gigante na área de caminhões. Já a Ford é uma potência no segmento de picapes e vans nos EUA, enquanto a VW patina para conseguir embalar com sua picape Amarok feita na Argentina.
Portanto, a parceria pode ser benéfica a ambos também na América do Sul. O comunicado disse que a aliança não envolverá acordos de participação (trocas acionárias). Mas analistas nos EUA e na Europa acreditam que o acordo pode evoluir para carros de passeio, e até para uma fusão em algum grau, num futuro não tão distante.
Audi: parceria e CEO na cadeia
Na mesma semana em que a alemã Audi (do Grupo VW) e a coreana Hyundai se uniam para desenvolver tecnologia de células (ou pilhas) a hidrogênio para veículos elétricos, o CEO global da Audi, Ruopert Stadler, era preso na Alemanha por envolvimento do caso dieselgate.
Além do prejuízo causado pelas multas e pelos reparos em milhares de motores, a marca premium (e o Grupo VW, por tabela) sofre perdas inacalculáveis em termos de imagem. Dados os prejuízos, a Audi viu-se forçada a buscar ajuda dos coreanos da Hyundai para manter seus planos de eletrificação para a próxima década. As duas montadoras querem agilizar a produção em série de veículos elétricos com pilhas de hidrogênio, dividindo os pesados custos de desenvolvimento.
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A Hyundai está avançada nessa área. Vai lançar no que vem o crossover Nexo alimentado por células a hidrogênio. Dentro do Grupo VW, a Audi assumiu a responsabilidade pelo desenvolvimento dessa tecnologia e atualmente trabalha em sua sexta geração. No início da próxima década, a Audi apresentará o primeiro um SUV de luxo com autonomia de longo alcance. A Audi já trabalha com conceitos de célula a combustível há quase 20 anos.
O primeiro veículo de teste foi o compacto A2H2, em 2004, seguido pelo Q5 HFC, em 2008. O A7 Sportback h-tron quattro, de 2014, introduziu o sufixo “h-tron” para representar o elemento hidrogênio. O conceito h-tron quattro, apresentado em 2016, demonstrou ainda mais a tecnologia da marca alemã nesse campo.
Fusões à vista
A Renault-Nissan-Mitsubishi anunciou, também na semana passada, um aumento de 14% em sinergias anuais, para 5,7 bilhões de euros, em comparação com os 5 bilhões de euros de 2016, resultado da parceria das três montadoras que formam a maior aliança da indústria automobilística mundial. As empresas-membro da Aliança se beneficiam de um aumento na redução de custos, receitas incrementais e custos evitados. Esses resultados ajudam o CEO global da Aliança, o brasileiro Carlos Ghosn, a vencer as resistências do governo francês (maior acionista da Renault) a liberar uma real fusão franco-nipônica.
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Falando em fusão, como fica a FCA (Fiat Chrysler Automobiles), tão cortejada no ano passado, sobretudo por chineses? No início do ano, o chefão Sergio Marchionne disse que não falaria mais em fusões antes de demonstrar os resultados sólidos do plano estratégico do grupo. Os bons resultados dos últimos cinco anos, sobretudo da Jeep, foram apresentados aos acionistas em 1º de junho. Agora, com o passe valorizado, talvez seja a hora de repensar em novos acordos e fusões do grupo ítalo-americano.
O momento da indústria, portanto, é de união faz a força. Ou, melhor, a união é a única salvação num momento em que as montadoras, como na aliança VW e Ford , têm de investir em eletrificação, automação, conectividade e compartilhamento, sem largar a mão das disputas atuais no mercado global. E vendo cada vez mais de perto o surgimento de novos jogadores no tabuleiro, como Tesla, Geely, Uber e tantas outras empresas da era digital. O jogo promete!