O Salão do Automóvel 2018 é um show para atrair o público, com supermáquinas, protótipos, tecnologias, test-drives e muita interação. Em todos esses quesitos, a 30ª edição superou as expectativas, o que ajudou a atrair quase 750 mil pessoas durante os 11 dias de evento. Mas tirando todo esse aparato lúdico, o que ficou deste evento em termos de mercado? Dentre as tendências apresentadas, quais vieram com mais força, para ficar? AutoBuzz aposta em quatro delas para os próximos anos.
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1 – SUVs, SUVs e mais SUVs
Sim, eles já dominam a cena nas ruas, e foram a grande força em todos os estandes do Salão, comprovando que são muito mais que um modismo. E isso ficou mais evidenciado com a ausência de lançamentos nos segmentos mais tradicionais. Salvo raríssimas exceções, não foram vistas no Salão do Automóvel 2018 novidades entre hatches, sedãs, picapes e peruas.
De acordo com o novo estudo Automotive Brazil 2030, da Bright Consulting, o segmento de SUVs abrangerá 30% do mercado nacional até a metade da próxima década, uma elevação de 50% em relação ao tamanho atual (vai fechar o ano com 20% das vendas no Brasil). Vale lembrar que em 2010 eles não passavam de 6% do bolo.
Sob esse ponto de vista mercadológico, o principal lançamento do Salão foi o VW T-Cross . Na verdade, foi a pré-estreia do modelo, já que ele só começa a ser produzido no Paraná em janeiro, e deve inundar as lojas em abril, desafiando o líder Honda HR-V e outros bem-vendidos SUVs compactos.
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Já a Ford destacou o Territory, rival do Jeep Compass que chega da China no fim do ano que vem. Também chamou a atenção no Salão que até as novidades de supermarcas eram dessa categoria, como o Rolls Royce Cullinan ou o Lamborghini Urus. E também das marcas premium, como o Audi Q8 ou o novo BMW X5. Uma verdadeira invasão SUV, em todos os territórios, estilos, tamanhos e faixas de preço.
2 – Elétricos e híbridos perderam a timidez
Foi-se o tempo em que modelos com propulsão alternativa vinham para os salões apenas como carros de show. Só de modelos 100% elétricos foram três anúncios importantes no evento: Renault Zoe (R$ 149 mil), Nissan Leaf (R$ 178.400) e Chevrolet Bolt (R$ 185 mil). Baratos?
Longe disso. Mas eles enfim chegaram, e tendem a se popularizar aos poucos, inclusive com reduções de preço (as baterias ainda são o maior custo, mas vêm baixando rapidamente). A eletrificação não poupou as supermáquinas – o impressionante Audi e-tron foi só um exemplo.
De acordo com o minucioso estudo da Bright Consulting, até 2030 o Brasil terá em torno de 10% de veículos eletrificados no mix total de vendas. Enquanto os puramente elétricos não baixam de preço, os híbridos premium apresentam bom custo-benefício, com grande autonomia e pouca manutenção. Um dos destaques híbridos da mostra foi o Lexus UX, com preços partindo de R$ 170 mil. Portanto, mais interessante que os 100% elétricos, por enquanto.
3 – Valorização do design brasileiro
A picape VW Tarok e o crossover Fiat Fastback foram, sem dúvida, as mais gratas surpresas desta edição do Salão do Automóvel. Em comum, eles têm o fato de serem modelos conceituais, embora muito próximos de serem lançados comercialmente. E, mais interessante, foram desenvolvidos por equipes de design que as duas montadoras mantêm no Brasil, com grande autonomia em relação às matrizes.
A turma da VW claramente mirou na bem-sucedida Fiat Toro para desenvolver a Tarok. O presidente da VW, Pablo Di Si, afirmou a AutoBuzz que o modelo definitivo chega às lojas em pouco mais de um ano. Já o pessoal da Fiat deixou um recado claro para acalmar clientes e concessionários: a marca não vai entrar na praia do off-road mais raiz, território da irmã Jeep, mas a gama terá modelos que se aproximam do universo SUV. Um crossover bem similar ao Fastback chega às lojas em 2021 como topo da gama, e será apenas um dos três modelos dessa categoria que a marca terá até 2023, segundo seu presidente Antonio Filosa.
4 – A nova “invasão” chinesa
Quando o governo Dilma criou, dentro do Inovar Auto, cotas e o Super-IPI para os importados, estava atendendo ao lobby das montadoras, que alertavam para uma suposta invasão chinesa. Na época, a JAC fazia barulho, inaugurando uma grande rede de revendas e tendo o apresentador Fausto Silva como garoto-propaganda. As medidas do governo surtiram efeito: algumas marcas chinesas fugiram, outras desistiram de vir, e três delas permaneceram no país em banho-maria.
Após o fim do Inovar Auto, no início deste ano, as condições voltaram a ser um pouco mais favoráveis para os importados, incluindo os chineses. A JAC (ausente do Salão) vem lançando SUVS, da mesma forma que a Lifan, que monta seus modelos em CKD no Uruguai. Mas o grande lance foi dado pelo Grupo Caoa, que comprou a operação local da Chery e tem se revelado uma nova força no varejo, graças à capilaridade e tradição de sua rede.
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Com uma série de lançamentos no Salão do Automóvel, ela projeta ser a 11ª marca no ranking de vendas já em 2019. “Teremos capacidade para produzir e vender 40 mil unidades no Brasil no ano que vem”, afirmou a AutoBuzz o CEO da Caoa-Chery, Márcio Alfonso. A Chery já tinha uma fábrica em Jacareí, no interior de São Paulo. Com a aquisição pela Caoa, passou a ter uma segunda unidade fabril, em Goiás. A de São Paulo produzia o pequenino QQ e o Tiggo 2, e agora está montando também o sedã compacto Arrizo 5, com preços anunciados no Salão, a partir de R$ 66 mil.
Já a planta goiana começou a produzir este mês o Tiggo 5X . Ele chega no começo do ano para brigar no segmento de Honda HR-V e cia. Outra grande aposta é o Tiggo 7, também revelado no Salão, que será produzido em Goiás a partir de fevereiro. Seu porte é semelhante ao do Jeep Compass, SUV mais vendido do país. A gama estará completa no fim de 2019 com o Tiggo 8 (outra atração na exposição), um SUV grande, para sete pessoas. Ironia do destino, a nova invasão chinesa, mostrada no Salão do Automóvel 2018 , está se dando com modelos feitos no Brasil, por um dos maiores comerciantes de carros do país.