![Automobilismo: Ayrton Senna, que faria 58 anos no dia 21 de março, foi o último campeão brasileiro na F1 em 1991 Automobilismo: Ayrton Senna, que faria 58 anos no dia 21 de março, foi o último campeão brasileiro na F1 em 1991](https://i0.statig.com.br/bancodeimagens/0p/3b/0q/0p3b0qctvbrthd3rzlcetuo1c.jpg)
No próximo dia 21 de março Ayrton Senna faria 58 anos. Poucos dias depois da data, em 25 de março, terá início mais uma temporada de Fórmula 1. Por isso, o assunto desta coluna volta a ser o automobilismo. Senna foi o último brasileiro campeão da categoria, que teve ainda no topo Nelson Piquet e o grande precursor de todos, Emerson Fittipaldi.
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Em comum, todo grande piloto dirá que as categorias de base do automobilismo foram fundamentais para seu desenvolvimento. E estamos falando de nomes que não tinham a tarefa apenas de pilotar, eles eram decisivos no desenvolvimento dos carros. Hoje, isso ainda acontece, mas com tanta tecnologia, nenhum piloto irá sujar a mão de graxa ou se arriscar a mexer num motor.
Na última semana, a coluna publicou opiniões do jornalista Reginaldo Leme, que cobre a F1 há 46 anos. Hoje, aproveito para compartilhar mais alguns trechos da entrevista que contribuem para a discussão. “A falta de uma categoria de monoposto para o garoto se preparar sem deixar o Brasil fez com que kartistas que se destacaram por aqui deixassem o país mais cedo do que o normal para se aventurar no automobilismo europeu”.
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Esporte para poucos
O automobilismo já é um esporte caro desde os primeiros passos no kart, que tem modalidades como a Fórmula Vee e a recém chegada Fórmula Inter - que usa motores Ford Duratec 2.0 16v e construção em fibra de carbono - em seu paralelo. A mudança para um monoposto acarreta ainda mais investimentos. Sem uma categoria-escola por aqui minimamente viável, a maioria dos garotos não tem condições de seguir a carreira nos fórmulas. Muitos continuam apenas se divertindo no kart ou migram para os carros de turismo, que hoje sim tem força no Brasil com a Stock Car. Basta ver que a abertura da competição numa corrida em duplas teve dez ex-pilotos da F1 no grid.
Fórmula Ford – o início de tudo
![A Fórmula Ford começou no Brasil em 1970 num torneio internacional abrindo o caminho para a criação da categoria brasileira A Fórmula Ford começou no Brasil em 1970 num torneio internacional abrindo o caminho para a criação da categoria brasileira](https://i0.statig.com.br/bancodeimagens/63/lo/6y/63lo6y977b6as9c3q0k07c2xu.jpg)
A categoria que levava o selo da Ford foi por muitos anos um verdadeiro celeiro. Atraia o olhar de grandes equipes. Tudo começou com a Fórmula Ford europeia onde Emerson Fittipaldi, em 1969, estreou internacionalmente. Ele também foi o campeão do Torneio BUA de Fórmula Ford Brasil nas corridas inaugurais dessa categoria no País em 1970.
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O modelo de fora seria trazido com muito sucesso para o Brasil. Com corridas no recém-inaugurado autódromo de Interlagos, e em Curitiba, Rio de Janeiro e Fortaleza, a Fórmula Ford iniciou um campeonato brasileiro em 1971 que durou até 1996. A F-Ford foi baseada nos regulamentos da categoria inglesa e durante muitos anos seguiu os gabaritos técnicos de lá. Eram literalmente iguais, o que motivava quem competia no Brasil.
Outros pilotos que também chegaram à F1 e outras categorias iniciando na Fórmula Ford brasileira foram Alex Dias Ribeiro, Luciano Burti, Gil de Ferran, Christian Fittipaldi e Rubens Barrichello.
![Pietro Fittipaldi, neto de Emerson, este ano correrá na Fórmula Indy, com o forte apoio de patrocínio do mexicano Carlos Slim Pietro Fittipaldi, neto de Emerson, este ano correrá na Fórmula Indy, com o forte apoio de patrocínio do mexicano Carlos Slim](https://i0.statig.com.br/bancodeimagens/4r/kp/jv/4rkpjvs1rx65ca8vuj587cogj.jpg)
Hoje, é difícil sonhar com algo nesse modelo. A Fiat e Felipe Massa foram os últimos a tentar ao lançar a Fórmula Futuro. Mas foram disputadas apenas duas temporadas em 2010 e 2011. Atualmente, a Fórmula Inter vem ocupando esse espaço, pois pensando em protótipos Fórmula, é o mais viável que há hoje no Brasil. Confira o calendário dessa categoria, pois haverá uma corrida no dia 8 de abril, o que pode ser uma boa oportunidade para um primeiro contato.
Os pilotos dependem muito do apoio das famílias, como o filho de Nelson, Pedro Piquet. E de patrocinadores fortes, como Pietro Fittipaldi. O neto de Emerson é apoiado pelo empresário bilionário mexicano Carlos Slim.
O brasileiro hoje mais próximo da F1, Sérgio Sette Camara, já fez parte do time de jovens pilotos da Red Bull. Ele deixou o programa, mas foi um grande empurrão na carreira. Agora terá mais um teste de fogo na Fórmula 2. “Ele vai ter um duelo muito duro com o companheiro Lando Norris, que já é piloto reserva da McLaren e, mais do que isso, é o inglês da vez. Sendo preparado pela McLaren há alguns anos, como aconteceu com Lewis Hamilton, Norris é a aposta inglesa e os dois correrão juntos numa equipe inglesa”, analisa Reginaldo Leme.
Aniversário do ídolo
![O website Ayrton Senna mostra a carreira do piloto que começou no kart, onde era conhecido com o piloto “42 O website Ayrton Senna mostra a carreira do piloto que começou no kart, onde era conhecido com o piloto “42](https://i0.statig.com.br/bancodeimagens/cg/0z/5o/cg0z5o7osxee404kapmx6pawt.jpg)
Ayrton Senna, que completaria 58 anos na próxima semana, nunca escondeu que foi longe graças ao kart quando usava o número 42. No início da década de 80, ele visitou a sede da Ford para discutir seu futuro. Era um tempo em que a montadora americana tinha forte imagem no automobilismo e o promissor piloto foi explicar os próximos passos da carreira.
Conheci Ayrton, que era tímido, de poucas palavras. Claro que não daria para imaginar onde ele chegaria e a idolatria que conquistou. Eu tinha 28 anos e uma das minhas tarefas na Ford era acompanhar as corridas que levavam o nome da montadora. Uma diversão misturada ao trabalho. Não existiam tantas barreiras entre pilotos, equipes, jornalistas e público. Se na F1 da época, já era muito tranquilo circular nos boxes e ver o desenvolvimento dos carros, imagine numa categoria de base.
Uma pena pra mim que Ayrton optou por pular do kart diretamente para monopostos na Europa, e sorte e competência dele que brilhou logo de cara. Primeiro, foi campeão da Fórmula Ford 1600 inglesa, em 1981. No ano seguinte, desembarcou na Fórmula Ford 2000. Disputou os campeonatos inglês e europeu sendo campeão dos dois. Foi ainda para a Fórmula 3 até chegar na Fórmula 1. E lá todos já sabem a história. Tricampeão da categoria até o acidente fatal em 1994.
![Senna teve uma carreira meteórica na Europa, iniciando na Fórmula Ford inglesa, seguindo à Fórmula 3 e depois à F1 Senna teve uma carreira meteórica na Europa, iniciando na Fórmula Ford inglesa, seguindo à Fórmula 3 e depois à F1](https://i0.statig.com.br/bancodeimagens/7a/yl/x0/7aylx0r7eul3b2czwkazmrzyu.jpg)
Esses breves relatos mostram como a ausência de uma categoria-escola de monoposto no Brasil é fator decisivo na perda de força do nosso automobilismo.
Atenção ao spoiler agora. No documentário “Senna”, que está disponível no Netflix, toda a trajetória dele é descrita.
![Na lista de filmes da Netflix, o documentário “Senna” mostra a sua trajetória para muitos “o melhor piloto brasileiro Na lista de filmes da Netflix, o documentário “Senna” mostra a sua trajetória para muitos “o melhor piloto brasileiro](https://i0.statig.com.br/bancodeimagens/59/64/u9/5964u907vkd3bx0bxr2i94msv.jpg)
Não quero entrar em ufanismos ou qual o melhor piloto brasileiro, mas o filme traz um recado interessante de Senna ao ser questionado numa entrevista qual era o piloto que teve mais prazer de enfrentar. Em inglês, ele responde que seria necessário voltar para 1978, 1979 e 1980 quando saiu do Brasil para competir. O nome escolhido foi o kartista inglês Terry Fullerton, e Senna completa “era pura pilotagem, puro automobilismo. Não tinha política envolvida no automobilismo, nem dinheiro. Era corrida de verdade.”