“Herdei o Fusca 76 que era do meu bisavô. Carrinho alinhado, utilizado diáriamente por muitos anos. Mas já na primeira vez que o dirigi observei uma certa folga na direção. Observei ainda que quando a roda chegava no limite do esterçamento o volante ainda permitia mais um pouco de giro. Isso que eu relatei é normal?”
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Não somente o Fusca, mas todos os veículos que utilizam mecanismo de direção tipo “eixo setor e sem fim” (Volkswagen Kombi, Chevrolet Opala, Ford Maverick e Dodge Dart) apresentam uma folga característica na direção (mais acentuada do que a folga encontrada em veículos com mecanismo de direção tipo “pinhão e cremalheira” como Volkswagen Passat, Chevrolet Chevette, Ford Corcel e Dodge Polara). Quando o veículo com mecanismo de direção “eixo setor e sem fim” é novo todos os componentes do sistema de direção estão “justos” (somente com as folgas mínimas necessárias para que o sistema de direção trabalhe) e por isso essa “folga” na direção não é tão perceptível.
Mas, com o uso do veículo, componentes como o embuchamento interno do mecanismo de direção tipo “eixo setor e sem fim” e os terminais de direção apresentam desgastes internos que vão se acumulando e acabam refletidos na forma de “folga” na direção. Esforço, acionamentos e temperatura são fatores que atuam diretamente no desgaste dos componentes do sistema de direção.
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Nos mecanismos de direção tipo “eixo setor e sem fim” o eixo tipo “Sem fim” atua sobre o eixo “Setor”, girando este eixo no qual é montado o braço Pitman (que é o responsável por acionar a movimentação das barras de direção).
Pela própria natureza do funcionamento deste tipo de mecanismo de direção não é possível construir um batente (que limite o esterçamento do veículo) dentro do mecanismo de direção. Por isso quando ocorre o esterçamento máximo nas rodas ainda há a elasticidades dos terminais e embuchamentos para ser vencido. O resultado dessa elasticidade aparece na forma de mais alguns graus de esterçamento do volante, mesmo que as rodas já não possam mais ser esterçadas.
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Para que essa folga seja amenizada é recomenda que seja feita uma revisão de todas as buchas do sistema de direção e no ajuste do mecanismo de direção. Troque todas as borrachas e terminais que apresentarem folga excessiva (sempre por peças de boa qualidade – se possível originais - para que o benefício trazido pela troca seja duradouro)
Observe também
1 - Se o veículo está (ou esteve) com rodas muito maiores e pesadas do que as originalmente liberadas para ele: com o uso do veículo o peso excessivo das rodas contribui muito com a deterioração dos componentes de direção.
2 - Para veículos da linha VW refrigerada a ar 76 modelo 77 em diante, com o Fusca: verifique também as buchas que fazem a conexão da coluna de direção com o mecanismo de direção. O desgaste dessas buchas também ocasiona folga na direção e no caso de rompimento das mesmas o volante não consegue mais mover as rodas.
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Márcio Zoppi é entusiasta da história do automóvel brasileiro e professor de sistemas de
direção na Escola de Restauração de Veículos Antigos. Graduado e mestrado em engenharia
mecânica automotiva. Atua há mais de 15 anos em desenvolvimento de sistemas de direção
para automóveis de passeio e veículos comerciais leves, sendo que 2 anos na Alemanha em uma fabricante mundial de veículos.