Escultores, pintores, escritores, músicos e cineastas que me perdoem, mas a mais fantástica obra de arte do mundo é o carro. Por uma questão não apenas do “ideal de beleza e harmonia e expressão da subjetividade humana" – como define o dicionário Houaiss sobre o que é arte, mas também pelo envolvimento, pela relação homem-máquina, pelos sentimentos despertados.
Há também, ao meu ver, a questão de quantas artes há dentro da arte. Um quadro, por exemplo, se resume ao que está na tela. Muitos mexem instantaneamente com o espectador. Difícil não se comover diante do Café Terrace at Night, de Vincent Van Gogh, com aquele céu quase abstrato – mas a admiração acaba ali.
Agora, pare diante de um Jaguar E-Type , eleito mais belo automóvel de todos os tempos inúmeras vezes. Além do design externo, já uma obra de arte em si, temos a pintura que é a cabine, com seu volante enorme e os inúmeros mostradores lado a lado. Daí vem a arte da engenharia, que faz centenas de peças funcionarem em harmonia. Ou seja, três artes em uma só.
Sem falar nos sentimentos que preenchem quem está ao volante do esportivo inglês: excitação, poder, realização e, por que não, medo. Por fim, questões práticas: essa obra de arte te leva a lugares que discos ou esculturas não levarão – desde viagens corriqueiras, como a um restaurante, ou aquelas inesquecíveis, voltando da maternidade com seu filho recém-nascido.
O pessoal do Hotel Molitor, em Paris, também deve pensar assim. Inaugurado em 1929 pelos nadadores olímpicos Aileen Riggin Soule e Johnny “Tarzan” Weissmuller, era o lugar para ver e ser visto no verão. Foi lá que, em 1946, Micheline Bernardini, dançarina do Casino de Paris, apresentou ao mundo o biquíni, tão ousado para a época. Em 1989, foi desativado e assim ficou até 2007, quando fora totalmente reconstruído – mantendo, contudo, a piscina original, pela qual era famoso.
Há várias expressões de arte por lá, das paredes ao carpete. Mas a principal delas, que faz todo hóspede perder alguns minutos para admirá-la, é um Rolls-Royce Corniche 1984, bem no meio da recepção.