Carregadores nas vagas de estacionamento prontos para receber a alta de demanda
Thiago Garcia
Carregadores nas vagas de estacionamento prontos para receber a alta de demanda

Fala, galera. Beleza? Finalmente 2022 encerrou e 2023 acabou de nascer. Sobre 2023 não posso dizer nada, pois nem terminou o primeiro dia útil do ano, mas posso falar muito sobre 2022.

Foi nele que comecei a escrever para o Portal iG . E tem sido muito bom por dois motivos: o primeiro é que escrevo sobre um assunto que sou apaixonado (este será o 34º texto da coluna). O segundo motivo é a possibilidade de praticar um exercício de reflexão sobre o tema.

Estou devendo falar sobre o crescimento da frota elétrica brasileira no ano de 2022 para um leitor. Então, tentarei trazer um pouco sobre o assunto acompanhado de uma reflexão sobre o desenvolvimento do ecossistema da mobilidade elétrica.

Quero fazer uma comparação entre o crescimento das frotas de veículos e aumento da rede de pontos de carregamento. Dessa forma, podemos ter uma visão crítica se o Brasil está preparado para virar a chave ou seu precisaremos acelerar o ritmo.

Primeiramente, vamos avaliar as vendas de novos veículos eletrificados. Quero deixar bem claro que estou excluindo da conta os veículos MHEV e HEV pelo simples fato de não fazerem uso do sistema de recarga. Na minha humilde opinião, veículos MHEV e HEV são modelos que continuam dependendo de motores à combustão e nem deveriam ser considerados veículos eletrificados.

Vamos ao que interessa: A minha consulta foi feita através do site FórumVE , um site que busca registrar tudo que tenha relação com a mobilidade elétrica. Neste caso, vamos consultar o número de emplacamentos no DENATRAN. O problema é que, às vezes, o órgão pode demorar para divulgar os dados. Para que fique mais justo, vou apresentar a comparação entre 09/2021 e 09/2022.

O aumento na frota elétrica brasileira no período de 12 meses foi em torno de 89,25% (lembre-se, não estou considerando modelos como Toyota Corolla Hybrid ou Kia Stonic). Podemos dizer que a frota eletrificada quase dobrou durante esse período.

Não tenho os dados comigo, mas tendo a acreditar que o último trimestre do ano deve ter puxado esse número para cima devido à entrega de novos modelos no mercado, como o Volvo XC40 P6, Chery Tiggo 8 Pro Plug-in, BYD Song Plus, Renault Kwid e-tech, Peugeot e2008, JAC eJ7, BMW iX, entre tantos outros.

O mais interessante é que o verdadeiro puxador de crescimento são os automóveis, com um aumento de 18.828 unidades para 33.668 em setembro de 2022. Todavia, são os caminhões que apresentaram o maior crescimento por categoria, com avanço de 284,30%. Isso mesmo, o número de caminhões elétricos saltou de 172 para 661 unidades no mesmo período.

Agora, falando da rede de carregamento, podemos observar que o crescimento está acompanhando a frota de veículos eletrificados. Infelizmente, não temos uma base oficial de pontos de carregamento, como já mencionei em um texto passado, mas ainda sim pude identificar o crescimento em um banco de dados que faço a curadoria.

O crescimento registrado ao longo do ano de 2022 (janeiro - dezembro) foi de aproximadamente 85%. Parece um simples crescimento que acompanha a frota de veículos, sem melhorar grande coisa a situação anterior.

Todavia, preciso fazer um novo adendo. Boa parte do crescimento da frota de veículos foi graças às motos e motonetas elétricas. Apesar de serem veículos 100% elétricos, que usam baterias e recarregam através de tomadas, essas motos e motonetas não possuem conectores que permitam o uso da rede de recarga que os demais veículos elétricos usam. A recarga é feita por tomadas simples ou pela troca de baterias em dispositivos exclusivos.

Se excluirmos as motos e motonetas do cálculo, o crescimento da frota foi da ordem de 78,76% (calma, ainda é um crescimento significativo).

Voltando um pouco no assunto do copo meio cheio . Talvez o crescimento não seja tão perceptível para todos e essa diferença de percepção tem fatores objetivos. Apesar de surgir de tempos em tempos carregadores por todo o Brasil, quatro estados não possuem nenhum carreador público identificado (AP, AC, RO e RR), todos na região Norte.

É fato que novas eletrovias surgiram no ano de 2022. Considero que a Rota Verde, entre as cidades de Feira de Santana/BA e Natal/RN, a mais relevante das novas eletrovias. Entretanto, o maior número de carregadores foi instalado em regiões que já contavam com infraestrutura de carregamento, como os estados de São Paulo e Rio Grande do Sul.

É possível observar a ampliação de carregadores de carga rápida em trechos bem conhecidos e muito utilizados, como São Paulo - Curitiba, São Paulo - Brasília e São Paulo - Belo Horizonte. Não é coincidência ver que os principais reforços ocorreram com São Paulo sendo o centro, pois São Paulo abriga a maior frota de veículos do Brasil.

O mesmo efeito se repete em estabelecimentos que oferecem o carregamento de carga semirrápida. Um exemplo de ampliação é o Catarina Outlet, localizado na Castelo Branco. O local, que contava com apenas um carregador, recebeu no início do ano mais cinco deles conectados à rede da Tupinambá e, ainda no segundo semestre de 2022, o local recebeu outros cinco carregadores. Com a entrega da segunda fase, somente da rede Tupinambá, o centro comercial oferece 10 carregadores no mesmo endereço.

É verdade que alguns carregadores foram retirados ou se encontram em manutenção, mas o crescimento está tão acelerado que são poucos os locais que deixaram de atender e não há outra opção para carregar na proximidade.

Então quer dizer que a rede de carregamento está crescendo mais que o necessário? Não é bem assim. Só estamos levando em consideração a quantidade de carregadores e veículos. O ponto primordial na conta de planejamento vai muito além da simples contabilidade de novos veículos no mercado. A maior mudança está no público consumidor e suas mudanças de hábitos.

Quando me associei a ABRAVEi (Associação Brasileira dos Proprietários de Veículos Elétricos Inovadores), ouvia-se muito que 90% das sessões de carregamento eram realizadas em ambiente doméstico e a média de distância percorrida diariamente era inferior a 30 km. Hoje a realidade é um pouco diferente.

Atualmente, temos uma grande parcela de usuários de mobilidade elétrica que fogem completamente deste perfil. Estou falando de profissionais como representantes comerciais, frotas operacionais e dos meus amigos entregadores e motoristas de App, que rodam mais de 200 km por dia. Por conta disso, é possível observar o aumento de sessões de carregamento pelo mesmo usuário.

Além disso, as pessoas pegaram gosto por viajar de carro elétrico. Não são poucos os relatos de viagens com veículos elétricos que passam de 1.000 km. Não falo só de viagens de férias, o número de viagens por motivos profissionais são cada vez mais comuns.

Na semana passada, recebi o seguinte relato: “Estou trabalhando com duas vans Peugeot e-Expert e vamos ampliar para quatro. Faço entrega em qualquer parte do Brasil, desde que tenha um carregador de carga rápida no meu caminho”.

Outro relato muito interessante é de um grande amigo de Sergipe que trabalha com uma empresa de balanças. Ele comprou um Chevrolet Bolt, que usa para viajar por todo o Nordeste. Já perdi até a conta de quanto ele economizou com o veículo elétrico, mas lembro que o gasto mensal de combustível com um VW Gol 1.0 era por volta de R$ 5.000.

Com o aumento de usuários que rodam muito por dia, é natural que a quantidade de sessões de carregamento cresça muito mais que o imaginado. Se antes uma ou duas recargas por semana eram suficientes para manter a rotina, daqui por diante será mais comum ver uma ou mais sessões por dia.

Então, meu caro leitor, gostaria de concluir o texto com a seguinte reflexão: o crescimento da frota elétrica brasileira acontece muito rapidamente, a quantidade de sessões de carregamento mais ainda. O ano de 2023 nem começou, mas já está na hora de dobrarmos a meta.

Até mais.

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