Fala, galera. Beleza? Essa semana fui surpreendido com diversos comentários da mesma pessoa em vários vídeos do meu canal no YouTube, todos se referiam ao custo de reparo após uma colisão.
Se você ainda não conhece meu canal, dá uma conferida.
Por conta desses comentários mais que repetitivos, decidi falar sobre o assunto. Não vou falar sobre as manutenções programadas, como revisões e trocas de peças de desgaste natural, mas das manutenções corretivas.
Não quero expor a marca sobre a qual foram gerados esses comentários por um simples motivo: não é exclusividade de um fabricante. Logo, não faz sentido criar uma imagem negativa do modelo em questão.
Vamos lá. Tenho poucas informações sobre o sinistro, mas o que foi relatado é o seguinte: o proprietário do veículo elétrico é um motorista de aplicativo que adquiriu o carro para trabalhar. Poucos dias depois de retirar o automóvel, se envolveu em um sinistro frontal, que gerou acionamento do airbag.
Pelo que me informou, as peças que precisam ser substituídas são: sistema de air-bag; parachoque, capô e faróis. Pode até ter mais peças, mas me lembro dessas que citei. O problema é que o reparo recebeu o orçamento de R$ 147.000, praticamente o preço de um carro novo.
É bem provável que tenha algumas informações sobre o ocorrido que foram omitidas e a história seja um pouco diferente. Não posso fazer julgamento de valores, mas considero que a informação esteja correta para esclarecer meu ponto de vista.
Quando adquiri meu JAC iEV40, utilizei vários fatores para decisão. Um deles foi exatamente o fato de compartilhar uma carroceria de outro modelo à combustão, o JAC T40. Por ser praticamente o mesmo carro, garantiria maior oferta de peças de reposição no caso de algum sinistro, inclusive peças de veículos com baixa (vulgo, ferro velho).
Na época que comprei o carro, não havia nenhum outro modelo no mercado brasileiro na mesma faixa de preço que compartilhava carroceria com um veículo à combustão. Até poderiam ter algumas peças do sistema de suspensão, acabamentos, mas funilaria, só o iEV40 tinha seu irmão mais velho.
O ponto é que muitas marcas estão lançando veículos exclusivamente elétricos, com design aerodinâmico, itens diferenciados e modernos. Isso significa que alguns elementos serão exclusivos de cada modelo.
Imaginem que as montadoras preparam para vender 300 carros em um ano de determinado modelo. Como um número em mente, organizam o estoque de peças para que não faltem e nem sobre, principalmente peças mais caras e complexas como sistema de tração e bateria de alta voltagem.
Mas aí vem o “pesadelo” de qualquer marca: as vendas são muito superiores ao esperado. Em vez de vender 300 carros em um ano, vende 450 unidades em 20 dias. As fábricas precisam remanejar o fornecimento de estoque para mercados, até então, considerados pouco expressivos.
O problema é que o fornecimento de peças não acompanha o crescimento de vendas. Então temos modelos com peças exclusivas em grande volume, sem estoque suficiente, que exijam importação, pagas em dólar e, para completar com a cereja do bolo, em um país com o trânsito extremamente violento.
O Brasil tem um dos maiores índices de acidentes de trânsito do mundo. É de se esperar que o Brasil demandaria mais peças de funilaria que a maioria dos demais países. Já falei em outros textos que o carro elétrico ensina ao motorista a se tornar um condutor melhor. Mas não é a realidade da maioria das pessoas que dirigem no nosso país
Pode-se observar esse efeito de alto custo de peças nas apólices de seguro. A tendência seria que o valor do prêmio baixasse conforme o carro envelhece, mas em um país que o carro valoriza ano a ano e as peças ficam cada vez mais caras, o seguro não ficaria mais barato.
Em resumo, até onde pode ser considerado um valor abusivo ou simplesmente custo por oferta/demanda? Precisamos lembrar que há o custo de importação de peças exclusivas e, ainda mais, um espaço preparado para manutenção de veículos elétricos, com ferramentas especiais e profissionais capacitados.
Ah, então quer dizer que não vale a pena ter carro elétrico por causa do custo de manutenção? Não foi isso que eu disse. O que eu quero dizer é que modelos com peças exclusivas tendem a ter um custo de manutenção maior por falta de peças de reposição. Isso pode ser observado em qualquer tipo de carro.
Mais um detalhe que foi passado: o que mais deixou indignado o dono do veículo é que não houve dano algum ao sistema de tração do carro e a bateria de alta voltagem. Por isso, não entendia o motivo do valor de reparo ser tão alto.
Ora, se em uma colisão frontal que só causou danos na lataria e não atingiu os sistemas mais caros do carro, imagino que regularizando a quantidade de peças em estoque o problema do custo de reparo seria sanado. As montadoras precisam colaborar nesse quesito enquanto não tivermos fornecedores nacionais.
Imagino que não seja tão simples assim aumentar ainda as peças de funilaria para eventuais reparos, sendo que a própria montagem de veículos está consumindo ainda mais com o aumento de demanda.
Como dito no texto da semana passada, a alta demanda acabará trazendo um efeito de aumento antes da regularização da oferta. Como pudemos observar, esse efeito também refletirá nos reparos dos veículos vendidos anteriormente. É, literalmente, o preço que pagamos por sermos inovadores.
Caramba, parece que é uma furada ter carro elétrico. Negativo, mesmo com o preço de aquisição, seguro, IPVA (quando cobrado) e manutenção serem mais caros, os benefícios são tão maiores que ainda sim justifica-se facilmente a aquisição. Todavia, é responsabilidade minha trazer todos os pontos sobre a mobilidade elétrica, tanto positivos, quanto negativos.
Então, meu caro leitor, não julguemos os veículos elétricos como sendo carros de manutenção cara. O sistema elétrico provavelmente será o último a sofrer algum dano. Antes disso, lá se foi para-choque, para-lama, porta e tudo mais que o carro tem de funilaria.
Até mais.