Apesar de novos, prédios são inaugurados com mentalidade do passado
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Apesar de novos, prédios são inaugurados com mentalidade do passado

Fala, galera. Beleza? Gostaria de trazer uma reflexão sobre os pontos de carregamento em condomínios na cidade de São Paulo. O então prefeito Bruno Covas sancionou a lei 17.336, de 30 de março de 2020, que dispõe sobre a obrigatoriedade da previsão de solução para carregamento de veículos elétricos em edifícios (condomínios) residenciais e comerciais.

Considero uma atitude positiva da prefeitura, considerando que a cidade se prepara para atender uma demanda cada vez mais crescente e certa nos próximos anos. O problema é a questão temporal. A lei considera como marco a data do protocolo do projeto na prefeitura. Todos aqueles apresentados desde 30 de março de 2020, com exceção daqueles com finalidade social, se enquadram na lei.

A questão é que, desde o protocolo do projeto até o efetivo lançamento e o término da obra já se passaram muitos anos.

Muito provavelmente, os condomínios que serão entregues neste e no próximo ano tiveram o protocolo feito antes de 2020. Como estava eu conversando com minha esposa, projetar um condomínio é um exercício de futurologia. Você planeja um imóvel hoje para atender as necessidades e ansiedades de um cliente que começará a ocupar esse imóvel daqui uns 5 ou 6 anos. E ainda mais, essa construção deverá atender suas necessidades por muitos anos à frente.

De certa forma, já temos uma situação pacífica para os novos projetos e para os velhos edifícios em relação à mobilidade elétrica. O projeto novo terá obrigatoriamente que oferecer a solução, os edifícios existentes poderão se adequar conforme necessidade dos proprietários. Eu vejo como maior paradigma é o imóvel novo que já será entregue defasado em sua oferta de equipamentos.

Então vamos avaliar o seguinte: todo o projeto possui um memorial descritivo que define os equipamentos constantes no empreendimento. Todavia, nada impede que a construtora faça alterações para contemplar melhorias na proposta inicial.

Claro que propor alterações arquitetônicas e na infraestrutura elétrica gerará custo adicional para a obra. Mas realizar a alteração após a entrega do empreendimento, além de ser ainda mais caro, terá de contar com burocracia de aprovação em assembleia da maioria dos proprietários.

Não sou arquiteto, engenheiro e muito menos trabalho em construtora. Entretanto, como cliente, entendo que deveria ser um exercício comum do ramo da construção civil acompanhar tendências, mesmo durante a obra, para que pudesse ser entregue o imóvel mais atualizado possível dentro da previsibilidade de tendências.

Vejam, mesmo os projetos de imóveis lançados em 2020 não poderiam prever o crescimento da frota de veículos eletrificados na cidade de São Paulo. Ainda há um pequeno detalhe: quando falamos em condomínios, provavelmente a primeira coisa que vem à mente é o empreendimento residencial. Todavia, a lei também abrange os corporativos. Logo, até mesmo os edifícios comerciais terão de se adaptar.

Ainda mais porque, devido à tendência de público rotativo, a probabilidade de o estacionamento receber veículos elétricos é muito maior do que um condomínio residencial. Digo mais, a mudança do perfil de veículos que estacionam em um prédio comercial é bem mais rápida do que as trocas em um condomínio residencial.

Se, em 2020, a construtora considerava a possibilidade de colocar na garagem um simples carregador sem necessidade de conexão, hoje já é preocupação instalar 10 carregadores conectados, com possibilidade de tarifação e gestão de demanda de energia.

O perfil de clientes de hoje em dia também deseja que as construtoras sejam tão inovadoras para promover a evolução durante a obra de seus empreendimentos quanto foram no dia que projetaram os mesmos. As necessidades dos consumidores já não são as mesmas de há alguns anos atrás.

Uma simples alteração no projeto prevendo a solução de carregamento pode garantir mais algumas vendas durante a obra e uma bela redução de dor de cabeça para o novo condomínio que será constituído.

Se você ainda não está convencido de que é necessária essa mudança, vamos para os fatos: A frota de veículos eletrificados no Brasil já é de 0,04% da frota nacional, e com o potencial de atingir 3% nos próximos anos.

Imagino que esteja me considerando exagerado, Mas você acha pouco 3% de veículos em uma garagem? Meu condomínio possui 400 vagas, o que significa que, em poucos anos, meu prédio terá 12 veículos elétricos. Esse número pode ser ainda maior de acordo com o valor aquisitivo da região que o edifício se encontra.

Não precisa nem ser um residencial de luxo, visto que nas grandes metrópoles, boa parte dos veículos elétricos está nas mãos de motoristas de App. Significa que mesmo os novos empreendimentos em regiões mais populares precisarão se adequar à nova frota brasileira.

Imaginem que teremos diversos empreendimentos entregues nos próximos anos com valores médios de R$ 1 milhão por unidade. Seria muita inocência imaginar que não terá pelos menos dois ou três veículos elétricos em suas garagens. Da mesma forma, condomínios corporativos com três ou quatro andares de estacionamento e nenhum visitante querendo carregar?

Mesmo com a obra próxima da conclusão, seria muito mais simples para a construtora preparar uma determinada área com a infraestrutura correta para instalação de carregadores de veículos elétricos já prevendo a demanda de energia e também a finalidade das vagas no estacionamento.

Acreditem, a mudança de finalidade de uma vaga em estacionamento residencial pode ser muito mais complicada que a instalação de um carregador. O aparelho pode ser considerado uma melhoria para o condomínio sem a necessidade de aprovação em assembleia se não exigir deliberação de orçamento, mas a mudança de finalidade de uma área comum exige aprovação de dois terços dos proprietários. Vejam a dor de cabeça que podemos ter já nas primeiras assembleias de um novo condomínio.

Para concluir minha ponderação, deixo uma sugestão para as construtoras destes prédios em obra: atualizem-se e surpreendam seus clientes, mostrem que estão acompanhando as necessidades deles, mesmo que as vendas já estejam garantidas.

 Até mais.

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