Fala, galera. Beleza? Dessa vez quero colocar o dedo na ferida dos veículos elétricos. Mostrar que nem tudo são flores e precisamos reconhecer os pontos que devem ser melhorados para evoluirmos. Se você acha que o problema é a vida útil da bateria, precisa estudar um pouco mais. Se pensou na autonomia, passou raspando, mas ainda não acertou.
O problema que gostaria de apontar é a capacidade de acúmulo de energia nos veículos a bateria (BEV). Inclusive, o controverso PBEV permitiu criarmos alguns comparativos entre os veículos elétricos e a combustão bem interessantes de forma prática para avaliarmos lado a lado.
Primeiramente, precisamos entender que o que move nossos veículos não é eletricidade ou gasolina, mas a energia. A diferença é que nos carros elétricos a energia é acumulada na eletricidade e, nos outros, na queima do combustível.
Meio óbvio, né? Talvez não, pois eu mesmo nunca parei para avaliar por essa ótica. Creio que o assunto é um pouco mais técnico, mas tentarei explicar da forma mais clara possível. Para começar, é necessário que a unidade de medida que usamos para medir a quantidade de eletricidade é kWh (quilowatts hora), o combustível é medido em l (litros) e a energia é medida em MJ (mega joules).
Cada kWh na bateria contém 3,6 MJ de energia. Enquanto isso, 1 litro de gasolina possui em média 27,9 MJ e 1 litro de etanol possui 20 MJ. Até mesmo por isso que dizemos que a eficiência do etanol é de 70% em relação à gasolina.
Agora trazendo essa informação para o mundo real, o JAC E-JS4 com uma bateria de 55 kWh consegue acumular 198 MJ, enquanto o Jeep Compass Limited 1.3 com um tanque de 60 l consegue acumular 1.740 MJ com gasolina ou 1200 MJ com etanol. Esse é o motivo da diferença de autonomia entre dois veículos de porte semelhante. É uma diferença de 8,78 vezes entre a eletricidade do JAC E-JS4 e o Jeep Compass na gasolina.
Ah, então não vale a pena ter carro elétrico? Olha a diferença entre ambos... Calma, gafanhoto, você ainda precisa aprender mais algumas coisas. Agora vamos falar da eficiência energética.
Continuando com os dois exemplos citados anteriormente, o JAC E-JS4 possui um consumo de 0,60 MJ/km enquanto o Jeep Compass possui 1,96 MJ/km. A diferença é de 3,26 vezes a favor do veículo elétrico. Isso sem considerar que o motor elétrico pode fazer uma proeza que o motor à combustão não consegue: recuperar energia.
Ah, mas os motores à combustão também recarregam as baterias de 12v e as baterias de alta voltagem nos veículos híbridos. Na verdade, não. Nestes casos, os motores à combustão convertem um tipo de energia em outra e com perda de energia que se transforma em calor. Na melhor das hipóteses, o motor à combustão tem a melhor performance com o carro desligado e parado.
De certa forma, os motores elétricos também fazem essa conversão de energia. A diferença é que eles usam cinética enquanto os veículos à combustão precisam gastar energia potencial acumulada no combustível e transformar em eletricidade. Enquanto um recebe a energia de fonte externa, o outro gasta a própria energia.
Ainda tem um detalhe muito importante que precisamos citar: Os motores elétricos apresentam uma eficiência energética superior por que perde-se muito menos energia em forma de calor. Enquanto um motor elétrico perde em média 5% da sua energia, o motor à combustão consegue aproveitar apenas entre 30% e 40%.
Dos 29 MJ/l de gasolina, apenas 11,6 MJ realmente serão aproveitados para movimentar o veículo. Ainda temos que considerar que haverá mais perda até a força mecânica chegar às rodas e precisamos lembrar que haverá o desperdício de energia enquanto você estiver parado no semáforo.
Depois de esclarecer (ou pelo menos tentar), precisamos reconhecer que a massa necessária para acumular energia elétrica atualmente é maior do que se fossemos acumular a mesma quantidade de energia em combustível.
Esse é o motivo de termos autonomias maiores nos veículos à combustão que nos veículos elétricos, pelo menos por enquanto. Para se ter uma ideia, o pack de baterias utilizado pelo JAC E-JS4 pesa em torno de 393 kg, que daria 1 MJ a cada 1,984 kg de bateria. Em comparação com a gasolina, a cada MJ você precisa de aproximadamente 0,217 kg (praticamente um pacote de mortadela).
Poxa, então como ainda podemos dizer que o carro elétrico é melhor? Pelo simples fato de ser mais eficiente. Outro detalhe importante: a evolução das baterias de alta voltagem é constante. Não somente para permitir cargas mais rápidas e ampliar sua vida útil, como também para aumentar sua capacidade de armazenamento a cada kg de bateria.
Tanto os avanços em relação à química utilizada nas células quanto o empacotamento e arranjo das células estão permitindo a redução do peso do pack de baterias. A CATL, principal fornecedora de bateria de alta voltagem, desenvolveu uma bateria que proporciona o acúmulo de 0,954 MJ para cada kg de bateria. Isso significa quase o dobro de energia acumulada por kg de bateria.
Imagine que seria o dobro de autonomia para um veículo elétrico sem aumentar 1 kg a mais em seu peso atual. Além disso, a bateria desenvolvida pela CATL, permite o carregamento de 80% em apenas 5 minutos. Praticamente o mesmo tempo que o abastecimento dos carros à combustão.
Semelhante a CATL, temos diversas empresas e universidades que pesquisam novos projetos para redução de massa, acúmulo maior de energia, maior resistência a variações de temperatura, ampliação de vida útil e uso de elementos mais abundantes na natureza. Trata-se de uma evolução constante com longo e promissor caminho à frente.
Detalhe, nem entrei no mérito do custo de produção e distribuição da energia elétrica em comparação aos combustíveis fósseis ou mesmo biocombustíveis. Como disse algumas vezes, não há nada mais democrático que a energia elétrica com suas inúmeras aplicabilidades e formas de geração.
Sendo assim, meu caro colega, acredito que ficou claro que a eficiência energética dos motores elétricos é muito superior e o principal problema do veículo elétrico, que é o armazenamento de energia, já está se tornando um problema do passado.
Até mais.