Carro bloqueou faixa do túnel do Vale do Anhangabaú, em São Paulo
Thiago Garcia
Carro bloqueou faixa do túnel do Vale do Anhangabaú, em São Paulo

Fala, galera. Beleza? Quero começar este texto com um pequeno desabafo sobre o atendimento aos clientes de veículos elétricos no Brasil. Fui socorrer um amigo na semana passada que passou por uma situação bem complicada e quero utilizar como início de conversa.

Recebi a ligação no início da tarde e atendi com a frase “oi, tudo bem?”, mas recebi como resposta inicial um “Cara...” Quando começa assim, já sei que vem problema. Resumindo, meu amigo disse que o carro estava travado e não conseguia tirar o veículo da faixa da direita, bem no túnel Anhangabaú, em São Paulo. Quem conhece São Paulo, sabe o problema que ele se meteu.

Saí de casa para o resgate e, quando cheguei ao local, entendi que o problema era que o carro havia utilizado toda a bateria de tração. “Ah, mas aí é só empurrar e chamar o guincho.” Antes fosse, pequeno gafanhoto. Neste caso, o veículo em questão trava no parking para proteger a bateria. Eu até conseguia soltar o freio de estacionamento, mas as rodas dianteiras continuavam travadas.

Sugeri para meu amigo que seguisse para o compromisso dele e eu cuidaria da remoção do veículo até um local seguro. Mesmo estando no centro de São Paulo, demorei horas para conseguir retirar o carro do túnel. Todavia, não foi por falta de guincho. Perdi a conta de quantos guinchos pararam (muitos mais passaram reto) na tentativa de ajudar. Acionei até a CET para tentar remover da pista, mas todos sem sucesso.

O problema foi exatamente o bendito parking travado por conta do projeto do veículo para proteger a bateria em caso de nível crítico. Nenhum dos guinchos que pararam tinham os abençoados patins, que conseguiriam tirar o carro do lugar. Depois de passar a tarde inteira aguardando um guincho com o equipamento necessário, consegui remover.

Mas, pasmem, não foi com o socorro da seguradora. Foi com a ajuda dos céus. Após horas ligando e desligando o carro, fiz uma pequena oração: “Deus, me ajude a tirar esse carro da pista”. Milagre realizado, consegui energia suficiente para o carro andar até o acostamento do túnel. Isso sim que é andar pela fé.

Trânsito liberado, foi só aguardar o veículo da seguradora (que tinha os ditos patins) para nos resgatar. Imagino que agora você deve estar pensando que tudo isso poderia ter sido evitado se tivesse parado para carregar. Não foi por falta de tentativa. Meu amigo tentou por diversas vezes carregar. “Então a infraestrutura de carregamento no Brasil não dá segurança para o usuário?”. Também não é bem assim. Pelos relatos dele, aparentemente era o carro que apresentou alguma anomalia e por isso foi direcionado para a concessionária.

O que eu quero dizer é que os veículos elétricos possuem algumas particularidades que demandam atenção das seguradoras para atender aos motoristas eletrificados. São poucos os socorristas que já tiveram contato ou mesmo orientação sobre como atender a um veículo elétrico.

Para se ter ideia, há um procedimento que poderia ser adotado para liberar o parking deste carro manualmente, mas necessita de uma pequena chave e conhecimento prévio para realizar. O conhecimento eu adquiri, a chave não. Ainda bem que o Divino tinha essa chave.

Não são poucos os casos de colegas que ficam na beira da estrada por falta de suporte (aí sim falo de infraestrutura de carregamento) e precisam de um guincho para completar o trajeto até o ponto de recarga mais próximo. Sabendo que boa parte das chamadas de veículos elétricos acontecem por falta de energia, por que não equipar os guinchos ou veículos operacionais com um carregador embarcado? Um dos objetivos da concessão de rodovias é garantir suporte para uma viagem segura para todos os usuários, mas os usuários de carro elétrico contam com pouco apoio. Já existe esse serviço nos Estados Unidos, no Reino Unido e na Austrália. Não seria algo tão absurdo para implantação no Brasil.

Mas antes que venham criticar os carros elétricos e sua autonomia, já precisei atender a corrida de um casal que acabara de deixar um táxi que ficou sem combustível, bem na região central de São Paulo. O que eu quero dizer com o texto desta semana é que já temos o desenvolvimento da infraestrutura de carregamento avançando e oficinas mecânicas se especializando. Quando teremos um suporte adequado para o socorro a estes veículos?

Fica a dica para as seguradoras, concessionárias de rodovias e empresas prestadoras de socorro. Carro elétrico não é coisa de outro mundo (apesar do som espaçonave), mas precisa de um toque de inovação e  treinamento básico para os socorristas para conseguirem atender de forma apropriada.

Até mais.



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