Nissan Kicks chega só na versão topo de linha por R$ 89.990
Aceleramos o Nissan Kicks, crossover criado no Brasil e que virá do México apenas na versão mais cara. Modelo nacional fica para 2017
Não é pouca coisa falar que o Nissan Kicks é um dos lançamentos mais esperados do ano. É um produto global da Nissan criado aqui no Brasil, pensando no gosto do brasileiro, e que só depois será levado para o resto do mundo. Era tão esperado que fica estranho falar que ele chega às lojas no dia 5 de agosto apenas em uma versão, a topo de linha SL, por R$ 89.990, e importada do México.
Presa às decisões da matriz, a Nissan Brasil não pode fazer muito para acelerar a produção na fábrica em Resende (RJ), ao lado do March e Versa . Como é o carro de imagem da marca nas Olimpíadas, ele tinha que aproveitar o momento de alguma forma. Veio a decisão do México de montar as primeiras unidades, todas enviadas para cá. Enquanto isso, esperam os executivos no Japão darem o sinal verde para a fabricação nacional.
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O Nissan Kicks nasceu da ideia de ter um crossover compacto brasileiro, afastando-se do modelo que é oferecido na Europa, o Juke . “O resposta positiva ao conceito mostrado no Salão do Automóvel de 2014 foi tão boa que acendeu uma luz na cabeça do pessoal no Japão”, explica uma fonte. Eles tinham um produto de apelo em um segmento que só cresce no mundo todo.
Sempre perdemos um pouco das linhas dos conceitos, mas isso não significa que o Nissan Kicks tenha ficado sem graça. Foi um dos primeiros a adotar a assinatura de design da marca, o V-Motion, uma linha em V que sai da grade e passa por todo o capô através de vincos. Uma solução que tirou um pouco daquela sensação altamente sóbria dos outros modelos da marca e, aos poucos, foi renovando toda sua linha, como já vimos no Sentra renovado .
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Entra em um segmento bem disputado. Medindo 4,29 metros de comprimento, tem tamanho semelhante ao Honda HR-V , mas é maior que os 4,23 metros do Jeep Renegade . O mesmo acontece com o entre-eixos: 2,61 metros para o Nissan Kicks e o HR-V , enquanto o Renegade tem 2,57 m. O crossover da Nissan perde no porta-malas, de 432 litros, cinco a menos que o rival da Honda (mas muito maior que os 260 litros do Jeep ).
Como, neste primeiro momento, vem apenas na versão mais completa SL, podemos ver alguns acertos e falhas do Nissan Kicks . Há muitas coisas boas, como o sistema de visão em 360°, com o uso de quatro câmeras (uma em cada espelho lateral, uma na grade frontal e outra na tampa do porta-malas). “Quem dirige no Rio de Janeiro já viu como tem gente que para longe da guia. Esse sistema vai ajudar a evitar esses casos”, afirma Maurício Aguiar, gerente regional de produto.
É equipado com seis airbags (frontais, laterais e cortina), controle de tração e estabilidade, assistente de partida em rampa, direção elétrica, partida por botão, acendimento automático dos faróis, ar-condicionado digital, acabamento com materiais soft-touch, rodas de liga leve 17” com pneus 205/55 R17, tela TFT de 7 polegadas no painel de instrumentos, central multimídia com tela touchscreen de 7” com navegação por GPS, volante multifuncional e os bancos de couro com tecnologia Zero Gravity, desenvolvidos em parceria com a NASA.
O que irá assustar muitos clientes é o fato do Nissan Kicks utilizar apenas o motor 1.6. É uma versão melhorada do mesmo motor usado no March e Versa , agora gerando 114 cv e 15,5 kgfm, tanto com etanol quanto com gasolina. O fato de ser leve ajuda muito: pesa 1.142 kg, apenas 192 kg a mais do que o March . Em comparação, o HR-V pesa 1.265 kg e o Renegade pesa 1.393 kg – todos em ordem de marcha, ou seja, sem considerar ocupantes ou bagagem.
Nessa versão SL, trabalha apenas com o câmbio Xtronic CVT. De acordo com a marca, é uma nova geração da transmissão, agora com um sistema chamado D-Step, simulando trocas de marcha somente quando o acelerador é pisado a fundo – sem fixar sete estágios, como a Toyota fez com o Corolla . Acelerações menores continuam a trabalhar como qualquer CVT, voltado para o conforto.
Chute certeiro ou bola fora?
O primeiro contato com o Nissan Kicks foi em uma viagem de São Paulo até Porto Feliz, no interior do estado. O trajeto escolhido foi pela Rodovia Bandeirantes, com um asfalto mais regular e cheio de retas. Enquanto meu colega dirigia, aproveitei para estudar o carro. Os materiais do acabamento são ótimos, agradáveis ao toque. Os bancos são confortáveis, ao mesmo tempo em que tem uma boa pegada, mantendo o corpo no lugar.
Quando tentamos ultrapassar alguns carros a mais de 100 km/h, o Nissan Kicks spedia um pouco mais de fôlego, embora não tanto quanto um 1.0. Ficamos procurando pela função Sport do câmbio CVT, para encontrar o botão bem depois, escondido embaixo da manopla do lado oposto ao botão que libera a troca do câmbio – dê uma olhada na foto acima. Pela imagem, parece óbvio, mas ele ficará fora do ângulo de visão quando sentamos para dirigir.
Fui mexer na central multimídia e veio uma das decepções. O ótimo sistema MultiApp do March e Versa ficaram de fora do Nissan Kicks . Perguntando depois aos executivos, me disseram que é uma questão de estratégia, mantendo a central mais completa para os modelos de entrada por terem estreado nelas, para continuar com algum apelo. Por isso, o crossover ficou com o sistema mais antigo, usado no Sentra . Não é ruim, mas não conta com espelhamento de celular ou aplicativos. Depois de usar o Waze direto na central do carro, fica difícil voltar para um GPS comum.
Na volta para São Paulo, foi minha vez de dirigir. O volante é tem boa empunhadura, melhor do que muitos outros carros da Nissan . Enquanto andava a 30 km/h dentro do condomínio onde fizemos a parada para almoço, acionei no computador de bordo. Fornece muitas informações, mas fica estranho ter que escolher entre o conta-giros e as instruções do GPS. Poderiam ter usado o espaço central, que fica apenas mostrando a marcha.
Usar a tela no painel de instrumentos tem outro problema. Dependendo de como o sol estiver batendo, as informações vão sumir da sua visão, dificuldade que não apareceu em outros carros que utilizam displays semelhantes como Audi A4 ou Ford Ranger . Ainda bem que a Nissan decidiu manter o velocímetro analógico, minimizando o problema de leitura causado pelo ofuscamento.
A volta foi pela Rodovia Castelo Branco, ainda mais reta do que a Bandeirantes. Sem poder fazer muitas curvas, me foquei em retomadas e ultrapassagens. O motor 1.6 não é o ideal, mas também não faz feio. Até 100 km/h, é muito competente. Acima disso, começa a perder fôlego, mesmo usando a função Sport e com o carro basicamente vazio. Em uma viagem, pode se mostrar menos ágil. Teremos que conferir isso em um teste mais longo.
A Nissan sabe ajustar um câmbio CVT e o Kicks é a prova disso. Suave em baixa aceleração, começa a gritar um pouco mais quando pisamos fundo, mas sempre bem linear. O consumo ficou dentro do esperado: 13,9 km/l com gasolina em um trajeto rodoviário. O Inmetro diz que ele faz 13,7 km/l na estrada e 9,6 km/l na cidade, com gasolina, e 11,4 km/l na estrada e 8,1 km/l na cidade, com etanol.
De volta à São Paulo, pude ver a verdadeira vocação do Nissan Kicks . Em uma cidade em que a velocidade máxima é de 70 km/h, o crossover é bem mais esperto. Parece mais um hatchback do que um utilitário, mostrando que é uma escolha mais interessante para quem vai ficar a maior parte do tempo dentro da cidade, viajando pouco. Mas merecia o motor 2.0 do Sentra , para fazer bonito também nas estradas.
Não vai ficar mais barato?
Sejamos francos: R$ 89.990 é muito por um SUV e, quem quiser um Nissan Kicks agora, está preso a este valor. As versões mais em conta ficam para o ano que vem, depois que começar a produção nacional, quando devem aparecer configurações por até R$ 70 mil e com câmbio manual. Até lá, a Nissan tem que trabalhar com a cota de importação do México, trazendo apenas os modelos mais equipados.